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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Quem não tem dinheiro não faz faculdade



Essa foi a frase atribuída ao deputado Nelson Marquezelli (PDT-SP) que é um dos líderes da bancada ruralista e está em seu sexto mandato.

O Próprio sai com uma nota dizendo que sua frase foi colocada sem contexto. Segue a seguir ela na íntegra:

"O Estado não pode gastar mais que arrecada.
Defendo a gratuidade para a população de baixa renda em instituições públicas, mas subsidiar a quem tem condições de pagar a universidade sou totalmente contra.
O ajuste da PEC não retira nenhum centavo para educação e saúde, mas por outro lado a aprovação da matéria possibilita um freio em orçamentos inflados, aumentos irreais e expectativas financeiras que destruirá a previdência pública.
O Brasil precisa ter a responsabilidade de administrar o dinheiro público com profissionalismo e retidão.
Remédios amargos são necessários para um momento difícil da economia nacional.
Volto a repetir, sou favorável a uma educação de qualidade e contra subsídios do Estado para quem pode e deve pagar por sua instrução.”
Em compensação, temos o vídeo de onde a frase foi "extraída fora de contexto" para que possamos confrontar com seu pronunciamento:


De seu pronunciamento eu concordo que o Brasil não pode gastar mais do que arrecada, no entanto é completamente ingênuo acreditar que aquele garoto da periferia que trabalha o dia inteiro e estuda de noite está em pés de igualdade com quem possa estudar o dia inteiro. Não julgo de forma alguma quem tem tais condições. Quisera eu que na verdade todos os candidatos tivessem as mesmas condições.

Em tempo, o deputado ruralista foi o autor de um projeto que reajustou em 60% o salário da classe para que não precisam mais fazer "bico". Também foi o autor de um projeto que obrigaria as escolas a utilizarem do suco de laranja na merenda escolar para que fossem habilitadas à receber tal benefício. Se isso te parece nobre, o que me diz quando sabe que o homem em questão é um dos maiores produtores de laranja do país?


terça-feira, 4 de outubro de 2016

Quando se fala, mas não se faz


Para quem já viu o desenho do Sr. volante x Sr. Andante da Disney com o Pateta como personagem principal, penso que eu tenha encontrado ele trabalhando.

Ontem deixei minha casa para dar aula de ônibus e logo ao adentrar o veículo, o motorista conversando com o cobrador (ou seja, praticamente o ônibus inteiro) vinha dando suas lições de moral com total aprovação do cobrador baseado em sua fé. Dizia e mostrava o quanto o povo da igreja dele era correta, que isso, que aquilo, que não se metem em uma confusão:

- Pode procurar na minha vida!!! Dizia ele quando de repente ele quase colide com um motociclista que lhe ultrapassava pela esquerda como deveria. De certo que o ônibus estava errado pois apenas no quarteirão anterior deveria mudar para a faixa em que se encontrava. Daí o rapaz da moto que visivelmente trabalhava, toma não só a faixa que divide as pistas como tende a vir pela do ônibus e ainda por cima mais devagar do que normalmente andam fazendo com que o ônibus estivesse colado sobre ele. Um perigo? Sim, mas também um sinal de provocação do motociclista aceito pelo motorista. Assim seguiu-se da rua Clélia até a Francisco Matarazzo. Obviamente que a situação ficava cada vez mais tensa. Freadas cada vez mais forte atrás da moto, olhares, xingamentos e gestos. Um verdadeiro pandemônio, até que uma hora a moto se desvencilhou (ou finalmente quis) e se foi embora.

O Motorista de ônibus volta tranquilamente a pregar a sua doutrina. 

Ele provavelmente deve ser contra a corrupção e talvez até o seja na verdade, mas eu não tenho dúvidas do que andar de ônibus em São Paulo é entender um pouco a complexidade do povo. É um verdadeiro estudo antropológico.

Para quem nunca viu o desenho, segue ele:




P.S.: A política no Brasil não se faz de forma muito diferente disso não...

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

FaceBoolha



Para quem votou em São Paulo especificamente, posso imaginar dois cenários ao dia posterior das eleições.

1. A pessoa acorda feliz com a vitória de Dória, o que lhe parecia óbvio segundo sua timeline da maior rede social usada no momento;

2. A pessoa acorda desesperançosa e caindo-lhe a ficha de que vive uma bolha, pois sua timeline era só "amô"  com o povo que votaria em Haddad ou Erundina.

Ao meu ver, o que elas parecem que ainda não se deram conta (ou insistem em não perceber), é que vivem em bolhas. Os famosos algoritmos da rede em que muito provavelmente você teve acesso a esse texto por exemplo.

Uma coisa que vi também nesse período era alguém de certa forma reclamando de que não havia gente para conseguir mudar voto em sua lista de amigos, afinal, todos já "fechavam com ele". Talvez exatamente pelo fato de que essa pessoa conscientemente ou não já tenha excluído aquelas pessoas que pensam diferente de você (e olhe lá se ela não prega o respeito pela diferença dela).

Temos que pensar e repensar nosso mundo que não se resume ao mundo virtual. Nas ruas, cruzo com pessoas que pensam ou é diferente de mim por todo o momento, mas quando vou cruzar a catraca do metrô do qual vejo uma pessoa visivelmente completamente diferente de mim, não posso desfazer a presença da pessoa na minha frente como se faz nas redes sociais. Tenho que conviver com ela e isso é um exercício de respeito ao diferente (assim como o outro também deve estar olhando para você e pensando o quão diferente você possa ser).

Alguns papos vão surgir como a culpa é de quem votou na Erundina (A culpa do Russomano não ter sido eleito é de quem votou em Dória?) E na boa? Continuo achando que a classe política nada de braçada enquanto o povo se divide e familiares deixam de falar um com outro por causa disso.

Ainda ontem em churrasco na casa de amigos enquanto eram computadas os resultados das eleições, eu falava aos presentes. O problema não é exatamente esse ou aquele vencer as eleições. O problema é: Esse processo realmente tem servido para a população em geral? Pode apostar que para boa parte sim...

P.S.: Ainda saindo da cabine de votação ontem comentei: Me sinto em um circo, do qual obviamente eu sou o palhaço...

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Não voto no PT



Se o PT chegou onde chegou por suas alianças com qualquer partido sem maiores pudores alegando "governabilidade", sua derrocada também parece ter nascido daí. Aliás, nas eleições municipais passadas com a fatídica foto de Lula, Maluf e Haddad, começava a morrer minha crença pelo PT. Naquela ocasião, tinha uma sensação parecida com a de hoje. Parecia só haver candidatos ruins e apenas sabia que não queria o Russomano que pode trazer mais poderes ao Edir Macêdo que teria tv, igreja e estado em suas mãos (ainda que em escala municipal). O que fiz? Votei no Haddad no primeiro turno somente por acreditar que as coisas podem piorar com Celso Russomano com apoio do bispo Edir Macêdo. Uma vez que ele não foi sequer ao segundo turno, abri mão do voto no segundo turno onde Haddad venceu Serra.

Fiquei de olho aberto para ver o que o tal prefeito faria. Para ser sincero, ele não emplacava para mim de forma alguma, sem contar que era muito do marqueteiro ao meu ver, afinal, o ibope que ele tinha quando aparecia tocando guitarra ou andando de bicicleta era absurda e eu me perguntava, mas e daí? Onde isso ajuda efetivamente na administração municipal?

Fui, sou e serei muito crítico em relação à algumas coisas como a redução de velocidade nas marginais e tive uma amiga "desfazendo amizade virtual" em virtude do texto escrito. Segue o link para ver minha crítica, mas quer saber? Dou o braço a torcer nesse sentido. Embora ache que possa sim existir uma indústria de multa, não sinto efetivamente perda de tempo no trânsito por isso. Aliás, dizem que estatisticamente ganhamos tempo, mas se houve menos mortes, já é o suficiente para repensar. Quanto à questão da indústria de multa, é só não andar fora da lei. O óbvio que parece coisa de outro mundo.

Ciclovias? Também tenho minhas críticas, mas ao menos ele fez algo que afeta positivamente na qualidade de vida e mobilidade urbana. Sinto inclusive lampejos de andar de bicicleta pela cidade.

A questão é que por essas e outras, me via com voto decidido por Erundina e sua postura menos PT que parece o PMDB se aliando a qualquer coisa para a manutenção do poder. Aliás, a coligação do PT é com quem mesmo nessas eleições? Parece que a história absurdamente recente não lhes ensinaram nada.

Daí penso sobre as maiores críticas que se fazem ao Haddad e tentando ser coerente com o que professo, devo dizer que só posso ver o velho pensamento futebolístico e defesa de times não importando o que for. Não importando se você está certo ou errado. Importa apenas a sua bandeira para bater no peito na mesa de bar que estava certo. Como nos tornamos tão presunçosos e arrogantes?

Para finalizar sem adentrar em muitos termos técnicos ou estatísticas para provar isso ou aquilo outro, lembro ainda que Haddad recuperou dinheiro proveniente de corrupção e curiosamente, daquele mesmo senhor que se juntou a ele na foto com Lula. Posso estar completamente enganado, mas não tenho conhecimento na história da política brasileira de algum político que tenha recuperado dinheiro de corrupção e então, confrontando a administração de Haddad com a grandiosa maioria dos prefeitos passados e somados a isso o fato de não querer nem Russomano como Dória que é simplesmente um aventureiro abanado no mundo da política sem a menor tradição na cultura, e decidi que voto em Haddad, assim como para vereador, voto em Eduardo Suplicy mesmo achando que sua versão garotão na internet mereça lá suas críticas também. Mas quem não merece críticas? Eu certamente tenho meus erros. Você não os tem?

A questão para mim nesse momento não se trata de partido e sim de olhar do que se tem e se somos coerentes com o que realmente queremos para a cidade.

Volto a dizer, não voto no PT (e não tenho votado nas eleições passadas), mas dessa vez voto em Haddad e Suplicy exceto cheguem Haddad e Erundina no segundo turno onde votaria nela...

Se lhes calhou de serem do PT, aí já é outra história, pois no PT pelo PT não voto...

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Tchau querido



É nesse nível que nossa política tem andado. Dê revanchismo. De todas as formas possíveis e infelizmente bem rala.

O processo de cassação de Cunha acabou tem poucos minutos e cá estou eu escrevendo impressões sobre, não tendo dúvida que o lado que reclamou do "tchau querida" deve estar "descontando" com um "tchau querido".

Também não me venham dizer que isso é uma prova que o processo contra Dilma não foi a da mais pura politicagem. Foi apenas conveniente. Eleitoralmente conveniente, afinal, 450 x 10 (e 9 que se omitiram). Ninguém esperava um placar desse e se assim o fizeram, foi por medo das eleições que estão chegando. Tentaram apenas garantir a manutenção de seus cargos...

Pode ser o começo de uma mudança? Não creio que, mas gostaria que fosse. Eu na verdade espero a delação premiada de Cunha e que caiam os 150 que ele disse que levaria junto. Cunha aliás já disse que vai escrever um livro. Escreva. Não tenho dúvidas de que será um sucesso de vendas (embora não tenha certeza que será totalmente verdadeiro o que por lá estiver escrito).

A questão é:

Já deu a hora de ficarmos apenas no "Tchau querido". O Brasil precisa de mais e talvez seja a hora da população começar a olhar por reais interesses do que apenas o lado da moeda que lhe convém...

Não tenho a menor dúvida de que temos tempos sombrios pela frente. O processo desencadeado pelo impeachment de Dilma trouxe uma instabilidade política que deve durar alguns anos para se reestabelecer e a essa altura do campeonato, talvez seja realmente necessário abalar de vez as estruturas para que se possa tentar reconstruir algo e de preferência, dentro de um outro formato. A tal da reforma política já está mais do que na hora de submergir desse lodo.

Por hora, o caminho talvez que nos reste seja um Fora Temer e Fora Renan...

domingo, 11 de setembro de 2016

Arte da mentira

Ontem mesmo havia escrito sobre a percepção das manifestações estarem se alterando de alguma forma de quem vê apenas do lado de fora. Aliás, o próprio Michel Temer parece ter modificado seu discurso sobre as atuais manifestações.

 Como ontem, também haveria uma manifestação da qual eu não tinha ideia e dessa vez, houve muitas mães com crianças de colo e o que me cansa as vezes, são argumentos que parecem ser vociferados sem o menor questionamento sobre o que se fala. Eu já mudei opiniões sobre coisas pensadas com tempo. Fico imaginando desse internauta que fala alguma coisa impensadamente após se deparar com algum novo fato.

Uma grande birra que lia nos comentários ontem é que as mães levarem as crianças era um "tática comunista de escudo humano".

Embora eu não tenha coragem de fazer algo do tipo (afinal de contas, não levaria nem para um estádio de futebol, que dirá de manifestações coibidas pela PM), o que pensam essas pessoas? Que de fato as usariam como escudos? Ok, Vamos partir do ponto que simbolicamente sim. A polícia não interviria com violência por portarem crianças de colo, mas se ela já fez isso contra crianças e idosos, não poderia fazer novamente? Não seria um risco enorme para uma mãe (pai, tio, vó, professor) colocar em uma criança? Depois de um ataque, seriam elas literalmente escudos? E se precisarem atacar para se defender? Usam as crianças como tacapes?

Sinceramente não penso ter fundamento nessa linha de raciocínio. Volto a dizer que não faria isso, o que não significa que eu pense que esta é a "função"  das crianças nas ruas.

Aliás, para finalizar, em redes sociais encontrei a foto da capa do The Economist:


Art of the lie, ou "Arte da mentira". Em suma, o artigo coloca culpa na própria mídia por algumas razões, mas alerta que fazemos parte desse processo (e culpa). Mentiras absurdas de Trump, Erdogan e Putin são jogadas na net e simplesmente compartilhada (e óbvio que no Brasil). A grande maioria das pessoas simplesmente preferem acreditar no que o amigo postou sem checar as informações...

Abramos os olhos apenas. Posso me enganar. Aliás essa é uma outra percepção que tenho no momento. As pessoas simplesmente falam como quem tem certeza absoluta de que estão corretas.

Como diria o músico Felipe Tancini: " O problema não é o que você acha, o problema é o que você tem certeza"

sábado, 10 de setembro de 2016

As manifestações de hoje são como as de 2013?


Ainda ali no calor das manifestações de 2013, Slavoj Zizek é perguntado sobre o que se daria com o Brasil e ele foi categórico em falar que tudo dependeria de como a nação se colocaria pós manifestações e eu particularmente fiquei um tanto quanto desanimado quando percebi que a classe política que entrou em pânico em um primeiro momento conseguiu reverter a energia da população contra si mesmo elegendo de forma binária apenas dois lados. Dessa feita, mais de 90% da população se colocou de um lado contra o restante que também tinham suas guardas levantadas. O resultado? Políticos voltam a nadar de braçada como se diz na gíria.

Alguma coisa mudou nas atuais manifestações? Não. Pelo menos por enquanto, ainda não e elas pipocam por toda parte. Ontem mesmo teve outra em São Paulo 18h no vão livre do Masp.

A única fagulha de mudança que começo a notar nesse momento, é que jornalistas independentes parecem querer mostrar o que acontece lá de dentro das manifestações e não apenas aquela tomada superficial de alguns orgãos. Alguns advogados independentes também estão se expondo para tentar coibir o excesso promovido pela força do estado e para minha surpresa, alguns meios começam a falar de manifestação "enfim pacífica" ou coisas do tipo.

Na manifestação que fui dia 8 de setembro, via crianças, mulheres, idosos, adolescentes. Gente dos mais diversos perfis e pensava que a absoluta maioridade daquele povo não queria combate físico e apenas ideológico. Que mãe levaria uma criança para uma manifestação para enfrentar policiamento? Isso não me parece muito coerente.


Tentei puxar na memória de greves e manifestações dos operários do ABC que em sua total maioria são homens e não me recordo de confusões e quebra-quebra. Então me parece que tem alguma coisa mal contada aí.

Apesar disso, temos artistas, pensadores, filósofos e uma classe que tem instigado o povo ao pensamento.

Finalmente, o poder que todo mundo tem hoje em dia se ser mídia com seus celulares filmando tudo. Muita coisa já foi questionada através de imagens de manifestantes.

Enfim, ainda vejo as atuais manifestações com os participantes crendo que um lado seja bom contra o outro que é mal. Para piorar tudo, o uso de força repressora vem apenas quando as manifestações se dão contra um único lado e isso é deveras preocupante.





P.S.:Fotos por Demétrius Carvalho

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Olhe com teus próprios olhos



Foto: Juliany Bernardo

Cresci ouvindo que os franceses ou chilenos eram muito mais politizados do que nós por irem para as ruas protestar contra o governo. Não tinha esse papo de vandalismo. E se bem me lembro, foi esse tal vandalismo que derrubou o muro de Berlim para unificação das duas Alemanhas.

Hoje irei para a minha primeira manifestação dessa nova leva. Fui em várias em 2013 quando se tinha a população de uma forma geral contra um governo fosse ele de âmbito municipal, estadual ou federal. Exatamente o motivo pela qual Marcos Maia, amigo de longa data não ia para as tais. Diferente dele, perdi o interesse quando elas se mostraram pró fulano, contra sicrano. Eu não queria defender um lado de um esquema que acho fracassado. De distorções e distorções possíveis, essa semana tomei conhecimento de uma candidata que com apenas um voto vai assumir vaga de vereador no interior de sp.

Tomei partido ao engajar-me em tal manifestação? De certa forma sim, mas na verdade não estou indo exatamente por "Diretas já" ou mesmo um "Fora Temer". Ressalto que abdiquei de meu voto, pela tal falta de representatividade e descrença no sistema vigente (o mesmo sistema que criou brecha para que se tirassem Dilma sem crime constatado). O que não significa que eu fosse a favor do impeachment e defendo o direito de cada pessoa de ser a favor ou não, mas o que se viu na sequência foi um papelão. Um golpe contra a credibilidade da classe política.

Não acredito que exista um lado certo e outro errado nessa imbróglio e a esquerda tem que no mínimo se auto avaliar e entender que chegou onde chegou muito por culpa sua que trouxe o inimigo para dormir consigo. Aliás, quando deixou de ser tão esquerda e se moldou ao esquema perpetuando o jogo político como bem conhecemos.

O que me leva às ruas então?

Em primeiro lugar, o olhar com os meus próprios olhos e tirar minhas conclusões de como agem os manifestantes, mídia e a polícia (interessante ver o que disse Beto Richa em 2012 sobre a polícia)

Foto: Juliany Bernardo

Para fechar o meu raciocínio, vou por uma grande distorção verificada entre as manifestações contra o PSDB em São Paulo onde se teve catraca liberada do metrô para manifestante tirar selfie com policias fortemente armados, chamada na tv aberta conclamando pelas manifestações e a repressão que se vê nesse momento e que não é local, mas tem se alastrado por todo o território nacional aumentando assim uma sensação de estado de exceção.

Relembro do Marcos, meu amigo do começo da escrita para dizer-lhe que vou muito por um medo de retrocesso atrás de retrocesso. Basta olhar para alguns países do mundo árabe em décadas passadas e imaginar onde podemos parar...

De direitos em direitos perdidos, podemos entrar em um período nefasto nesse país que teima em ser o eterno país do futuro (afinal de contas, do presente é que não é).

Foto: Juliany Bernardo

Já diria aquela música d'O Rappa:

Pois paz sem voz não é paz é medo

P.S.: A próxima manifestação em São Paulo é hoje 17h no Largo da Batata.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Redução da velocidade e o fator humano...

(foto Demétrius Carvalho)

O fator humano... o que é isso?

De alguma forma, nos foi passado que o fator humano é causa de algum erro ou acidente em uma indústria, aeronave ou seja onde for onde algo aconteceu de forma fora do esperado.

Mas fator humano não seria uma expressão um tanto equivocada que não quer dizer nada? O fator humano não seria qualquer fator envolvendo humanos? Não seria o fator humano a tal "falha humana" na queda de um determinado avião assim como a própria construção do avião?

Na verdade, isso é apenas uma das elocubrações dessa minha mente que cansa sim de pensar, mas que não se conforma e tenta encontrar outros sentidos para os propostos. O fator humano também gosta de deturpar sentidos para outros entendimentos.

1. Não seria o superávit negativo o déficit?
2. Abrir capital estrangeiro em uma estatal seria por acaso privatização?
3. Te venderem a necessidade de comprar água gera lucro para quem?
4. Mercados pagam de ecologicamente corretos sem a sacola dada ao cliente, mas podem vender e ganhar ainda mais dinheiro?
5. Vamos vender meios de transportes alternativos sem melhoras de tal e ainda por cima aumentando os valores dos transportes públicos?

Acho absolutamente necessário os quilômetros e quilômetros de ciclofaixas que estão sim melhorando a qualidade de vida dessa cidade em um médio/longo prazo. Podiam apenas melhorar o transporte público para quem tem carro opte por algo melhor e não ver a sua situação cada vez pior e então vamos partir para o menos pior. Por que elas não começaram da periferia sentido centro? Interligando a população sem acesso aos terminais por exemplo? Mas ok, não vamos ficar na opinião polarizada entre o é bom ou ruim. É bom. Bom demais e veremos isso daqui uns anos tendo outros países que adotaram tal prática. Entre 8 e 80 tem um monte de número não é?

Ah, mas estão investindo R$ 400 mil na educação do trânsito. Não é muito? Eu sinceramente acho que não se verificarmos que o arrecadado com multas no mesmo período foi R$ 800 milhões...

Em países da Europa com as autoestradas, temos via de acessos exclusivos ao tráfego motorizado e assim sendo, na marginal que não possui semáforos exatamente por isso tem-se uma redução de velocidade?

Bom... acho que vão arrecadar ainda mais dinheiro com a população novamente.

Antes que alguém venha criticar, eu odeio andar de carro e faço de tudo para não andar com ele (exceto quando saio com o baixo acústico). Vivo andando de ônibus e essa é a minha principal explicação para a quantidade de livros que leio.

Eu posso estar errado em vários desses levantamentos e posso estar errado mesmo em todas, mas continuarei pensando, afinal de contas, o meu e o seu pensamento também é um fator humano...

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Maioridade penal e minha vergonha de ser brasileiro.

A representação política brasileira de um sistema completamente falido. COMPLETAMENTE FALIDO. Não me interessa se da pseudo esquerda ou pseudo direita. Uma vez lá, eles ditam as regras (e as novas regras) em benefício próprio. Aumentam seus próprios salários, criam esse benefício, bolsa terno da vida e coisas do tipo. Para mim, está mais do que claro. Óbvio, mas entendo que as mídias conseguem vender bem uma ideia contrária.

Não acho que quem é a favor da diminuição da maioridade penal seja exatamente um desalmado como costuma ser o atual pensamento de extremos em tempos de internet.

Penso que seja hora do brasileiro procurar outras saídas. Essa luta dos vermelhos contra os azuis não da em nada desde sempre. Enquanto em alguns países mais desenvolvidos (do ponto de vista de educação básica) fecha presídios para abrir centros de cultura, o Brasil vai sendo Brasil. Vai aqui um link sobre o fechamento de 8 presídios na Holanda e 4 na Suécia.

Vergonha de ser brasileiro.

Eu sou um cara de números. Estatísticas. Prefiro tentar números corretos, ou mesmo os ainda não pensados do que continuar seguindo os que nunca deram certo, mas... tem quem goste...


Segue na foto em destaque o Fausto Pinato do PRB-SP comemorando a redução da maioridade penal junto de outros políticos.

Chico Science é quem estava certo. No Brasil, o de cima sobe e o de baixo desce...

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Chororo político



Duas observações:

1. É a dita democracia que está colocando esses políticos no poder, então, do ponto de vista democrático, não se tem muito o que fazer a não ser aceitar.

2. Se com o passar do mandato, boa parcela da população se arrepender do voto dado e não honrado, existem soluções.

Obviamente que a classe política nunca está afim de que saibamos, mas vamos lá:

 Impeachment ou impugnação de mandato é um termo do inglês que denomina o processo de cassação de mandato do chefe do poder executivo pelo congresso nacional, pelas assembléias estaduais ou pelas câmaras municipais. A denúncia válida pode ser por crime comum, crime de responsabilidade, abuso de poder, desrespeito às normas constitucionais ou violação de direitos pétreos previstos na constituição.

Para que se desencadeie o processo de impeachment, é necessário motivação, ou seja, é preciso que se suspeite da prática de um crime ou de uma conduta inadequada para o cargo.

Mas e Recall, já ouviu falar? O procedimento de revogação do mandato pode ocorrer sem nenhuma motivação específica. Ou seja, o recall é um instrumento puramente político.

No recall, é o povo que toma a iniciativa de cassar ou não o mandato.

Resumindo: no impeachment, o procedimento é geralmente desencadeado e decidido por um órgão legislativo, enquanto que, no recall, é o povo que toma diretamente a decisão de cassar ou não o mandato.

domingo, 17 de agosto de 2014

Selfie-se quem puder...


Hoje em dia, está difícil. A internet parece o trânsito onde todo mundo é mal educado, só que lá, o carro vai embora e pronto. Na internet, somos mal educados com nossos amigos e eles não vão embora, respondem, trocam farpas e por vezes perde-se a amizade...

O tempo muda as ferramentas, as formas e abordagens e penso que temos que repensar para não cometermos erros de julgamento instantâneo como tenho visto na net.

O "curtir" do Facebook não significa necessariamente curtir. Essa semana mesmo uma amiga postou que seu pai havia falecido. Muita gente curtiu e penso que seja um ato sem pensar, um ok, estou ciente e não o curtir no sentido de gostei. Eu não consigo curtir uma mensagem assim. Comento e pronto, mas o curtir, tomou outros sentidos.

Selfie? Vamos lá. Na foto que ilustra a postagem, uma mulher faz um selfie que também hoje já tem outra função de "checar" onde a pessoa estava no momento. São quase foto-diário.

Mas as "selfies da Marina"? Me poupem... ali não houve selfie. Ali houve pessoas querendo tirar foto com uma "celebridade". O que queriam que ela fizesse? Desse a cara e negasse a foto? Que fizesse com a cara emburrada? 

Tá difícil.... selfie-se quem puder....

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A morte...Ah morte

Imagrm retirada da internet

Os dias andam esquisitos (ou completamente normais visto que seres vivos morrem?)

Sei que esses dias andam nos preparando surpresas talvez pela popularidade dos que estão nos deixando.

Uma trinca da pesada de escritores e logo as redes sociais estavam repletas de citações deles. Alguns reclamavam que as pessoas talvez nunca houvessem lido uma única frase de cada autor. Não vejo muito problema nisso. Se for o "start"? E mesmo que não seja.

3 casos no entanto me deram um embrulho no estômago essa semana.

1) Torcida do Grêmio cantando Fernandão morreu;
2) As piadas e desdém do ator Robin Willians;
3) Eduardo Campos (e todas as outras pessoas na aeronave) e piadas e aproveitamento político da situação.

Morte é morte e respeito ao próximo é o mínimo se quisermos evoluir quanto à convivência social.

P.S.: Fica aqui minha nota de repúdio ao Pastor Daniel Vieira que disse que deveria ser a Dilma que deveria estar nesse acidente.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Estamos assistindo ao fim da democracia representativa!

Por Leo Mackllene

Nossos olhos focados em Israel e Palestina desviam nossa percepção desse momento pós-copa que estamos vivendo, de intensa politização e, ao mesmo tempo, de manipulação e omissão das informações.

A forma partido chegou em seu limite: A democracia representativa chegou no seu esgotamento total. Daqui pra frente é crise e estagnação, enquanto permanecermos assim. Esperem por 2015!!!

Não se trata de uma revolta, uma rebeldia, uma raiva adolescente e roqueira... É uma nova condição histórica. Não tem a ver com ser contra a corrupção... O discurso da corrupção é infantil e esconde as estruturas corrosivas que precisam ser derrubadas.

Todos os partidos de esquerda hoje (PSOL, o ex-PT, PSTU etc.) não poderão fazer nada além do que já foi feito. O que foi feito é o que foi permitido dentro da forma-partido. O voto nulo não traduz uma revolta. Traduz um esgotamento histórico.

Estamos assistindo ao fim da democracia representativa!

Há muito, o político deixou de ser o militante social. Ele é um profissional. E sua campanha não traduz nada além da sua própria vontade e necessidade de defender o seu próprio emprego.

Pra assistir e refletir:



terça-feira, 29 de julho de 2014

Tem dado em casa?



Eu tenho alguns aqui:

10% dos processos das pessoas chegam ao final pelo marasmo da justiça brasileira.

100% se for do estado para com o manifestante. Em tempo recorde.

Nenhum policial foi realmente punido. No máximo um banco. Tem uns que já estão na ativa novamente.

Algumas vítimas de ações policiais mesmo quando em trabalho tiveram suas vidas alteradas.

E se você não entende muito bem como funciona a democracia representativa, ela não tem representa.

Na Venezuela, o governo reconhece a prisão de 3200 manifestantes, estranhamente não se fala mais nisso por aqui...

domingo, 27 de julho de 2014

Não interessa



Não interessa que estejamos passando pelo maior processo político contra ativistas desde o regime militar...

Não interessa que o judiciário tenha cedido cópia integral do processo para a Globo...

Não interessa que a polícia militar tenha tentado invadir o consulado do Uruguai...

Não interessa que integrantes da Fifa tenham sido presos com provas mais contundentes e robustas de formação de quadrilha...


Como leigo em assuntos jurídicos, tento entender os que do ramo são. Aqui vai uma explicação, assinada por nada mais do que 93 advogados, juízes, professores de direito: Manifesto de juristas contra a criminalização das lutas sociais...

Não interessa o massacre da mídia aos ativistas para perpetrar tudo o que aí está, mas recorro outra vez aos entendedores. Dessa vez da mídia. Observatório da imprensa atentando para táticas utilizadas quando do tempo da ditadura...

Não interessa o que acontece na Venezuela se politicamente estamos alinhados aos seus líderes, mas parece interessar na Faixa de Gaza (e sim, tem que interessar)...

Não interessa um policial assassinar 8 pessoas da classe média baixa em Carapicuíba sendo uma delas uma gestante de 3 meses...

Parece que o mundo anda bem desinteressante...

terça-feira, 22 de julho de 2014

Por quê faltou?



Um copo d'água não se deve negar a ninguém. Dito popular que escuto desde quando criança e que deve ter sua origem ainda mais longínqua. Não faço a menor ideia de quando possa ter surgido na verdade.

Variação para os tempos de hoje e de toda modernidade é que não se nega wi fi para ninguém...

É... Geraldo Alckmin... deve ter sido você que semeou esse novo ditado sabendo que não ia haver mais água...

O que temos de mais bizarro é que apontam a falta d'água por anos e anos (cerca de 20) de má administração do sistema que abastece São Paulo. Duas décadas sem investir na demanda que cresce em São Paulo, sem contar que sempre soube-se que cerca de 30% da água se perde pelo meio do caminho com vazamentos antes mesmo de chegar em nossa torneira.

Como diz uma certa propaganda aí: Sabendo usar, não vai faltar!

Por quê faltou?

Pesquisas apontam que a copa afeta mais nos votos do que a falta d'água. Sorte do governador por que ela vai faltar na sua torneira somente depois das eleições...

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Legado da copa



Antes de tudo, a copa dentro de campo foi linda, inesquecível, mas a vida segue. E agora?

Confesso que me segurei por toda a copa do mundo para não falar de política e ser acusado de estar jogando contra ela e se tem alguém que se diverte tal criança em jogos de copa do mundo (menos nos jogos do Brasil onde quase infarto), esse alguém, sou eu. Continuo mantendo a minha média para lá de alta em jogos da copa. Nas últimas 4 copas, não vi apenas 17 jogos. Houve uma copa que não vi apenas 2 jogos (na hora em que havia dois jogos, eu assistia depois na íntegra o jogo).

Mas, como o caso agora é misturar, vamos lá... quase nenhum benefício para a população antes da copa que realmente vai mudar e melhorar a vida do brasileiro aconteceu. E durante? E agora depois dos jogos onde o "estado de exceção" tomou conta do Brasil?

Uma defesa comumente utilizada para desqualificar a opinião de alguém sobre um assunto, é recorrer a falta de conhecimento de dada área por quem fala. Pois bem, eu apenas concordo com tudo o que foi falado abaixo por Jorge Luiz Souto Maior que é professor docente de direito do trabalho brasileiro na Usp, Brasil desde 2001. É juiz titular na 3ª Vara do trabalho de Jundiaí desde 1998, palestrante e conferencista.

A única observação que faço é que ele levantou estas questionamentos antes da copa começar. Cabe agora apenas ficar atento ao restante:

1. A perda do sentido humano

O debate entre os que defendem a causa “não vai ter copa” e os que afirmam “vai ter copa” está superado. Afinal, haja o que houver, o evento não vai acontecer, ao menos no sentido originariamente imaginado, como instrumento apto a gerar lucros e dividendos políticos “limpinhos”, como se costuma dizer, pois não é mais possível apagar os efeitos deletérios que a Copa já produziu para a classe trabalhadora brasileira. É certo, por exemplo, que para José Afonso de Oliveira Rodrigues, Raimundo Nonato Lima Costa, Fábio Luiz Pereira, Ronaldo Oliveira dos Santos, Marcleudo de Melo Ferreira, José Antônio do Nascimento, Antônio José Pitta Martins e Fabio Hamilton da Cruz, mortos nas obras dos estádios, já não vai ter Copa!
Aliás, a Copa já não tem o menor valor para mais de 8.350 famílias que foram removidas de suas casas no Rio de Janeiro, em procedimento que, como adverte o jornalista Juca Kfouri, no documentário, A Caminho da Copa, de Carolina Caffé e Florence Rodrigues, “lembram práticas nazistas de casas que são marcadas num dia para serem demolidas no dia seguinte, gente passando com tratores por cima das casas”. Essas práticas, segundo relatos dos moradores, expressos no mesmo documentário, incluíram invasões nas residências, para medir, pichar e tirar fotos, estabelecendo uma lógica de pressão a fim de que moradores assinassem laudos que atestavam que a casa estava em área de risco, sob o argumento de que na ausência de assinatura nada receberiam de indenização, o que foi completado com o uso da Polícia para reprimir, com extrema violência, os atos de resistência legítima organizados pelos moradores, colimando com demolições que se realizaram, inclusive, com pessoas ainda dentro das casas. As imagens do documentário mencionado são de fazer chorar e de causar indignação, revolta e repúdio, como o são também as imagens da violência utilizada para a desocupação de imóvel da VIVO na zona norte do Rio de Janeiro, ocorrida no dia 11 de abril de 2014, onde se encontravam 5.000 pessoas. Lembre-se que as remoções para a Copa ocorreram também em Cuiabá, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Manaus, São Paulo e Fortaleza, atingindo, segundo os Comitês Populares da Copa, cerca de 170 mil famílias em todo o Brasil.
A Copa já não tem sentido para o Brasil, como nação, visto que embora sejam gastos cerca de R$ 30 bilhões para o montante total das obras, sendo 85% vindos dos cofres públicos, a forma como se organizou – ou não se organizou – a Copa acabou abalando a própria imagem do Brasil. Ou seja, mesmo se pensarmos o evento do ponto de vista econômico e ainda que, imediatamente, se possa chegar a algum resultado financeiro positivo, considerando o que se gastou e o dinheiro que venha a ser atraído para o mercado nacional, é fácil projetar um balanço negativo em razão da quebra de confiabilidade.
Se o Brasil queria se mostrar, como de fato não é, para mais de 2 bilhões de telespectadores, pode estar certo de que a estratégia já não deu certo.
A propósito, a própria FIFA, a quem se concederam benefícios inéditos na história das Copas, tem difundido pelo mundo uma imagem extremamente negativa do Brasil, que até sequer corresponde à nossa realidade, pois faz parecer que o Brasil é uma terra de gente preguiçosa e descomprometida, quando se sabe que o Brasil, de fato, é um país composto por uma classe trabalhadora extremamente sofrida e dedicada e onde se produz uma inteligência extremamente relevante em todos os campos do conhecimento, mas que, enfim, serve para demonstrar que maquiar os nossos problemas sociais e econômicos não terá sido uma boa estratégia.

2. Ausência de beneficio econômico

Mesmo que entre perdas e ganhos o saldo econômico seja positivo, há de se indagar qual o preço pago pela população brasileira, vez que restará a esta conviver por muitos anos com o verdadeiro legado da Copa: alguns estádios fantasmas e obras inacabadas, nos próprios estádios e em aeroportos e avenidas, além da indignação de saber que os grandes estádios e as obras em aeroportos custaram milhões aos cofres públicos, mas que, de fato, pouca serventia terão para a maior parte da classe operária, que raramente viaja de avião e que tem sido afastada das partidas de futebol, em razão do processo notório de elitização incrementado neste esporte.
Oportuno frisar que o dinheiro público utilizado origina-se da riqueza produzida pela classe trabalhadora, vez que toda riqueza provém do trabalho e ainda que se diga que não houve uma transferência do dinheiro público para o implemento de uma atividade privada, vez que tudo está na base de empréstimos, não se pode deixar de reconhecer que foram empréstimos com prazos e juros bastante generosos, baseados na previsibilidade de ganhos paralelos com o evento, ganhos que, no entanto, já se demonstram bastante questionáveis.
No caso do estádio Mané Garrincha, em Brasília, por exemplo, com custo final estimado em R$1,9 bilhões, levando-se em consideração o resultado operacional com jogos e eventos obtidos em um ano após a conclusão da obra, qual seja, R$1.137 milhões, serão precisos 1.167 anos para recuperar o que se gastou, o que é um absurdo do tamanho do estádio, ainda que o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e o secretário executivo da pasta, Luis Fernandes, tenham considerado o resultado, respectivamente, “um êxito” e “um exemplo contra o derrotismo”.
O problema aumenta, gerando indignação, quando se lembra que não se tem visto historicamente no Brasil – desde sempre – a mesma disposição de investir dinheiro público em valores ligados aos direitos sociais, tais como educação pública, saúde pública, moradias, creches e transporte.
O que se sabe com certeza é que a FIFA, que não precisa se preocupar com nenhum efeito social e econômico correlato da Copa, obterá um enorme lucro com o evento. “Uma projeção feita pela BDO, empresa de auditoria e consultoria especializada em análises econômicas, financeiras e mercadológicas, aponta que a Copa do Mundo de 2014 no Brasil vai render para a Fifa a maior arrecadação de sua história: nada menos do que US$ 5 bilhões entrarão nos cofres da entidade (cerca de R$ 10 bilhões).”

3. O prejuízo para o governo

O governo brasileiro, que tenta administrar todos os prejuízos do evento, vê-se obrigado, pelo compromisso assumido por ocasião da candidatura, a conferir para a FIFA garantias, que ferem a Constituição Federal e que, por consequência, estabelecem um autêntico Estado de exceção, para que o lucro almejado pela FIFA não corra risco de diminuição, entregando-lhe, além dos estádios, que a FIFA utilizará gratuitamente:
a) a criação de um “local oficial de competição”, que abrange o perímetro de 2 km em volta do estádio, no qual será reservada à FIFA e seus parceiros, a comercialização exclusiva, com proibição do livre comércio, inclusive de estabelecimentos já existentes no tal, caso seu comércio se relacione de alguma forma ao evento;
b) a institucionalização do trabalho voluntário, para serviços ligados a atividade econômica (estima-se que cerca de 33 mil pessoas terão seu trabalho explorado gratuitamente, sem as condições determinadas por lei, durante o período da Copa no Brasil);
c) o permissivo, conferido pela Recomendação n. 3/2013, do CNJ, da exploração do trabalho infantil, em atividades ligadas aos jogos, incluindo a de gandula, o que foi proibido, ainda que com bastante atraso, em torneios organizados pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), desde 2004, seguindo a previsão constitucional e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);
d) a liberdade de atuar no mercado, sem qualquer intervenção do Estado, podendo a FIFA fixar o preço dos ingressos como bem lhe aprouver (art. 25, Lei Geral da Copa);
e) a eliminação do direito à meia-entrada, pois a Lei Geral da Copa permitiu à FIFA escalonar preços em 4 categorias, que serão diferenciadas, por certo, em razão do local no estádio, sendo fixada a obrigatoriedade de que se tenha na categoria 4, a mais barata (não necessariamente com preço 50% menor que a mais cara), apenas 300 mil ingressos, sem quórum mínimo para cada jogo, e apenas dentre estes é que se garantiu a meia entrada para estudantes, pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos; e participantes de programa federal de transferência de renda, que, assim, foram colocados em concorrência pelos referidos ingressos;
f) o afastamento da aplicação do Código de Defesa do Consumidor, deixando-se os critérios para cancelamento, devolução e reembolso de ingressos, assim como para alocação, realocação, marcação, remarcação e cancelamento de assentos nos locais dos Eventos à definição exclusiva da FIFA, a qual poderá inclusive dispor sobre a possibilidade: de modificar datas, horários ou locais dos eventos, desde que seja concedido o direito ao reembolso do valor do ingresso ou o direito de comparecer ao evento remarcado; da venda de ingresso de forma avulsa, da venda em conjunto com pacotes turísticos ou de hospitalidade; e de estabelecimento de cláusula penal no caso de desistência da aquisição do ingresso após a confirmação de que o pedido de ingresso foi aceito ou após o pagamento do valor do ingresso, independentemente da forma ou do local da submissão do pedido ou da aquisição do Ingresso (art. 27).

4. O prejuízo para a cidadania

Para garantir mesmo que o lucro da FIFA não seja abalado, o Estado já anunciou que o evento terá o maior efetivo de policiais da história das Copas, com gasto estimado de 2 bilhões de reais, mobilizando, inclusive, as Forças Armadas, tudo isso não precisamente para proteger o cidadão contra atos de violência urbana, mas para impedir que o cidadão, vítima da violência da Copa, possa se insurgir, democraticamente, contra a sua realização.
A respeito das manifestações, vale frisar, é completamente impróprio o argumento de que como nada se falou antes, agora é tarde para os cidadãos se insurgirem. Primeiro, porque quando o compromisso foi firmado ninguém foi consultado quanto ao seu conteúdo. E, segundo, porque nenhum silêncio do povo pode ser utilizado como fundamento para justificar o abalo das instituições do Estado de Direito, vez que assim toda tirania, baseada na força e no medo, estaria legitimada. O argumento, portanto, é insustentável e muito grave, sobretudo no ano em que a sociedade brasileira se vê diante do desafio de saber toda a verdade sobre o golpe de 1964 e os 21 anos da ditatura civil-militar.
Deve-se acrescentar, com bastante relevo, que o evento festivo, composto por alguns jogos de futebol, está sendo organizado de modo a abranger toda a sociedade brasileira, impondo-lhe os mais variados sacrifícios, pois impõe uma intensa alteração da própria rotina social, atingindo a pessoas que nenhuma relação possuem com o evento ou mesmo que tenham aversão a ele.
O próprio calendário escolar foi alterado, para que não houvesse mais aulas durante a Copa, buscando, de fato, melhorar artificialmente o trânsito e facilitar o acesso aos locais dos jogos. A educação, que é preceito fundamental, que se arranje, pois, afinal, é ano da Copa! Algumas cidades, para melhor atingir esse objetivo da facilitar a circulação, mascarando os problemas do transporte, pensam, seriamente, em decretar feriados nos dias de jogo da seleção brasileira, interferindo, também, na lógica produtiva nacional.
Nos serviços públicos já se anunciaram alterações nos horários de funcionamento, de modo a não permitir coincidência com os dias de jogos do Brasil, sendo que em alguns Tribunais do Trabalho (Mato Grosso – em Cuiabá e nas cidades do interior; Rio Grande do Sul e São Paulo, com diferenças de intensidade e de datas); o funcionamento foi suspenso, gerando adiamento das audiências… Ou seja, o trabalhador, que esperou meses para ser atendido pela Justiça, verá sua audiência adiada para daqui a alguns novos meses, pois, afinal, era dia de jogo da Copa!
Somados todos esses fatores, é fácil entender que a Copa já perdeu todo o sentido para a nação brasileira. Não por outra razão, aliás, é que a aprovação para a realização da Copa no Brasil, em novembro de 2008, que era de 79% caiu, em abril de 2014, para 48%, e os que eram contrários subiram, no mesmo período, de 10% para 41%, sendo que mais da metade dos brasileiros considera que os prejuízos serão maiores que os ganhos.

5. O prejuízo para a razão

Numa leitura otimista, o diretor-geral do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo Fifa 2014, que se chama, por coincidência reveladora, Ricardo Trade (comércio, em inglês), prefere dar destaque ao fato de que 48% são a favor e apenas 41% são contra, avaliando, então, que o copo está meio cheio. Só não consegue ver que o copo está esvaziando e que, de fato, nos trens e ônibus, que transportam os trabalhadores, só se fala da Copa para expressar indignação com relação às condições do transporte, da saúde, das escolas, e da falta de creches. Sintomático, aliás, o fato de que as periferias das grandes cidades não estão pintadas para a “festa” do futebol, como estavam nas Copas anteriores e isso porque, com a Copa sendo realizada aqui, é possível ver as disparidades e perceber com maior facilidade como a retórica do legado não atinge, concretamente, a vida da classe trabalhadora.
Os tais empregos gerados são precários e inseridos, sobretudo nas obras de estádios, aeroportos e vias públicas, na lógica perversa da terceirização, sendo que muitos trabalhadores ainda serão explorados sem qualquer remuneração no mal denominado trabalho “voluntário”, referido com orgulho pelo “Senhor Comércio”.
Fato é que não será mais possível assistir a um jogo da Copa, no estádio, pela TV ou nos circos armados do “Fan Fest” e se emocionar com uma jogada ou um gol, sem lembrar do preço pago: assalto à soberania; Estado de exceção; gastos públicos; abalo da confiabilidade em razão da desorganização; violências dos despejos, dos acidentes de trabalho e da repressão policial…
Sobre o Fan Fest, ademais, é oportuno esclarecer que se trata de um “evento oficial” da Copa da FIFA, que deve ser organizado e custeado pelas cidades sedes de jogos, para que os excluídos dos estádios possam assistir aos jogos por um telão, com o acompanhamento de shows. Esse evento, organizado e pago pelo Estado (que se fará em São Paulo mediante pareceria com o setor privado, conforme Comunicado de Chamamento Público n. 01/2014/SMSP, que estabeleceu o prazo de uma semana para o oferecimento de ofertas), realizado em espaço público, atende aos interesses privados da FIFA e suas parceiras. No caso da cidade de São Paulo, por exemplo, o Decreto n. 55.010, de 9 de abril de 2014, assinado pela vice-prefeita em exercício, Nádia Campeão (em nova coincidência reveladora), que regulou o evento, transforma a área pública do Fan Fest em uma área privada, reservada, como dito no Decreto, aos fãs da Copa. Nos termos expressos no Decreto: “FAN FEST: área do Vale do Anhangabaú indicada pela cidade-sede e reconhecida pela FIFA como área de lazer exclusiva aos fãs da Copa do Mundo FIFA 2014” (inciso VIII, do art. 2º.) – grifou-se
O mesmo Decreto fixa esse local, o do Fan Fest, como área de “restrição comercial”, que são “áreas definidas pelo Poder Público Municipal com perímetros restritos no entorno de locais oficiais específicos de competição, nas quais, respeitadas as normas legais existentes, fica assegurada a exclusividade prevista no artigo 11 da Lei Federal nº 12.663, de 2012, à FIFA ou a quem ela autorizar” (inciso XIII, do art. 2º.), valendo reparar que o Decreto, artificialmente, amplia, em muito, a extensão geográfica do Vale do Anhangabaú: “FAN FEST: a partir do Largo da Memória, Rua Formosa, Viaduto do Chá, Praça Ramos de Azevedo, Rua Conselheiro Crispiniano, Rua Capitão Salomão, Praça Pedro Lessa, Largo São Bento, Rua Florêncio de Abreu, Rua Boa Vista, Rua Líbero Badaró, Praça do Patriarca, alça de retorno da Av. 23 de Maio do sentido Bairro/Centro para o sentido Centro/Bairro, Av. 23 de Maio, entre o Largo da Memória e o Viaduto do Chá, conforme Anexo II deste decreto” (inciso II, do art. 3º.), atingindo até mesmo o espaço aéreo: “Os espaços aéreos correspondentes aos perímetros descritos nos incisos I e II do “caput” deste artigo também se constituem em áreas de restrição comercial” (parágrafo único do art. 3º.).
É importante saber que ao se impedir a comercialização na área reservada a Prefeitura de São Paulo acabou interrompendo um processo de negociação, iniciado em maio de 2012, com os ambulantes que atuavam na cidade e, em especial, na região central, onde se situa o Vale do Anhangabaú, e cuja licença havia sido cassada no contexto de uma política de endurecimento muito forte quanto à fiscalização de sua atuação, que fora intensificada, exatamente, a partir de 2011, quando houve a assinatura do termo de compromisso, anunciando São Paulo como uma das cidades sedes da Copa. Em 2012, acabaram sendo canceladas todas as 5.137 licenças dos ambulantes e até hoje, mesmo após instaurado, desde 2012, um grupo de trabalho tripartite – trabalhadores, sociedade civil e prefeitura (Fórum dos Ambulantes), para a discussão do problema, nada se resolveu e, em concreto, ao editar o Chamamento Público acima citado, a Prefeitura acabou dificultando sobremaneira a pretensão dos ambulantes de terem alguma atuação comercial durante a Copa. É a Copa, na verdade, fechando postos de trabalho!

6. De novo o dinheiro

Há de se considerar que todos esses efeitos já foram produzidos e continuarão repercutindo na vida real para além da Copa, ainda que o saldo econômico desta venha a ser positivo.
E se o tema é dinheiro, há de se indagar: dinheiro para quem, cara pálida? É evidente que o benefício econômico não ficará para a classe trabalhadora e sim para quem explora o trabalho ou se vale da lógica de reprodução do capital. Para o trabalhador, o dinheiro que se direciona é o fruto do trabalho realizado, que, de fato, na lógica do modelo de sociedade capitalista, não representa, jamais, o equivalente necessário para restituir à classe trabalhadora como um todo o valor do trabalho empregado no serviço ou na obra. A lógica econômica da Copa não é outra coisa senão a intensificação do processo de acumulação de riqueza por meio da exploração do trabalho alheio, sendo que se considerarmos a utilização do denominado “trabalho voluntário”, que se realizará sem qualquer custo remuneratório, a acumulação que se autoriza é ainda maior.
O tal efeito benefício econômico, a que tanto se alude, portanto, não será, obviamente, revertido à classe trabalhadora. Esta, inclusive, será enormemente prejudicada, na medida em que o dinheiro público utilizado para financiar a atividade lucrativa de índole privada foi extraído da tributação realizada sobre a riqueza produzida pelo trabalho e que, assim, deveria ser, prioritariamente, revertida ao conjunto da classe trabalhadora para a satisfação das necessidades essenciais garantidas por preceitos constitucionais: escolas, hospitais, previdência e assistência social, creches e transporte, por exemplo. É completamente ilógico dizer, como disse o diretor-geral do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo Fifa 2014, no texto mencionado, que se está usando o dinheiro público para incentivar uma produção privada com o objetivo de, ao final, tributar essa produção e devolver o dinheiro aos cofres públicos.
O argumento seria apenas ilógico não fosse, também, digamos assim, carregado de alguns equívocos, o que o torna, portanto, muito mais grave. Ora, como adverte Maurício Alvarez da Silva, pelos termos da Lei Geral da Copa, Lei n. 12.350/10, “foi concedida à Fifa e sua subsidiária no Brasil, em relação aos fatos geradores decorrentes das atividades próprias e diretamente vinculadas à organização ou realização dos Eventos, isenção de praticamente todos os tributos federais” .
Além disso, em 17 de maio de 2013, o governo federal publicou no “Diário Oficial da União decreto que concede isenção de tributos federais nas importações destinadas à Copa das Confederações neste ano e à Copa do Mundo de 2014. Entre os produtos incluídos na isenção estão alimentos, suprimentos médicos, combustível, materiais de escritório, troféus. O benefício abrange Imposto sobre Produtos Industrializados incidente na importação, Imposto de Importação, PIS/Pasep-Importação, Cofins-Importação, Taxa de utilização do Siscomex, Taxa de utilização do Mercante, Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante e Cide-combustíveis”.
Em concreto, continuarão sendo tributados apenas as empresas nacionais, que não estejam integradas ao rol das apaziguadas da FIFA, sofrendo, ainda, com a isenção concedida às importadoras, os trabalhadores e os consumidores, sendo que o valor circulado nesta seara é ínfimo se considerarmos aquele, sem tributação, destinado à FIFA e suas parceiras e às importadoras.

7. De novo os ataques aos trabalhadores

Quando os trabalhadores, saindo da invisibilidade, se apresentam no cenário político e econômico e se expressam no sentido de que planejam uma organização coletiva para tentarem diminuir o prejuízo, buscando, por meio de reivindicações grevistas, atrair para si uma parte maior do capital posto em circulação em função da Copa, logo algum economista de plantão vem a público com a ameaça de que tais ganhos podem resultar em demissões futuras.
Mas, essa possibilidade aventada pelos trabalhadores de se fazerem ouvir na Copa, que pode, em concreto, minimizar o prejuízo dos trabalhadores, no processo de acumulação, e do país, na evasão de riquezas, acabou provocando uma reação institucional imediata, afinal o compromisso assumido pelo Estado brasileiro foi o de permitir que a FIFA obtivesse o seu maior lucro da história. Então, a Justiça do Trabalho se adiantou e divulgou que vai estabelecer um sistema de plantão para julgar, com a máxima celeridade (de um dia para o outro), as greves que ocorram durante a Copa, com o pressuposto já anunciado de que “as greves têm custo para os trabalhadores, empregadores e população”, sendo certo que a Copa não pode ser usada para “expor o país a uma humilhação internacional, como no Carnaval, quando houve greve de garis”.
Pouco importa o quanto a Justiça do Trabalho, historicamente, demora para dar respostas aos direitos dos trabalhadores, no que se refere às diversas formas de violências de que são vítimas em razão das práticas de algumas empresas no que tange à falta de registro, ao não pagamento de verbas rescisórias, ao não pagamento de horas extras, ao não pagamento de indenizações por acidentes do trabalho etc. Mesmo que já tendo melhorado sobremaneira na defesa dos interesses dos trabalhadores, transmite ainda a ideia central de que o que importa é ser célere quando isso interessa ao modelo econômico, que se vale da exploração do trabalho para reproduzir o capital.
A iniciativa repressiva da Justiça, ademais, foi aplaudia, rapidamente, por editorial do jornal Folha de S. Paulo, o qual, inclusive, em declaração, no mínimo, infeliz, chamou os trabalhadores de oportunistas:
É uma iniciativa elogiável para evitar o excesso de oportunismo sindical, que não hesita em prejudicar o público e ameaçar o principal evento do ano no país.
Ou seja, todo mundo pode ganhar, menos os trabalhadores. Parodiando a máxima penal, é como se lhes fosse dito: “tudo que vocês ganharem pode ser utilizado contra vocês mesmos…”
Como foram as condições de trabalho nas obras? Quantos trabalhadores não receberam ainda os seus direitos por serviços que prestaram para a realização da Copa? Segundo preconizado pelo viés dessa preocupação, nada disso vem ao caso… Na visão dos que só veem imperativo obrigacional de realizar a Copa, como questão de honra, custe o que custar, o que importa é que o “público” receba o proveito dos serviços dos trabalhadores e se estes não ganham salário digno ou se trabalham em condições indignas não há como trazer à tona, para não impedir a realização do evento e para não abalar a imagem no Brasil lá fora.
Mas, concretamente, que situação pode constranger mais a figura do Brasil no exterior? O Brasil que faz greves? Ou o Brasil em que os trabalhadores são submetidos a condições subumanas de trabalho e que não permite que esses mesmos trabalhadores, em geral invisíveis aos olhos das instituições brasileiras, se insurjam contra essa situação, tendo que aproveitar o momento de um grande evento para, enfim, ganhar visibilidade, inclusive, internacional?
Na verdade, a humilhação internacional, a qual não se quer submeter o Brasil, é a de que o mundo saiba como o capitalismo aqui se desenvolve, ainda marcado pelos resquícios culturais de quase 400 anos de escravidão e sem sequer os limites concretos da eficácia dos Direitos Humanos e dos direitos sociais, promovendo, em concreto, uma das sociedades mais injustas da terra.

8. O perverso legado das condições de trabalho na Copa

Do ponto de vista da realidade, é preciso consignar que a pressa na execução das obras ainda tem aumentado a espoliação da classe trabalhadora com elevação das jornadas de trabalho, cuja retribuição, ainda que paga, nunca é suficiente para atingir o nível da equivalência, ainda mais quando são implementadas fórmulas jurídicas fugidias do efetivo pagamento (banco de horas, compensações etc.). O trabalho em jornadas extraordinárias, ademais, gera um desgaste físico e mental do trabalhador que não é computado e não se compensa por pagamento.
Além dos acidentes do trabalho citados inicialmente, portanto, é importante adicionar ao legado da Copa para a classe trabalhadora as más condições de trabalho, caracterizadas pela elevação das jornadas de trabalho, pelo aumento do ritmo do trabalho e da pressão pela celeridade.
O relato de alguns fatos, extraídos do noticiário jornalístico, auxilia na visualização desse contexto de supressão de direitos dos trabalhadores no período de preparação para a Copa.
Em setembro de 2013, 111 migrantes, vindos do Maranhão, Sergipe, Bahia e Pernambuco foram encontrados em condições análogas à de escravos na obra de ampliação do aeroporto de Guarulhos/SP, o mais movimentado da América Latina, sob a responsabilidade da empresa OAS, que além de ser uma das maiores construtoras do Brasil, é também a terceira empresa que mais faz doações a candidatos de cargos políticos, segundo levantamento do jornal Folha de S. Paulo, sendo uma das quatro empresas que formam o consórcio Invepar que, junto com a Airports Company South Africa, detêm 51% da sociedade com a Infraero para a administração do Aeroporto Internacional de Guarulhos através da GRU Airport e que para as obras de ampliação do aeroporto, onde foi flagrado trabalho escravo, obteve do BNDES um empréstimo-ponte de R$1,2 bilhões.
E a OAS, evidentemente, declarou que “vem apurando e tomando todas as providências necessárias para atender às solicitações” do Ministério do Trabalho e Emprego, negando que as vítimas fossem suas empregadas ou que tivesse tido qualquer “participação no incidente relatado” .
Até abril de 2012, conforme reportagem de Vinícius Segalla, oito dos doze estádios da Copa já haviam enfrentado greves, atingindo 92 dias de paralisação, sendo o recorde do Maracanã, no Rio de Janeiro, com 24 dias. As reivindicações foram variadas, indo desde questões ligadas à remuneração até o desrespeito de direitos como pagamento de horas extras e fornecimento de planos de saúde. Segundo a reportagem, “Em uma das quatro paralisações já ocorridas em Pernambuco, no início de novembro do ano passado, o motivo foi a forma como a Odebrecht lidou com as reivindicações dos trabalhadores. É que a empreiteira demitiu dois funcionários da arena que eram membros da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) porque eles teriam incitado os trabalhadores a fazer greve. A demissão dos operários, junto com denúncias de assédio moral supostamente praticados pelo responsável pela segurança do canteiro, levou os funcionários a decretar greve.”
Também nos termos da reportagem, “a empresa explicou ao UOL Esporte que ‘Os dois empregados membros da Cipa foram demitidos por justa causa, por cometimento de flagrante ato de indisciplina, quando, no último dia 31 de outubro, instigaram os colegas a paralisarem a obra da Arena da Copa, sem nenhuma razão plausível’.” Embora, depois, por meio de nota tenha dito que as dispensas se deram sem justa causa.
A situação, revela a mesma reportagem, foi também bastante séria na greve do Maracanã, em setembro de 2011, cuja motivação, segundo Nilson Duarte, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada (Sitraicp), teria sido o fato de que “foram servidos aos cerca de 2.000 trabalhadores da obra macarrão e feijão estragados, salada com bichos e leite fora da validade”, o que fora negado pelo Consórcio Maracanã (Odebrecht, Delta e Andrade Gutierrez), por meio de nota. O local já havia sido alvo de uma greve, um mês antes, agosto de 2011, por causa de uma explosão no canteiro que feriu um trabalhador.
Relata-se, ainda, que em Manaus (AM), na Arena Amazônia, houve paralisação de um dia, em 22 de março de 2012, porque conta do valor da cesta básica que estava sendo paga aos operários, R$ 37, enquanto que “de acordo com pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos ), o valor da cesta básica, composta por 12 produtos, fechou o mês de março a um custo R$ 251,38 na capital amazonense”, tendo a greve se encerrado com o aumento da cesta para R$ 60, acompanhado da promessa da empresa de que iria “voltar a pagar hora extra aos sábados, o que parara de fazer três meses antes”.
Na arena de Pernambuco, no início de 2012, foi promovida a dispensa coletiva de 560 empregados, conforme destacado em reportagem de Paulo Henrique Tavares, que vale a pena reproduzir:
A sexta-feira marcou a volta aos trabalhos dos operários responsáveis pela construção da Arena Pernambuco, na cidade de São Lourenço da Mata. E como “boas-vindas”, 560 trabalhadores acabaram recebendo o comunicado de demissão. A expectativa da comissão organizadora da recente greve, que paralisou as obras do estádio por oito dias, é de que outros mil funcionários peçam a carta de dispensa até o fim da tarde.
Por considerar “abusiva e ilegal”, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-PE) exigiu, na quinta-feira, a volta aos trabalhos dos grevistas, com penalidade de R$ 5 mil, por dia, ao sindicato da categoria, o Sintepav, em caso de descumprimento. Apesar da obrigatoriedade, a ideia dos remanescentes nas obras da Arena Pernambuco é praticar – como os próprios denominam – uma “operação tartaruga”.
“Eu vim preparado para ser demitido. Como não fui, a maneira que encontrei para ajudar meus companheiros é trabalhar de maneira lenta. Cada prego desta Arena irá demorar pelo menos um dia, para ser colocado”, disse um trabalhador, que preferiu não ser identificado. “Eu não tenho prazo para terminar a obra. Quem tem prazo é o governo.”
Antes das demissões, as obras para a Arena da Copa contavam com 2.437 trabalhadores. Já contando com as saídas desta sexta-feira, cerca de 250 novos operários se apresentaram para o trabalho, em São Lourenço da Mata. “Pelo número de polícias que estão aqui na obra hoje, acredito que eles e o governador Eduardo Campo devem colocar a mão na massa para levantar o estádio até a Copa do Mundo”, falou, em tom irônico, um dos novos desempregados.
Entre as reivindicações, os trabalhadores exigiam aumento de benefícios, como cesta básica de R$ 80 para R$ 120, maior participação nos lucros e resultados (PLR), Plano de Saúde para os profissionais e ajudantes, além de abono dos dias parados e estabilidade de um ano para a comissão dos trabalhadores.
A questão pertinente às condições de trabalho chegou a tal extrema que, na Arena do Grêmio (que não está integrada aos jogos da Copa, mas se alimenta da mesma lógica), em outubro de 2011, os próprios trabalhadores pediram sua demissão, como “forma de protesto pelas condições de trabalho impostas pela empreiteira. A maioria dos trabalhadores é do Maranhão e retornará ainda hoje para seu estado natal.”
No estádio do Itaquerão, os operários disseram, em janeiro de 2014, à reportagem do UOL que estavam recebem salário “por fora” (que impede a tributação e não se integra aos demais direitos dos trabalhadores), “para trabalhar mais do que o previsto pelo acordo e evitar que a inauguração do palco de abertura da Copa do Mundo atrase ainda mais”. Segundo consta da reportagem, “Um soldador que trabalha na obra contou à reportagem que espera receber um salário quatro vezes maior do que o normal neste mês devido às horas extras irregulares que está fazendo”.
Segundo a reportagem, o acordo em questão, firmado com o aval do Ministério do Trabalho e Emprego, em 19 de dezembro de 2013, foi o de que estaria autorizado o trabalho em até duas horas extras diariamente, sendo que, anteriormente, dizem os trabalhadores, havia jornadas de até 16 horas. E, presentemente, as horas além das duas extras permitidas, que já é, por si, grave afronta à Constituição, eram trabalhadas sem marcação em cartão de ponto. “Eles [os chefes] falam para a gente: ‘Não pode atrasar’. Ainda tem muita coisa pra fazer e às vezes é melhor mesmo você trabalhar umas horinhas a mais num dia para terminar uma tarefa e já começa num ponto mais a frente no dia seguinte”, disse à reportagem um ajudante de pedreiro, de 23 anos, que, assim como os outros trabalhadores que conversaram com o UOL Esporte, pediu para não ser identificado.
Nos termos da reportagem, “Além do medo de perder o salário adicional, os funcionários da construtora disseram que foram orientados a não dar entrevistas. ‘Teve uma palestra no fim do ano para falar pra gente tomar cuidado com a imprensa, pra não ficar falando qualquer coisa porque isso só atrapalha a gente’, declara o ajudante de pedreiro.”
Como revela notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo, edição de 23/03/14 (p. D-4), foram flagrados pelos jornalistas trabalhadores executando suas tarefas sem as mínimas condições de segurança e de uma subsistência digna em obra do centro de treinamento da seleção da Alemanha no sul da Bahia (Santa Cruz Cabrália).

9. O atentado histórico à classe trabalhadora

A maior parte dos problemas vivenciados pelos trabalhadores nas obras da Copa está ligada à sua submissão ao processo de terceirização e de precarização das condições de trabalho, que acabaram sendo acatados, sem resistência institucional contundente, durante o período de preparação para a Copa, interrompendo o curso histórico que era, até então, de intensa luta pela melhoria das condições de trabalho no setor da construção civil, que é o recordista, vale destacar, em acidentes do trabalho. Essa luta, implementada pelo Ministério Público do Trabalho, tendo como ponto essencial o combate à terceirização, entendida como fator principal da precariedade que gera acidentes, já havia sido, inclusive, encampada pelo Governo Federal, em 2012, ao se integrar, em 27 de abril, ao Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho.
O fato é que o evento Copa, diante da necessidade de se acelerarem as obras, acabou por jogar por terra quase toda, senão toda, a racionalidade que já havia sido produzida a respeito do assunto pertinente ao combate à terceirização no setor da construção civil, chegando-se mesmo ao cúmulo do próprio Superintendente Regional do Trabalho e emprego de São Paulo, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, Luiz Antônio Medeiros, um ex-sindicalista, declarar, sobre as condições de trabalho no Itaquerão, que: “Se esse estádio não fosse da Copa, os auditores teriam feito um auto de infração por trabalho precário e paralisado a obra. Estamos fazendo de conta que não vemos algumas irregularidades” (entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em 03/04/14).
O período da preparação para a Copa, portanto, pode ser apontado como um atentado histórico à classe trabalhadora, que jamais será compensado pelo aludido “aumento de empregos”, até porque, como dito, tais empregos, no geral, se deram por formas precárias. Nas obras o que se viu e se vê – embora não seja visto pelo Ministério do Trabalho e Emprego – são processos de terceirização e quarteirização, sem uma oposição institucional, que, por conseqüência, produz o legado de grave retrocesso sobre o tema, que tende a se estender, perigosamente, para o período posterior à Copa.
Não se pode esquecer que quase todos os acidentes fatais acima mencionados, não por coincidência, atingiram trabalhadores terceirizados, e o Estado de exceção, acoplado ao silêncio institucional sobre as formas de exploração do trabalho (exceção feita a algumas iniciativas individualizadas de membros do Ministério Público do Trabalho) e acatado para garantir a Copa, acabaram servindo como uma luva a certas frações do setor econômico, que serão as únicas, repita-se, que verdadeiramente, se beneficiarão do evento, para desferir novo ataque aos trabalhadores, representado pela tentativa de fuga de responsabilidade da empresa responsável pela obra, transferindo-a à empresa contratada (terceirizada), que possui, como se sabe, quase sempre, irrisório suporte financeiro para arcar com os riscos econômicos envolvidos.
Sobre a morte de José Afonso de Oliveira Rodrigues, a construtora Andrade Gutierrez, responsável pela construção da arena em Manaus, defendeu-se, publicamente, dizendo que Martins trabalhava para a Martifer, empresa contratada para fazer as estruturas metálicas da fachada e da cobertura.
Quando da morte de Marcleudo de Melo Ferreira, também na obra da arena de Manaus, a Andrade Gutierrez repetiu a estratégia, expressando-se em nota:
É com pesar que a Construtora Andrade Gutierrez informa que por volta das 4h da manhã de hoje, 14/12/2013, o operário Marcleudo de Melo Ferreira, 22 anos, natural de Limoeiro do Norte – CE, funcionário de empresa subcontratada que presta serviços na montagem da cobertura da Arena da Amazônia, sofreu uma queda de uma altura de cerca de 35 metros, sendo socorrido e levado ao Pronto Socorro 28 de Agosto ainda com vida, onde não resistiu aos ferimentos e veio a falecer nesta manhã.
Reiteramos o compromisso assumido com a segurança de todos os funcionários e que uma investigação interna está sendo feita para apurar as causas do acidente. As medidas legais estão sendo tomadas em conjunto com os órgãos competentes.
Lamentamos profundamente o acidente ocorrido e estamos prestando total assistência à família do operário. Em respeito à memória do mesmo, os trabalhos deste sábado foram interrompidos. – grifou-se
Igual postura foi adotada pela Odebrecht Infraestrutura, responsável pela obra do Itaquerão, no que tange às mortes de Fábio Luiz Pereira e Ronaldo Oliveira dos Santos. Eis a nota publicada:
A Odebrecht Infraestrutura e o Sport Club Corinthians Paulista lamentam informar que no início da tarde de hoje um acidente na obra da Arena Corinthians provocou o falecimento de dois trabalhadores – Fábio Luiz Pereira, 42, motorista/operador de Munck da empresa BHM, e Ronaldo Oliveira dos Santos, 44 anos, montador da empresa Conecta. Pouco antes das 13 horas, o guindaste, que içava o último módulo da estrutura da cobertura metálica do estádio, tombou provocando a queda da peça sobre parte da área de circulação do prédio leste – atingindo parcialmente a fachada em LED. A estrutura da arquibancada não foi comprometida. Era a 38ª vez que esse tipo de procedimento realizava-se na obra e uma peça de igual proporção foi instalada há pouco mais de uma semana no setor Sul do estádio. Equipes do corpo de bombeiros estão no local. No momento, todos os esforços estão concentrados para oferecer assistência total às famílias das vítimas.
E para demonstrar que a terceirização, com a utilização da estratégia de se eximir de responsabilidade, não é privilegio da iniciativa privada, quando houve a morte de José Antônio do Nascimento na obra do Centro de Convenções do Amazonas, desenvolvida pelo Centro de Gestão Metropolitana do Município de Manaus ao lado da Arena da Amazônia, a entidade em questão expediu a seguinte nota:
O funcionário da Conserge, empresa que presta serviço para a Unidade de Gestão Metropolitana, José Antônio da Silva Nascimento, de 49 anos, morreu de infarto por volta das 9h da manhã deste sábado (14 de dezembro), quando trabalhava nos serviços de limpeza e terraplanagem para o asfaltamento do Centro de Convenções da Amazônia, localizado na Avenida Pedro Teixeira.
José Antônio se sentiu mal quando subiu em uma caçamba. Uma ambulância do Samu foi acionada imediatamente para realizar o atendimento, mas o trabalhador não resistiu. A Conserge está dando toda a assistência necessária à família da vítima.
Segundo a família de José Antônio, este trabalhava sob pressão devido ao atraso na obra. “Ele trabalhava de domingo a domingo”, afirmou sua cunhada, Priscila Soares.
Por ocasião da morte de Antônio José Pitta Martins, técnico especializado em operações de guindastes de grande porte, que veio de Portugal para trabalhar na obra da Arena da Amazônia, tendo sido atingido na cabeça por uma peça de ferro que se soltou de um guindaste, novamente a fala se repete. Em nota oficial, a empresa responsável técnica pela obra, Andrade Gutierrez, destaca que o trabalhador não era seu empregado, ao mesmo tempo em que deixa claro que “o acidente não interferiu no seguimento das obras”
Eis o teor da nota:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
A Construtora Andrade Gutierrez informa que, por volta das 8h da manhã de hoje, 07/02/2014, um técnico de guindaste de grande porte, funcionário da empresa Martifer, sofreu um acidente nas dependências do sambódromo enquanto desmontava a máquina utilizada nas obras da Arena da Amazônia. O guindaste, que auxiliava os trabalhos da Arena, já estava com as operações encerradas desde 11/01/2014 e desmobilizado em uma área externa. O operador foi socorrido pela equipe de Segurança do Trabalho e levado pelo SAMU até o hospital 28 de Agosto, onde teve seu quadro de saúde estabilizado e foi transferido para o hospital João Lúcio. O acidente não interferiu no seguimento das obras da Arena da Amazônia. – grifou-se
A empresa Martifer Construções Metalomecânica S/A, por sua vez, emitiu nota de pesar, noticiando que iria “apurar as causas do acidente”.
A última morte foi a de Fabio Hamilton da Cruz, que se deu em acidente ocorrido no Itaquerão, após uma queda de oito metros de altura. Fabio, conforme foi várias vezes frisado pelos envolvidos, com difusão na imprensa, era empregado da WDS, uma subcontratada da Fast Engenharia, que fora contratada pela AmBev, que aceitou bancar os 38 milhões de reais para colocação de arquibancadas provisórias, exigidas pela FIFA para que o estádio tivesse a capacidade de público necessária para receber a abertura da Copa do Mundo.

10. A culpabilização das vítimas

A respeito do acidente de Fábio Hamilton da Cruz, o Delegado designado para verificação do ocorrido, após ouvir alguns relatos, um dia depois do ocorrido, sem a realização de qualquer laudo técnico, já concluiu que teria havido um “excesso de confiança” da vítima.
Essa foi, ademais, outra forma de agressão aos direitos dos trabalhadores que a pressa para a realização da Copa acabou reforçando, a da culpabilização da vítima nos acidentes do trabalho.
Ora, como o próprio nome diz, o acidente do trabalho é um sinistro que se dá em função da realização de trabalho em benefício alheio, ao qual, independente da postura da vítima, fica obrigado a reparar o dano, já que o risco da atividade econômica lhe pertence (art. 2º. da CLT) e, consequentemente, é de sua responsabilidade o cuidado com o meio ambiente de trabalho.
É extremamente agressivo à inteligência humana, servindo, inclusive para fazer prolongar no tempo o sofrimento da vítima ou de seus familiares, o argumento, daquele que explora com proveito econômico o trabalho alheio, de que “vai apurar” o ocorrido, deixando transparecer no ar uma acusação, que nem sempre é velada, de que a culpa pelo acidente foi do trabalhador.
Veja-se, por exemplo, o que se passou no caso do Raimundo Nonato Lima Costa, que morreu após uma queda de 35 metros na Arena da Amazônia. Em nota de pesar pela sua morte, a responsável técnica pela obra não teve o menor receio, inclusive, de fazer uma acusação generalizada aos trabalhadores, apontando-os como responsáveis por sua própria segurança. Diz a nota.
NOTA DE PESAR
A Andrade Gutierrez lamenta a morte do operário Raimundo Nonato Lima Costa, ocorrida na noite desta quinta-feira, durante o turno noturno da obra da Arena da Amazônia. A empresa providenciou apoio imediato à família do funcionário e aguarda o resultado dos trabalhos da perícia técnica que foi iniciada pela Polícia Civil com o objetivo de apurar as causas do ocorrido.
A Andrade Gutierrez reitera o compromisso assumido com a segurança de todos os seus funcionários e informa que intensificará o trabalho de conscientização dos operários com foco na prevenção de acidentes.
Por ocasião da morte de Marcleudo de Melo Ferreira, na mesma Arena, já mencionada acima, o secretário da Copa em Manaus, Miguel Capobiango, foi além na agressão aos trabalhadores e desferiu o ataque de que as duas quedas fatais até então havidas na Arena tinham sido fruto do “relaxo” dos operários na utilização dos equipamentos de segurança. “Usar o equipamento de segurança às vezes é chato e nem todos gostam de estar usando. O operário às vezes abre mão por preguiça, então ele relaxa, e é isso que agora nós não podemos deixar”. “Infelizmente, os dois acidentes aconteceram por uma questão básica de não cuidado do trabalhador no uso correto do equipamento.”
E, sobre a morte de Fabio Hamilton da Cruz no estádio no Itaquerão, disse Andrés Sanches: “Na vida, cometemos erros e excessos. Já dirigi carro a 150 km/h. Eu não bebo. Vocês já devem ter dirigido “mamados”. Infelizmente, cometemos erros que acabam em fatalidade. Realmente, é padrão na construção civil.”

11. O retrocesso social e humano da Copa

Bem se vê que o legado maléfico para os trabalhadores brasileiros com a Copa não está apenas nas más condições de trabalho e nos conseqüentes oito acidentes fatais (não se contando aqui os vários outros acidentes do trabalho que não resultaram em óbito), o que, por si, já constitui um grande prejuízo, ainda mais se lembrarmos que as obras para a Copa da África em 2010 deixaram 02 mortes por acidente do trabalho, está também na tentativa explícita de culpar as vítimas, buscando atingir a uma impunidade que reforça a lógica de uma exploração do trabalho alheio pautada pela desconsideração da dignidade humana.
A Copa já trouxe grandes prejuízos à classe trabalhadora e é preciso impedir que se consagrem e se prolonguem, mansa e silenciosamente, para o período pós-Copa. Não tendo sido possível obstar que o Estado de exceção se instaurasse na Copa é essencial, ao menos, não permitir que ele continue produzindo efeitos.
O passo fundamental é o de recuperar a consciência, pois a porta aberta às concessões morais e éticas para atender aos interesses econômicos na realização da Copa tem deixado passar a própria dignidade, o que resta demonstrado nas manifestações que tentam justificar o injustificável apenas para não permitir qualquer abalo na “organização” do evento. Foi assim, por exemplo, que o maior atleta do século XX e melhor jogador de futebol de todos os tempos, o eterno Pelé, chegou a sugerir, mesmo que não tenha tido uma intenção malévola, que mortes em obras são fatos que acontecem, “são coisas da vida” e que se preocupava mesmo era com o atraso nas obras dos aeroportos; que o competente e carismático técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, ainda que sem querer ofender, afirmou que a solução para o problema do racismo no futebol é ignorar os “babacas” que cometem tais ofensas, pois puni-los não resolve nada; e que o Ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, cogitou pedir para que os cidadãos brasileiros economizassem energia a fim de que não faltasse luz na Copa.
A postura subserviente, para satisfazer os interesses da FIFA, chegou ao ponto extremo de algumas cidades, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Cuiabá, Natal e Fortaleza, terem atendido pedido feito, com a maior cara de pau do mundo, pelo secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, para que as cidades sedes de jogos da Copa concedessem transporte gratuito – algo que o Movimento Passe Livre está lutando, e sofrendo, para conseguir há anos –, sendo que a concessão, diversamente do que tem buscado o MPL, não se destina às pessoas necessitadas, mas aos torcedores dos jogos da Copa, que possuem condições financeiras para pagar os altos preços dos ingressos, que chegaram a ser vendidos, no paralelo, por até R$91 mil…
É de suma importância deixar claro, para a nossa compreensão e para a nossa imagem no mundo, que temos a percepção de todos esses problemas, que não o aprovamos e que estamos dispostos a enfrentá-los e superá-los.
O autêntico efeito positivo da Copa – realizada, ou não – será a constatação de que a classe trabalhadora se encontra em um estágio de consciência que lhe permite compreender que a Copa reforça e intensifica a lógica da exploração do trabalho como fonte reprodutora do capital, favorecendo ao processo de acumulação da riqueza, ao mesmo tempo em que permite a institucionalização de uma evasão oficial de divisas. A partir dessa compreensão, a classe trabalhadora não se deixará levar pela retórica de que o dinheiro dos turistas vai estimular o crescimento e gerar empregos, até porque ao se inserir na mesma lógica capitalista o dinheiro não é revertido à classe trabalhadora, à qual apenas é remunerada, sem o necessário equivalente, pelo trabalho prestado, direcionando-se, pois, a maior parcela do dinheiro em circulação em função da Copa às multinacionais aqui instaladas, especialmente no setor hoteleiro e nas companhias aéreas.
Cada trabalhador, pensando em sua atividade e em seu cotidiano de ganho e de trabalho durante a Copa, ou antes, que responda: teve ou terá algum ganho na Copa que não provenha do trabalho? Este trabalho é prestado em que condições? O eventual acréscimo de ganho está ligado ao aumento da quantidade de trabalho prestado? Que o digam, sobretudo, os jornalistas!!!
Claro que uma ou outra experiência comercial exitosa, desvinculada da dos protegidos da FIFA, pode ocorrer, mas isso por exceção. E, cumpre repetir: mesmo que no geral a Copa produza resultados econômicos satisfatórios, não se terão, com isso, justificadas as supressões da ordem jurídica constitucional, já havidas no período de preparação para o evento, e as violências sofridas por diversas pessoas, e, em especial, a classe trabalhadora, no que tange aos seus direitos sociais e humanos.
Este é o ponto fundamental: o de não permitir que a Copa e a violência institucional posta a seu serviço furtem a nossa consciência, que está sendo duramente construída, vale lembrar, após 21 anos de ditadura, seguida de 15 anos de propaganda neoliberal. A produção dessa consciência é extremamente relevante para que o drama das diversas pessoas, vitimadas pela Copa, não se arraste por muito mais tempo, sofrimento que, ademais, só aumenta quando, buscando não abalar eventual euforia da Copa, se tenta desconsiderar a sua dor, ou quando, partindo de uma perversão da realidade, argumenta-se que as pessoas que são contra a Copa (mesmo se apoiadas nos motivos acima mencionados) fazem parte de uma conspiração para “contaminar” a Copa, apontadas como adeptas da “violência”, sendo que para a ação dessas pessoas (que, de fato, carregam um dado de consciência), o que se reserva é o contra-argumento da “segurança pesada”.
O desafio está lançado. O que vai acontecer nos jogos da Copa, se a “seleção canarinho” vai se sagrar hexa campeã, ou não, não é decisivo para a história brasileira. Já o tipo de racionalidade e de reação que produzirmos diante dos fatos sociais e jurídicos extremamente graves relacionados ao evento vai, certamente, determinar qual o tipo de sociedade teremos na sequência. Boa ou ruim, a Copa acaba e a vida concreta continua e será boa ou ruim na medida da nossa capacidade de compreendê-la e de interagir com ela, pois como já disse Drummond:

Foi-se a Copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.

Faltou inflação de pontos?
Perdura a inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.

O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade,
ganhará, rijo, e de cheio,
A Copa da Liberdade.


São Paulo, 21 de abril de 2014.