quarta-feira, 30 de junho de 2010

Frustrações manuais


Cozinhar é uma arte da qual aprecio com todos os sentidos (paladar, olfato, visão, tato e sim, a audição. Adoro ouvir o som de uma comida crocante sendo mastigada por exemplo). No entanto sou um desastre quando coloco minhas mãos a serviço em outro lugar que não seja um instrumento musical. Adoro artes plásticas, desenho, mas sou outra negação aí também. O que piora a minha situação na cozinha é a grandiosa capacidade de auto flagelação que tenho. Involuntária diga-se de passagem, o que não denota valor algum. Postei dia desses em meu twitter (www.twitter.com/demetriusmusic) que havia cortado a minha mão por três vezes no espaço de uma semana. Bom, soma-se a isso uma queimadura agora. Ou seja, eu até posso saber fazer isso ou aquilo outro, mas eu posso destruir a cozinha, ou destruir-me...

Caleidoscópio XI

Sentiu como se tivesse levado um choque, mas não doía. Não sabia se era apenas um pesadelo, ou se havia realmente acontecido aquilo. Era como se houvesse relampejado dentro de seus olhos. Uma claridade. Uma descarga elétrica acompanhada de um certo espasmo muscular. Sentia-se extremamente mal naquele quarto escuro. Náuseas o fazem pender sua cabeça para a lateral da cama em que estava e vomitar. Um forte gosto de cerveja o acompanhou. Sua mãe entrou no quarto e acende a luz que agride seus olhos.


— Ainda bem que o Brasil não é campeão todo dia né?

Não respondeu nada, mas pensou: Déjà Vu
Sua confusão já o permitia perceber que ele havia outra vez saltado no tempo. Estava bêbado e consequentemente mais confuso que as outras vezes. Achou melhor nem sair da sua cama ou pensar muito e em questão de minutos estava dormindo.



No dia seguinte acordou com uma dor de cabeça e uma secura na garganta que lhe assegurava uma ressaca daquelas. Agora entendia por que não lembrava da tarde anterior. O alto teor alcoólico o tirou do ar.

Comeu alguma coisa, mas voltou para o seu quarto em virtude da ressaca. Olhou para o relógio que marcava 9:07h. Ele tinha o caleidoscópio em suas mãos e podia voltar ao ano de 2010 e ver outra copa. O que era completamente surreal. Lembrou-se no entanto que havia saltado para frente do tempo e lembrava do que não viveu. No entanto, ao voltar no tempo, não conseguia lembrar claramente das coisas. Pensou em ajustar o calendário mais para frente ainda para ver o que acontecia. Olhava outra vez para o relógio e ao menos tinha certeza que voltaria por volta de 9:10h. Não sabia a tabela da copa decorada. Apenas que ela começava dia 11 de junho e que o Brasil jogaria alguns dias para frente, mas ele resolveu ajustar a data para 28 de junho de 2010. Lembrou-se apenas de se olhar no espelho 8 anos mais novo e em seguida pegou o seu caleidoscópio e deu vez ao processo que ele já conhecia tão bem.

O despertador toca. Ele olha o relógio que marca 10:40h e se levanta para ver Holanda x Eslováquia. Levantou-se, mas sentia uma certa ansiedade por Brasil x Chile que aconteceria de tarde. Imediatamente um turbilhão de pensamentos, idéias, teorias, certezas e incertezas transcorreram em sua mente. Por qual motivo não estava passando mal dessa vez? Como ele sabia que ia ver Holanda x Eslováquia? Por qual motivo se lembrava dos 3 jogos que o Brasil já havia feito nessa copa? Enquanto se dirigia para a cozinha, lembrou da bagunça que havia deixado ali na noite anterior e entrando nela, estava exatamente como lembrava.



Enquanto colocava água para ferver, dezenas de outras perguntas se fizeram em sua cabeça, mas parecia encontrar algumas possíveis respostas.




Continua...

terça-feira, 29 de junho de 2010

Chegou a hora


 



32 times chegaram. Apenas 8 ainda podem levantar a taça. Fato que só pode ser repetido por 4 seleções. Apenas 2 já conseguiram o fato por pelo menos 3 vezes, mas a torcida é que a única que pode levantar pela sexta vez o tão sonhado caneco, o faça.

Até então, foram 56 jogos (dos quais consegui ver 54 para manter a tradição), mas agora é a famosa hora da verdade. Na primeira fase, existe a possibilidade de dar uma escorregada, mas manter-se vivo. Se o Brasil empatou uma, Gana e as favoritas Alemanha e Espanha chegaram a perder partidas na primeira fase e aí estão. Agora, simplesmente não existe mais essa possibilidade e copa tem a particularidade de não ser exatamente o melhor a vencer. Agora, cada jogo é tudo ou nada. Simplesmente não interessa toda a história de Dunga nesses quase 4 anos frente a seleção canarinha. É ganhar e continuar sonhando, ou fazer as malas de volta para casa.

Copas acabam quase que em sua totalidade com os mesmos campeões de sempre. Das 18 já disputadas, 16 ficaram com apenas 5 equipes. Dessas 5, apenas a Itália com pífia campanha não pode ajudar na escrita. Das 4 que ficam, somam 12 títulos. Duas copas apenas quebra essa escrita com Inglaterra em 1966 e França em 1988. Toda copa no entanto, tem um time chegando entre as 4 para tentar entrar nesse seleto clube. Seleções de Estados Unidos, Iugoslávia, Tchecoslováquia, Áustria, Hungria, Suécia, Espanha, Chile, Portugal, União Soviética, Holanda, Polônia, Bélgica, Bulgária, Croácia, Turquia e Coréia do Sul já bateram na "trave". Alguns países nem existem mais e mesmo a Croácia é um país dissidente da antiga Iugoslávia. Ou seja, a lógica não é algo associado ao futebol, lógico, inclusive a lógica pode acontecer dessa vez.








É apenas o que eu acho...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Interatividade e blogs



Confesso que se por um lado, escrevo por escrever, espanto-me por comentários que ouço nesse blog. Existem pessoas que visitam esse blog do qual eu sinceramente nem sabia. Longe de ser um blog de grande popularidade, visto que existem blog's com 2 milhões de visitas em 4 anos, mas as vezes penso que os comentários por si só já dariam nova pauta.

Dia desses o papo sobre blog veio. Um blogueiro presente se vangloriando que teve 10.000 visitas em 7 meses, logo o meu chegando as 500 visitas em 8 meses é um mero fracasso. Bom,  com certeza existem assuntos mais interessantes que as viagens provenientes de minha cabeça e posso dizer apenas que o exercício de escrever e os pensamentos gerados pelas pessoas que comentam algumas coisas por aqui me fazem querer escrever.

Por vezes dá vontade de propor uma certa interatividade, coisa que eu talvez faça um dia se  houver um maior número de visitas. Algo como propor uma tarefa aos leitores para ver no que vai dar, tipo uma foto inusitada com a camisa do Brasil em tempos de copa (olha que eu publico se alguém mandar). Ando meio sem tempo para postagens diárias e isso podia ser interessante...

P.S.: A tirinha foi meramente ilustrativa. Achei engraçada apenas.

É apenas o que eu acho...


Caleidoscópio X

O dia transcorreu com uma ansiedade brutal. Simplesmente estava às vésperas de uma final de copa do mundo. Como se nunca houvesse vivido esse dia, não lembrava um único segundo, mas lembrou que ele tinha lembranças do que não havia vivido quando voltou ao ano de 2010. Pelo menos agora ele tinha uma forte desconfiança que voltava exatamente na hora do dia que partia. Mas como lembrar do que não viveu e não lembrar do que havia vivido?

Após almoçar, foi ao banheiro escovar os dentes de uma forma mecânica e tomou um susto ao olhar no espelho. Viu-se 8 anos mais novo. Isso era muito bom por um lado e pensou ser até necessário para os que não estavam se deslocando pelo tempo, não estranhassem, mas foi mais uma coisa para ele se intrigar. Como poderia ser corpo inverter o processo de envelhecimento natural?

Enfim, seus amigos apareceram e o clima de copa do mundo, a cerveja e tudo o que acompanha um evento do tipo e ele foi capaz de esquecer tudo e viver uma vida normal. Sentia-se feliz. Estava com Renata , e era realmente muito bom estar com ela. Por que não se lembrava em que circunstâncias havia acabado esse relacionamento?

Mas finalmente chega a noite que o separava da final da copa. Dormiu muito mal. Não entendia como conseguia lembrar com tantos detalhes dos jogos do Brasil nessa copa. Era como se de fato ele tivesse assistido por completo essa copa e quando acordou já com fogos no meio da rua, levantou. Atordoado, mas muito excitado e sofreu como nunca havia sofrido em um jogo na vida. Embora o Brasil não jogasse mal, terminou o primeiro tempo contra a Alemanha do jeito em que a partida começou: 0 x 0. O Brasil tinha que vencer esse jogo. Tornaria-se. Caso a Alemanha fosse campeã, sagraria-se tetra como o Brasil. Isso torna o jogo tenso naturalmente. Apenas aos 22 do segundo tempo o grito preso em sua garganta aliviou-o.



Aos 34 quando Rivaldo ampliou o placar, sentiu que o título estava mais perto. O relógio parecia avançar muito mais lento do que o normal, mas enfim, por volta dos 42 minutos do segundo tempo ele começou a ter certeza que o Brasil era penta.

Carnaval imediato. Muita festa, muita bagunça e por volta dàs 14:00h sentiu que sua garganta já não era mais a mesma. 15:00h sentiu que seu corpo já não era mais o mesmo. 16:00h que sua lucidez não era mais a mesma e daí para frente não sentia mais nada. Dada hora foi levado pelos amigos para o quarto em completo estado de embriaguez e simplesmente apagou...




Continua...

domingo, 27 de junho de 2010

Saudades...quem viver terá!!!

Tive um sonho essa noite que motivou-me a escrever hoje. Sonhei que Lili (a mais gata que conheço) tinha problemas de saúde. Como já ando com muita saudade dela, acordei nostálgico, fragilizado e saudoso. Creio que isso seja extremamente normal. Aí é que começa as minhas viagens. Tenho saudade como todo mundo, mas segue uma relação de minhas saudades:

  1. Saudades do vaso sanitário da casa de minha mãe;
  2. Saudades de quem não deveria sentir;
  3. Saudades dos vinis;
  4. Saudades das noites perdidas com os amigos;
  5. Saudades de sentar na beira da praia e ficar pensando;
  6. Saudades da energia de jogar bola o dia inteiro e não cansar;
  7. Saudades de beber a noite inteira e estar pronto para o que vier no outro dia;
  8. Saudades do Palmeiras da década de noventa e etc...

Óbvio que tenho saudades de minha mãe por exemplo. Essa lista foi apenas para expandir um pouco algumas saudades não tão convencionais.

O que acho mais engraçado é sentir saudades de coisas não vividas. Sim, de coisas que não vivi e que provavelmente não viverei.

Que ninguém me pergunte de quem não deveria sentir saudades, ou para eu explicar que saudades não vividas são essas. Não estou aqui para explicar nada. Também não vim para confundir. Isso apenas é a extensão do meu cérebro, no qual ao melhor estilo do filme "Quero ser John Malkovich", as pessoas entram sem eu ter controle de quem entra ou não...



quinta-feira, 24 de junho de 2010

Caleidoscópio IX

Como nunca, ao deslocar-se no tempo, sentiu-se mal. Estava em um quarto escuro, em sua cama e a tontura era absurdamente mais violenta que das outras vezes. Nem fez força para levantar-se e começou a sentir náuseas. Não houve outra coisa a fazer a não ser virar sua cabeça para o lado direito da cama e despejar um vômito que lhe trouxe a certeza que havia bebido muito. Quando sua mãe entrou no quarto, não pareceu estranhar seu estado, mas a luz acesa doía em seus olhos. Ouviu sua mãe dizer:

— Ainda bem que o Brasil não é campeão todo dia né?

Não respondeu nada, mas como das outras vezes, ele levava um certo tempo para entender que havia saltado através do tempo, mas entendia que havia voltado depois do jogo e de todo o dia festivo que transcorreu. Logo, estava bêbado e consequentemente mais confuso que as outras vezes. Achou melhor nem sair da sua cama ou pensar muito e em questão de minutos estava dormindo.

No dia seguinte acordou com uma dor de cabeça e uma secura na garganta que lhe assegurava uma ressaca daquelas. Estava completamente frustrado por ter voltado depois do jogo. Lembrava-se perfeitamente, mas não havia revivido tais momentos. O que o intrigava no momento era qual o motivo para não recordar-se do meio da tarde até de noite quando regressou em seu quarto.

Comeu alguma coisa, mas voltou para o seu quarto em virtude da ressaca. Olhou para o relógio que marcava 9:07h. Não se conformava em voltar após o jogo, mas ele tinha o caleidoscópio em suas mãos e podia voltar um dia antes da final para não haver perigo de perder o jogo. Ajustou o caleidoscópio para 29 de junho de 2002 e rezou para ser noite e faltar pouco para o jogo. Também tinha a certeza que beberia um pouco menos para não ter ressaca no dia posterior.

Outra vez estava em um quarto escuro. Outra vez na cama. Outra vez tonto, de uma forma bem menos incômoda. Como sempre, demorava algum tempo para entender que havia saltado no tempo e quando teve ciência disso, lembrou-se que havia voltado para o jogo, mas desesperou-se por não lembrar de um segundo que fosse do jogo. Olhou para o relógio. Era 9:32h da manhã. Logo teria um dia inteiro pela frente para aguardar o jogo. Por algum motivo que ele desconhecia, não lembrava do dia e circunstância em que estava quando deu esse salto no tempo. A única coisa que conseguia lembrar era que estava naquele quarto e de ter olhado no relógio. Algo lhe dizia que ele deveria ter voltado ás 9:07h de hoje. Colocou um cd do Morphine para ouvir. Restava-lhe aguardar.






Continua...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Caleidoscópio VIII

Por um momento sentiu-se estranho. Sentia-se tonto e com a visão desfocada. Aos poucos foi percebendo que acontecia uma partida de futebol. Estava numa sala com algumas pessoas. A sala era ampla, mas haviam poucas pessoas vendo a tal partida. Ele cobria os temas relacionados aos esportes e sabe-se lá como, sabia que aquilo era França X Uruguai pela copa de 2010. Começava e entender que havia saltado no tempo novamente para ver a copa que começava. O que não contava era que caísse no meio do segundo jogo da copa. Havia perdido a abertura da copa. Era 30 minutos do primeiro tempo e outra vez ele sabia que estava 0 x 0. Ou pelos achou que era uma boa dedução. Ainda confuso, assistiu o fim do primeiro tempo e quando foi beber água, comentou com os amigos que lhe perguntaram sobre o jogo os melhores lances. Pensou estar delirando, afinal havia visto apenas os 15 minutos finais.

O mais estranho foi quando comentaram África do Sul 1 x 1 México e ele tinha imagens na cabeça do jogo que não havia visto. Sentiu-se tão estranho que resolveu voltar para a sala e ver os melhores lances do jogo, mas simplesmente deixou o pires do café que bebia se estilhaçar no chão quando vendo os lances, viu exatamente o que sua mente registrava na memória. Os poucos que estavam presentes com ele no momento perguntaram se estava tudo bem com ele, que disfarçando, apenas disfarçou o acidente. Ficou mudo tentando lembrar de mais coisas referentes a partida durante o intervalo e muito confuso.


Recomeça o jogo e houve um determinado momento em que ele se desconcentrou do jogo por estar entendendo que havia saltado no tempo novamente. Lembrou-se da copa de 2002 e para sua surpresa, lembrava dela por completo dessa vez. Logo qual seria a graça de voltar para ver tal copa? Lembrou-se também que havia voltado para ver a copa de 2010 e voltar em 2002 para ver uma copa que agora ele lembrava. Tinha uma vaga noção que conheceria Luciana apenas 4 meses depois. Também lembrou que estava trabalhando e que precisava prestar atenção ao jogo e fez o possível para espantar essas questões.


Acaba o jogo e ele volta ao seu computador para trabalhar. Quando enfim estava em seu carro indo para casa começou a lembrar de coisas vividas ontem, antes de ontem e mesmo do dia 6 de junho que havia sido o dia do salto. Não entendia como podia lembrar do que não viveu e por isso mesmo se perguntou se havia vivido ou não esses dias. Chegou em sua casa e tomou um banho bem demorado. Chegou mesmo a sentar no chão para sentir a água caindo sobre si. Lentamente comeu algo e ligou a tv para passar o tempo.


Quando deitou, jurou uma jura que quebrou cerca de 50 minutos depois visto que não pegava no sono. Pegou o caleidoscópio e não sabia se voltava para o começo da copa de 2002 ou para setembro que era quando ele achava que havia conhecido-a e por fim, resolveu voltar dia da final da copa de 2002. Ajustou o calendário, visualizou a cena e despedia-se de 2010.






Continua...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

1982


O ano em que vi o melhor time do mundo jogar. Proximidade da copa e me sinto tentado e falar apenas nisso nesse momento, afinal, sou um viciado por esse evento. Um dia ainda conseguirei ver todos os jogos. Basta dizer que na copa de 2006 vi 56 dos 64 jogos e que na de 2002 vi 61. O que quero na verdade contar é mais uma dessas histórias de criança.

Vendo a criançada com seus álbuns de figurinha, vejo-me nelas. Fui assim nas copas de 82 e de 86 e um deles rendeu essa história que é piada em minha família até hoje. Assim como o álbum que circula hoje, o da época continha os jogadores de cada seleção e sendo assim, como eu passava o dia com ele nas mãos para o completar e gostava muito de futebol, logo sabia a escalação dos times.

Meu pai achava muita graça disso e certa vez perante amigos seus perguntou-me a escalação do Brasil (que sei até hoje) e em seguida a da Itália, Argentina e Alemanha. Veio então a seguinte pergunta:

- E quanto é 7 x 8?
- Ah... Isso aí eu não sei não.

Explodiu-se uma gargalhada entre as pessoas e sempre escuto essa história novamente perto das copas e provavelmente ouvirei por toda a minha vida.

Gosta dessa história, já do final dessa copa...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Caleidoscópio VII

No trajeto para a faculdade sua cabeça parecia estabilizar e começou a entender o que fazia ou onde estava. Fez de fato uma boa prova, pois havia estudado. Sabia que havia regressado por causa de Luciana, mas não se atentou ao fato que voltaria no meio da copa. O Brasil havia ganho de 2 x 1 da Turquia e ele lembrava perfeitamente desse jogo, mas não conseguia lembrar do futuro como pensou que lembraria. O que realmente o intrigava era como não lembrar de uma copa do mundo. Lembrava inclusive da de 2006 e pensou que seria bem sem graça de assistir sabendo do jogo contra a França. Lembrou que havia sido muito burro ao voltar faltando apenas 5 dias para começar a copa de 2010.

Já em casa percebeu que lembrava de muitas coisas. Até mesmo de algumas insignificantes. Lembrava até o momento em que estava no banheiro antes de regressar e ficou na dúvida entre ficar e assistir a copa em que estava e na qual o Brasil jogaria dalí a dois dias contra a China, ou se voltava de onde veio, via a nova copa de 2010 e voltava para ver a copa de 2002 novamente, mas daí, do dia 31 de maio para ver o início. Sabia que havia regressado uns 4 meses antes da Luciana, logo Renata que era com quem ele estava agora, também não daria em nada, embora não lembrasse como haviam rompido. Recostou a cabeça em seu travesseiro apenas para chegar a conclusão do que faria, mas acabou por adormecer.

Quando acordou na manhã seguinte, irritou-se inicialmente. Depois percebeu que era já o dia 7 e que o Brasil jogaria dia 8, 8h30 da manhã. Ela estava distante apenas 22 horas de Brasil x China e decidiu-se. Voltaria apenas depois desse jogo. Até mesmo por ter um encontro com Renata hoje de noite e enquanto não acabavam, estava bom. Mesmo por que não lembrava mesmo o que havia acontecido. Mas e Luciana? E se quisesse ver o fim da copa? Por que não lembrava dessa copa? E então acreditou pensar em algo genial. Voltar não ao dia 6 de junho de 2010, mas logo ao dia 11 e ver o começo da copa, para  assim poder voltar para a de 2002.
A noite chegou e foi tórrida de uma maneira que naquele momento ele queria estar com a Renata. Por isso mesmo estavam juntos de manhã com vários outros amigos e viram Brasil 4 x 0 China.
A festa estava tão boa que ele decidiu que só voltaria para 2010 com o fim da festa que faziam. Amigos, piscina, tudo ótimo com Renata e por volta das 16h00 foi que resolveu inverter o processo. Foi buscar o caleidoscópio, entrou no banheiro e colocou a data para 11 de junho de 2010. Se concentrou na cena e aguardou...
Continua...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

domingo, 6 de junho de 2010

Caleidoscópio VI

Sabia que enfim, quando chegasse em casa, usaria seu caleidoscópio. Sua concentração foi perdida por completo uma outra vez e cerca de 10 minutos antes do encerramento do expediente estava desligando o seu computador e visivelmente agitado. Seus companheiros perceberam e faziam piadinha sobre um encontro com uma namoradinha que deveria acontecer logo mais e ele pensou ser exatamente isso, mas de nada adiantaria perder tempo para explicar como isso aconteceria. Depois pensou que não seria necessário chegar em casa. Podia fazer isso mesmo de seu carro. Nem isso. Podia ir ao banheiro e resolver de uma vez por todas sua inquietação. Sentiu uma taquicardia e riu de si mesmo lembrando das incontáveis que havia tido no dia anterior.

Ao entrar no banheiro, ouvia seus amigos dizendo que ele estava até passando mal por causa da tal garota. Na verdade não conseguia prestar mais atenção no que falavam. Pensou apenas no que pensariam ao notar que ele não estava mais no banheiro. Ficou inquieto dentro do banheiro. Olhava no relógio e faltava apenas 4 minutos para a retirada em massa acontecer, mas pensou que se ele voltasse no tempo, ele estaria em um futuro que aconteceria em função do novo passado que construiria. Logo, provavelmente não haveria falta a ser sentida. Pensou então que havia se relacionado apenas com 3 garotas da qual de fato ele sentia que tentou e não deu. Logo, todas as outras poderiam ter dado certo caso não tivesse tornado-se o impaciente que tornou-se, mas recordou-se de uma em especial. Havia se passado 8 anos, e lembrava-se perfeitamente o quanto havia saído daquele encontro com a sensação de que vários detalhes minaram o encontro. O único problema era que não tinha como saber exatamente o dia e dessa forma, iria por aproximação.

Havia se decidido e podia sentir a adrenalina percorrer o seu corpo. Sem saber a data precisa resolveu simplesmente voltar 8 anos e percebeu que havia lugar para a data, mas não a hora. Em breve saberia como no que aquilo ia dar. Ajustou o calendário para 6 de junho de 2002, pensou no que queria e olhou no caleidoscópio que respondeu prontamente como todas as outras vezes. A diferença foi que dessa vez ele sentiu uma sensação como se estivesse sendo sugado e uma luz ficando cada vez mais intensa que o fez quase perder os sentidos, sentiu-se terrivelmente estranho e ao poucos parecia voltar ao normal. Olhou ao redor e não estava na cena visualisada. Não entendeu nada, mas a sua cabeça sabia que ele precisava ir para a faculdade. Somente ao perceber o caleidoscópio teve a plena consciência de que havia de fato regressado no tempo. Sem saber como sabia que chovia, pegou o guarda-chuva e maravilhado em ver a sua mãe, despediu-se de uma forma tão carinhosa que ela estranhou.
 
Enquanto caminhava, sabia que faria uma prova na faculdade de jornalismo, mas estava tranquilo por lembrar de tudo...




Continua...

sábado, 5 de junho de 2010

Considerações


Em primeiro lugar, "Caleidoscópio" não acabou. Apenas intercalando outras coisas. Em segundo, não esqueci a tal série sobre viver de arte. Essa será ainda mais espaçada, mas com as pessoas que conversei que devem colaborar nessa saga, a constatação que andam de braços dados com crises de existência e coisas do tipo e foi-se o tempo em que dizia-se que se morasse no exterior estava bem financeiramente...

Conversava dia desses com o grande músico Maurício Fleury que dizia que mesmo em Nova York, um amigo seu tem tido dificuldade. Erwan Pottier, músico francês radicado no Brasil, disse que a maioria dos grandes pianistas de lá são médicos, afinal precisam ganhar dinheiro. Parece que todo momento o mundo cultural sofre uma baixa com uma casa que fechou, com um produtor cultural que desistiu de lutar, um artista que resolveu ter um trabalho estável. Infelizmente quando estou dando aula, sinto-me na obrigação de falar aos jovens estudantes o quão complexo pode ser viver de arte.

Em terceiro lugar, quando crio um conto ou poesia aqui publicado, nada tem haver com minha vida pessoal. Ficção apenas, mas nesse caso de hoje, essa postagem nada tem de fantasia. Hoje estou sim chorando as pitangas de uma profissão completamente surreal que me desanima por vezes.

Para finalizar, questiono-me: Se o que eu acho é apenas o que eu acho, o que seria o que os outro acham para elas mesmas?



quarta-feira, 2 de junho de 2010

Caleidoscópio V

Por Demétrius Carvalho

Enquanto comia, pegou o caleidoscópio e levou-o aos olhos quase que instintivamente. De fato menos atrativo agora que ele sabia que o que visualizava era produto de sua mente, mas percebeu que simplesmente podia controlar o que via. Lembrou-se então de olhar na parte de trás e havia sim um pequeno calendário tão pequeno e delicado e de uma engenhosidade que o fizeram desacreditar que o artefato em suas mãos datava de 440 a.c., mas depois lembrou que nada vivido nas últimas 12 horas fazia o menor sentido.

Sentia-se cansado e comeu muito mais do que o habitual. Tomou um bom banho e ficou pensando o que estaria fazendo de errado em sua vida, onde lhe faltava sabedoria. De fato não tinha a vida que imaginou quando criança, mas não podia reclamar de sua vida, profissão, ou mesmo condição financeira. Amava seus amigos e parentes e mesmo os que com ele trabalhava ou as pessoas mais humildes que conviviam com ele tinham o seu respeito e por isso gostavam dele. Sempre tentou ser desprovido de preconceitos para com os outros e realmente gostava das pessoas que convivia.

Sentia-se realmente cansado, mas ao deitar visualisou o caleidoscópio. Se agora as imagens respondiam imediatamente aos seus pnsamentos e pareciam ter perdido o encanto da imagem inesperada, ele pode sentir o quanto poderia se tornar escravo como falava o pergaminho justamente por visualizar o que quisesse. Somente 4h43 foi que conseguiu solta-lo e sabia que teria um dia complicado pela frente. Para piorar, demorou para adormecer e ainda teve sonhos com o caleidoscópio. Quase não pode acreditar quando o despertador tocou pontualmente 6h45 e com muito esforço estava na redação do jornal pontualmente 8h00. Como sempre entrou com uma torrada e uma xícara de café. Apenas o caleidoscópio o diferenciava de um dia normal, mas a sua cabeça parecia não funcionar como sempre.

Certa hora, sua redatora que trabalhava na mesa ao lado pega o caleidoscópio e diz ser apaixonada por aquele brinquedo desde criança. Ele quase paralisa de medo, mas ela não esbossa espanto algum e ainda passa para a mesa a sua frente onde nenhum dos outros dois demostra algo diferente, mas sua face devia conter horror. Sua redatora tomou-o de um deles e devolveu-lhe para não apanharem. Ao menos ele sabia que diferente do pergaminho, ele não sumiria e que apenas ele via cenas que não havia acontecido de fato. Isso por hora lhe tranquilizava.

Apenas depois do almoço foi que conseguiu se concentrar no trabalho e chegou a esquecer por completo de tudo o que lhe aconteceu no dia anterior. Por fim, de onde menos esperava ter uma resposta, sentiu ter encontrado.



Revisava um texto sobre saúde na 3ª idade e um simpático senhor de 78 anos ao lado de sua esposa que atribuía sua alegria de vida ao fato de ter entendido que nem tudo era perfeito. Ele passou boa parte de sua vida achando que lhe faltava algo até entender que ele desperdiçava todas as oportunidades que lhe apareceram por não serem a situação ideal e ao entender isso ele passou a olhar o lado positivo das coisas.
—Com minha esposa mesmo, não foi o que sonhei. Sonho é sonho e eu tinha o dever de construir a minha realidade, ou viver no mundo do faz de conta em busca da situação ideal que nunca aconteceria.

Era isso. Sabia a resposta sem sombra de dúvidas. Até hoje estava solteiro por buscar sempre o encontro perfeito. A pessoa ideal. No fundo era como se soubesse que não haveria a relação perfeita, mas não fazia algo concreto para estar com alguém e ser feliz.



Continua...