terça-feira, 31 de maio de 2011

Jethro Tull








Comumente citado como uma banda de rock progressivo, o Jethro Tull é fechado em um rótulo que pode afastar um novo ouvinte. Antes do clássico Aqualung, que é tido como um disco obrigatório em qualquer enciclopédia do rock, a banda lançou 3 discos (This Was, Stand Up e Benefit), além de um single (Jethro Toe). Falar de um clássico como Aqualung é "chover no molhado". E embora ache Stand Up um dos melhores álbuns do final dos anos 60, quero falar de Benefit que muito me influenciou, abrindo-me perspectivas ao rock, mostrando-me uma até então impensável flauta nesse cenário, além de inúmeras influências que passam pela banda.

Em outras palavras. Para quem não conhece e não quer ser levada por "chavões" de uma banda progressiva e também não quer conhecer uma banda por seus trabalhos mais conhecidos, vai aí o meu raio-x de Benefit. O terceiro álbum da banda.


1. With You There To Help Me: Flauta, seu tradicional efeito vocal, violão de aço e piano abrem o disco em uma composição em 3/4. Embora baixo e  bateria entre logo nos primeiros segundos, a tradicional guitarra aparece apenas aos 59 segundos. Se você ouvir no fone, percebe-se uma voz em cada canal, dobrada pelo mago da flauta.


2. Nothing To Say: Um riff dobrado abre a canção, mas estão ali presentes novamente os violões, piano. Agora estão eles no 4/4 e sem a flauta para quem acha que eles são apenas flauta no meio do rock.


3. Inside: A flauta volta permeada pelo timbre único de voz de Ian Anderson. O jogo de instrumentos por canais diferentes é novamente presenciada e por isso prefiro ouvir com os ditos fones. Para quem gosta dos baixistas que usam mais do que as simples tônicas, vale uma audição percebendo uma melodia paralela desenvolvida nessa música.


4. Son: Se o título te sugere uma experiência diferente, essa é aberta com o ar mais rockeiro do disco. A música tem apenas 2:52 e tem tempo o suficiente para ter um "fade out" (aquele efeito do som abaixando) e a música entrar com uma timbragem que te remete aos tempos medievais e volta ao rock n'roll sem forçar a barra e parecendo colagem como vemos com muito costume. Seu final também é uma surpresa. Pouco tempo para tantas por sinal.


5. For Michael Collins, Jeffrey and Me: Uma introdução das mais emotivas do disco e você pode se enganar de que vai ouvir uma baladinha melosa. A canção se desenvolve com novas partes e dinâmicas que o fazem até esquecer que está na mesma música, mas eles estavam afiados e eles conseguem retornar ao clima inicial e finalizam fazendo você pensar em uma rede gostosa para deitar.


6. To Cry You a Song: Compete com Son na sonoridade, mas tem uma introdução bem mais sutil com o "fade in" (aquele outro subindo). Riff's e dobras tornam essa a música mais progressiva do disco. As novidades no entanto acontece com um solo de guitarra simultâneo de guitarra (um para cada canal) que não briga entre si. Experiências sonoras que podem ser a coisa mais comum do mundo hoje, mas não ali em 1970. 


7.A Time For Everything: A essa altura, a introdução dessa música já não mais será inesperado. Prestem atenção no diálogo entre a melodia principal e o restante da banda. O guitarrista chega a não tocar um único acorde na música, mas destrincha novos caminhos melódicos. Dessa vez no entanto, você vai me odiar por falar nos fones. As experiências e vanguardas da banda mostram um harmônico saturado na guitarra com 1:20 de música e por 10 segundos eles perturbam e muito o seu ouvido.


8. Teacher: Uma das canções mais "canções" do disco, mas que que se desenvolve com timbragens, e passagens que comumente são caracterizados como progressivo, mas que não consigo encontrar semelhança entre eles e Yes ou Rush por exemplo.


9. Play In Time: A essa altura, o ouvinte mais atencioso já deve ter percebido que o vocalista sempre manda sussuros, gritos ou outros recursos sonoros entre as notas tocadas. Ela está explícita na introdução, mas a novidade fica a cargo do efeito de guitarra ao contrário que ocorre com 1:05 imortalizado por Hendrix. Eles chegam ao auge por volta de 2:32 e usando um recurso de "trade" mais comum ao jazz.


10. Sossity: You're a Woman: Talvez a minha música preferida do disco. Orgão e violão dobram uma melodia inicial que fica com voz e violão alguns segundos depois. O ar de trovadores medievais aparece em tal violão por sinal. O refrão que aparece pela primeira vez com 1:47 simplesmente não sai de minha cabeça e apenas a flauta e uma panderola é inserida. Ela por sinal termina com um ar que fica entre o erudito e o flamenco.


Já foi dito que nada se cria e tudo se copia. Minhas misturas eruditas começaram daí...


Que tal uma chance aos veteranos? Experimente escutar ele ao menos 3 vezes para ter certeza de que não há nada que você se interesse por ali...


Penso que muita gente ainda pode se apaixonar por um disco que adoro.






É apenas o que eu acho...








domingo, 15 de maio de 2011

Churrascão da gente diferenciada II

Sábado, 14 de maio de 2011.
14:00h em frente ao shopping Higienópolis. A "famosa meia-dúzia de gatos pingados" apontavam para um fracasso no dito churrasco que nasceu de forma viral na internet. A imprensa encontrava-se de forma massiva para relatar o fiasco. No entanto aos poucos foram chegando pessoas, um grupo de ciclistas, um bloco improvisado, transeuntes paravam e o evento foi crescendo. Não vi um único incidente e o típico humor brasileiro para protestar.


Ao contrário do que muito se imagina, vários moradores de Higienópolis apoiaram o movimento e reinvidicavam a presença do metrô. Cartazes como o da foto e outros do gênero eram visto por toda parte e mesmo uma petição reivindicando a estação já no endereço do mercado que seria desabilitado com cerca de 2 mil pessoas. A questão é que parece que as coisas tomaram proporções descabidas e extremistas. Primeiro analisemos o fato de que os moradores da região foram atrás de seus direitos. Penso que a questão é apenas (apenas?) uma questão de cidadania. Um estudo mostra que cerca de 27 mil pessoas seriam beneficiadas por dia com tal estação. Isso seria o suficiente para sobrepor-se à vontade dos 3.500 habitantes que assinaram a petição? Afastar 300 metros a estação, vai mudar tanta coisa assim? 

Pode-se formular muitos outros questionamentos a respeito. Vi uma judia a favor do metrô e reclamando que agora sentia o preconceito das pessoas. Infelizmente, parece que virou uma guerra dos proletários contra os senhores feudais. Isso em pleno ano 2011. Sem contar na possibilidade que a estação possa voltar a ser onde era, apenas para que não se perca muito mais votos do que vai-se perder se as alterações forem mantidas.

Existe rumores de que semana que vem o churrasco tenha uma continuidade. Quem quer pelo metrô, que procure a tal petição e assine-a, assim como quem não quer, assine contra a estação. Qualquer coisa além disso, é um mero exagero e massa de manobra para a politicagem brasileira.


É apenas o que eu acho...

sábado, 14 de maio de 2011

Churrascão da gente diferenciada



Tudo é preconceito e entendo isso muito bem por que sou ser humano e tenho que aparar sempre as arestas do preconceito quando esse surge em minha vida. Esse preconceito pode ser meramente sutil e beirando o imperceptível como chamar um grupo de amigos para frequentar um restaurante onde alguém com menos condições não possa ir. Exclui-se alguém com toda a classe do mundo. No livro  "A lei do triunfo"de Napoleon Hill, ele diz que o ser humano não vence mais o próximo pela força física, mas pela conta bancária. Isso é o que parece estar acontecendo para a maioria das pessoas com a polêmica do metrô em Higienópolis.  Vale ressaltas aos manifestantes que expressaram preconceito contra os judeus moradores do bairro, que isso é tão preconceituoso quanto aqueles que assinaram a petição contra o metrô. 

Com mais de 55 mil pessoas confirmando presença ao "Churrascão da gente diferenciada", conseguiu-se que o Ministério Público investigasse as intenções por trás do cancelamento da estação de metrô na Avenida Angélica e até um pronunciamento oficial do governador Geraldo Alckmin. Os moradores de Higienópolis estão tensos com a repercussão e podem ter criado uma situação semelhante ao ocorrido no shopping Frei Caneca e o preconceito contra homossexuais. O local passou a ser referência da liberdade de expressão. Imaginem se essa concentração se torna um encontro semanal como na Benedito Calixto!

Um amigo meu no entanto me fez pensar que eles tem sim o direito de não querer um metrô ali e convenhamos, lógico que tem tal direito. Assim como eu poderia ter uma casa em um local que deveria ser desapropriado para beneficiar um maio número de pessoas, logo, mesmo tendo eu o direito de não querer sair, sairia para beneficiar o maior número de pessoas. Penso que a questão passa então se a estação de metrô ali beneficia um maior número de gente ou não, senão voltamos a idade média onde vencia-se pela força.

Uma manifestação pública foi marcada nesse sábado, 14 de maio, a partir de 14:00h em frente ao shopping Higienópolis, com concentração na Praça Vilaboim, na av. Angélica, 618.
Acho importante ponderar para que o local é estreito e se for a metade das pessoas, poderá apenas justificar o ato dos moradores do bairro em questão. Como qualquer manifestação pública, ela é válida, mas tem que ser feita com consciência. Todos devem inclusive se preocupar com o lixo gerado por tamanha aglomeração. Consciência antes de tudo.



É apenas o que eu acho...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Frankenstein


Engraçado como a imagem da criatura conhecida como Frankenstein quase nunca é relacionada à literatura e pela minha experiência pessoal, entendo completamente. Quando pequeno, recordo-me de sua imagem associada ao seriado Família Adams. Mesmo em um ambiente de humor, ele tinha o ar mais horripilante da trupe e logo fiquei sabendo que haviam filmes de terror com o tal gigante. Associar nosso personagem ao mundo do terror, embora completamente compreensível, é limitar-se erroneamente com o trabalho de Mary Shelley. O título original é Frankenstein ou o Moderno Prometeu. Frankenstein como ficou conhecido começa realmente a tomar outras proporções em minha cabeça com o filme: Frankenstein de Mary Shelley. Filme de 1994 com Um irreconhecível e magnífico Robert de Niro no papel principal. Massacrado pela crítica na época, ele me fez ver um romance com claras inspirações góticas que era uma espécie de vanguarda quando escrito, mas algo de profunda sensibilidade, questionamentos e filosofia para quem estivesse disposto a romper a barreira da feiura da criatura em um primeiro momento.

O filme não mostrou-me um filme de terror como esperava. Era tão diferente do que eu esperava que acreditei que o Frankenstein de Mary Shelley era a adaptação dessa desconhecida criatura para mim até então. Fui então em busca da origem de tal criatura e soube que ela a autora original. O escreveu com apenas 19 anos e que todos os outros é que eram versões dela. Pouco tempo depois, estava com o livro em punhos (no qual estou no momento relendo pela segunda vez) e o livro era ainda muito mais profundo e interessante. O livro é escrito através de cartas escritas pelo capitão Robert Walton para sua irmã enquanto ele está ao comando de uma expedição náutica que busca achar uma passagem para o Pólo Norte. O navio fica preso quando o mar se congela, e a tripulação avista a criatura de Victor Frankenstein viajando em um trenó puxado por cães. A seguir o mar se agita, liberando o navio, e em uma balsa de gelo avistam o moribundo doutor Victor Frankenstein. Ao ser recolhido, Frankenstein passa a narrar sua história ao capitão Walton, que a reproduz nas cartas a irmã.

Essas cartas possuem o nascimento errante da criatura. Trágica desde sua concepção ao unir o corpo de um assassino e o cérebro de sua vítima, o “monstro” de Frankenstein chega ao mundo já sofrendo todo o tipo de rejeição (inclusive a pior delas: a paterna) e sendo perseguido com crueldade e violência pela Humanidade – e não demora muito até que surja dividindo comida com os porcos numa cena profundamente tocante. Porém, nem mesmo toda a brutalidade à qual é submetida é capaz de eliminar a esperança da Criatura de encontrar um lugar no qual seja aceita e, assim, sua natureza quase infantil (afinal, ela é, de certa forma, uma criança) a leva a apostar imprudentemente numa possibilidade de “adoção” que já nasce condenada ao fracasso. Não há, neste aspecto, como não se comover com o sorriso satisfeito que o “monstro” abre ao testemunhar a alegria da família que ajudou a sobreviver durante um inverno rigoroso – e é igualmente doloroso constatar a triste ironia contida no fato da primeira palavra pronunciada por ele ser “Amigo” (o que resume, também, sua imensa carência emocional) ou de sua fuga de Ingolstadt exigir que ele se esconda entre seus “semelhantes” (uma pilha de cadáveres).

Mas um dado momento, existe uma passagem onde ele vive junto à um velho cego em uma colina que não o vendo, não o rejeita. Isso é relatado pela própria criatura (que erroneamente costuma ser chamada de Frankenstein) ao doutor Victor Frankenstein e é sociologia, filosofia, psicologia ao extremo para uma brilhante autora de apenas 19 anos. Um livro simplesmente sensacional. Mesmo com esse adaptação de 1994 ser muito fiel e com Robert de Niro simplesmente magistral, vale a leitura de um dos maiores clássicos já escritos.