terça-feira, 5 de maio de 2015

Ando com medo da morte


Ainda em janeiro, estava eu em lhabela quando recebo a notícia da morte prematura de Canek Guevara. Sim, com esse sobrenome, ele era neto de Che e deixou o nosso plano aos 40 anos. Estava com a amiga Ana Paula Galvão quando esse mundo despencou em minha cabeça.

Canek Guevara tinha uma composição com Bruno Morais e eu, mas dessas bizarrices de dias atuais, eu nunca conversei com ele presencialmente. Nunca escutei sua voz, mas tenho tudo registrado pelos meios digitais. Com minha mãe é exatamente o contrário. Nunca troquei uma única palavra com ela pelos computadores. Isso é muito louco, mas o que me incomoda na morte é a interrupção. Se não falei com ele, já não falaria nunca mais.

Ando com medo de morrer, mas corro com medo de morrer também. Isso por que corro distâncias relativamente grandes, então é comum sair de casa de noite para correr e passam-se minutos, as vezes horas de completa solidão e o mundo passando em minha cabeça. Uma delas: E se eu passo mal? E se eu apago aqui? E se eu entro em processo de interrupção contínua com o resto das pessoas que conheço? Isso é o que realmente me angustia.

Amigos, amores, colegas de trabalho. Relações que desandam e que muitas vezes não fazemos força para reverter com a sensação de que pode ser depois esse nó desfeito e daí vem a morte e encerra tudo. Tenho sim minhas pendências emocionais dos quais fujo para não resolver, por isso tenho tido uma vontade pelo menos de zelar pelos que me cercam. Seja ele quem for.

Semana passada quando saia para correr, um dos porteiros noturnos do prédio me avisam que Diego havia falecido. Um dos porteiros diurnos. Super novo. 49 anos, mas estava instaurada a interrupção contínua entre uma pessoa e eu outra vez. 

Ele que tanto quis fotografar no meu projeto intitulado Red Zone (visto que um dos porteiros já havia sido e pretendo desde que queiram, fotografar cada um). Eu só posso pensar sobre esse meu medo da morte de ser descuidado para com quem me rodeia. A Red Zone virou quase um café filosófico. Uma busca de sentido da vida não é mesmo Rafael Andrade? E um aprendizado. Sinto que A leveza que tenho pregado como uma filosofia pessoal minha já se encontra incompleta Marina Stoler.

Hoje eu penso em "Leveza e fluidez", afinal se pode ser leve e não fluido. Se pode ser fluido e não leve. Talvez uma hora eu escreva sobre isso. Por hora, deixa eu ir viver, afinal, ando com medo de morrer...