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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

42k em 42 anos

Foto: Daniela Gianelli


Buenos Aires, 9 de outubro de 2016

7h25 da manhã. Temperatura de 7,6ºC. Um medo apertado mas agora era ir. Faltavam 5 minutos para a largada da maratona.

42k em 42 anos é uma alusão à idade que tenho atualmente e o desejo de fazer os 42k aos 42 anos. 7h30 e é dada a largada que deu-se de uma forma impressionantemente tranquila (o fato de ser uma prova onde só havia a distância da maratona impediu o efeito do estouro de manada). Fiquei socado no meio de milhares de corredores e meu pace no primeiro minuto foi de 7:05 mas me mantive tranquilo. A compactação de corredores no entanto me preocupou por volta do quinto minuto. Precisava me desvencilhar do restante para não prejudicar muito meu tempo final (embora eu não tivesse certeza de que conseguiria). Fui para a calçada e consegui desenvolver um pouco mais de velocidade e a mantive sem maiores problemas até o k 7.8 onde havia uma subida razoável para uma maratona praticamente plana. Até mesmo pelo fato de ser muito no início da prova e sequer senti esforço para vencer esse trecho.

Alguns poucos metros passava ao lado do Obelisco da cidade. Um ponto turístico em uma rua com um ar que mistura a av. Paulista com as imediações do Ibirapuera. Gente nas ruas incentivando e eu pensei que tinha que curtir muito aquele momento, pois ainda havia muitos quilômetros pela frente para sentir a dureza da prova. A primeira por sinal já me incomodava. Consegui chegar ao ponto de largada 7h15. A vontade de urinar foi vencida pelas gigantescas filas para os banheiros químicos. Acreditei erroneamente que ela passaria e por volta do k 15 ela realmente começou a me incomodar. O que piorava a cada posto de hidratação onde bebia um pouco de água (por uma série de razões que outrora posso comentar, bebo bem mais água, isotônico ou o que for durante as provas).

Entre os k 18 e 19, adentramos um bairro bem simples de Buenos Aires e passando em frente ao estádio do Boca Juniors alguém grita "dale River". Lá como cá torcedores do Boca em resposta começaram a cantar alguma música do Boca.

Um pouco depois do k 19, adentrávamos um setor portuário e a essa altura eu já pensava em ter que parar para urinar até em que passei por mais um "Dj point". Eram dj's distribuídos durante a prova para dar aquele gás nos corredores com o som. Tocava "Sympathy for the devil" dos Stones e me perdoe meu Deus, mas o diabo me deu uma força com essa música que até esqueci momentaneamente a vontade de ir ao banheiro.

No k 21, onde temos o que seria a distância da meia maratona, um relógio que mostrava que eu estava dentro do tempo previsto (muito no limite pelos minutos iniciais perdidos, mas estava), mas o tempo começa a correr de mim (e não comigo) no k 24 quando a vontade de urinar já se fazia em forma de dor, afinal, continuava minha tática de hidratação e cada gole era um desconforto. Eu tinha que decidir se parava para ida ao banheiro e perdia alguns segundos ou se eu comprometia toda a prova não sabendo como responderia o meu corpo com mais 18k segurando essa vontade.

Dei uma saída para uma rua lateral e perderia alguns segundos, mas simplesmente não parava mais. Deve ter sido quase um minuto e vendo a multidão ir embora. A tal multidão era ainda muito compacta e perdi o contato das pessoas que corriam comigo por quilômetros mas se por um lado, perdi talvez um minuto, parece que voltei sem um peso (literal) e essa descansada me vez correr bem mais confortável por vários quilômetros.

A coisa começou a pesar mesmo depois do k 30. Não só pelo tal "paredão" do qual na verdade eu já nem estava mais preocupado com minha parada para o banheiro, como pelo fato que pegamos um vento que inicialmente pensei ser só minhas forças se esvaindo, mas soube que o vencedor do ano ano passado com 2h12 foi o mesmo desse ano que chegou reclamando do vento que lhe empurrava. Esse ano ele fez 2h30. O sol abriu pesado contrário as previsões do tempo e já era possível ver o desconforto na face de muitas pessoas, gente caminhando, mancando. Eu tive que me concentrar muito pois naquele momento, era puro sofrimento e tínhamos uma subida considerável de um viaduto no k 36 e ele foi quase mortal. Tanto que eu praticamente trotei por quase um quilômetro ao seu término. Já começava a fazer contagem regressiva. Os trechos mais difíceis haviam sido superados. Avistei então uma pessoa na minha frente caminhando com um rosto de quem não sabia se continuava ou desistia. Por essas grandes coincidências da vida, ele estava com a camisa de meu time e antes de chegar nele cantei o primeiro estrofe do hino, ele cantou o segundo e começou a correr novamente, cantei o terceiro e do quarto para frente cantamos juntos até o fim. Chegamos em um pequeno declíve e ele chorando me agradeceu. Esse pequeno declíve subia de volta logo após passar por um viaduto. Eu acho que só continuei para dar forças para ele que começou a chorar novamente e caminhar e me despedi dele falando que só faltava 4k e que agora seria plano e que ele não parasse. Ele concordou com a cabeça e fui para 2k infernais...

Ajudar esse corredor me ajudou e muito. Se de alguma forma se isso chegar em você, saiba que me ajudou muito. Depois foi terrível chegar ao k 40. Eu que nunca havia chegado nessa distância vibrei muito mentalmente e não pararia mais de forma alguma. k 41. Já estava dentro do parque de volta. Meu marcador já contava os 42k que viraram quase 43k no de muita gente mas eu estava impressionantemente inteiro. Ao longe eu pensava ver a chegada com luzes verdes piscando que era uma ambulância. Depois disso, com os olhos fixos para frente eu tomo um susto, uma voz familiar do meu lado gritando "Vai, vai. não para, está bem ali, você conseguiu". Era a minha mulher que pegou em minha mão e correu uns 800 metros comigo. Dei um beijo nela e todo mundo em volta vibrou e aplaudiu. Disso também nunca me esquecerei e ela de calça comprida chegou cansada. Ela imaginou que eu chegaria mais lento, mas fiz meu último k com pace de 5'16" embora tenha sido a adrenalina e energia do final. O tal do sprint final, pois meu rendimento já estava abaixo disso.

Cheguei, chorei, agradeci e embora não tivesse de forma alguma arrependido, queria ver como meu corpo reagiria para ver se vale a pena continuar nessa.


Como já escrevi anteriormente, tenho uma maratona inscrita apenas para abril agora e por hora quero apenas descansar. Estou incrivelmente bem e inteiro. A vontade de ir para a rua correr é imensa, mas só 10k domingo que vem em uma prova já em São Paulo que farei curtindo a prova. Será o recomeço lento. Sem corrida desenfreada por baixar tempo.

Em tempo, me perguntam o que faço profissionalmente. Sou músico.

Os textos anteriores sobre como cheguei na maratona se encontram percorrendo o blog (assim como o da São Silvestre).

domingo, 2 de outubro de 2016

O lado que ninguém conta de se chegar em uma maratona III

Veio a segunda meia maratona onde completei o percurso correndo. Foi difícil? Sim. Me trouxe alegria? Sim e então a vontade de novos desafios. E nesse aspecto, creio que exista uma lacuna entre as distâncias. Não são comuns corridas com mais de 21k e menos de 42k para aos poucos ambientar o aspirante maratonista, mas das possibilidades que se mostram aos corredores de rua, temos a Maratona de São Paulo que oferece e alternativa de 15 milhas (ou 24k). Já é algo e fui eu para mais uma prova.

Querem a boa ou a ruim? 

A ruim é que foi uma prova debaixo de um calor nada confortável e eu continuava naquele processo de não estar cem por cento e continuar correndo (um pouco da teimosia de corredor que conhecemos, mas que pode acabar com o futuro em tal prática). Por volta do quilômetro 17, senti que "quebraria", então me preparei mentalmente para concluir 21k (ou mais uma meia maratona) e continuar como desse o restante. Assim foi. Sinalização de 21k e dei uma caminhada para retomar o fôlego. A boa notícia é que daí para frente eu não quebrei mais nenhuma meia maratona (vou considerar as 15 milhas como meia ok? Tendo então 6 meias completas e a primeira que quebrei faltando cerca de 600 metros).

Mas sabe qual foi a melhor do que a boa?

Comecei a chegar cada vez mais inteiro ao final das provas, fui conseguindo melhorar meu tempo (embora ache que se você não é profissional, esse não deve ser o seu único foco).

Meia maratona de Campinas (Foto: Daniela Gianelli)


Abro aqui um parêntese. Não sou corredor profissional ou sequer profissional da area de saúde ou esportiva, então não há embasamento científico do que aqui vou dizer. É apenas a sensação que tenho como praticante da corrida. Dentro desse raciocínio, quem me conhece de perto sempre ouve eu falando: 5k todo mundo que quiser, salvo algum problema, com um mínimo de disciplina corre. 10k seria mais do que ótimo para deixar a saúde em dia. A São Silvestre com seus 15k seria o a prova de superação das pessoas normais, mas ok, se você realmente está adaptado ao mundo das corridas e realmente ama o que faz, 21k ok. Daí para frente, acho que algo acontece na nossa cabeça, pois a maioria das coisas envoltas à maratona é desumano, desnecessário. Sem contar que não tem como, vai afetar sua vida e de seus familiares e pessoas que convivem com você.

Acho que muitas pessoas não deveriam se aventurar nessa viagem (inclusive eu), mas, uma vez que você comprou briga...

Os treinos para uma maratona não precisam necessariamente chegar aos 42k ou até mesmo mais como imaginei inicialmente, mas a carga e o desagaste vai cobrar um preço grande de seu corpo, articulações e até mesmo sanidade mental. Você vai ter que ler bastante sobre o assunto e ouvir pessoas que passaram pela experiência. Elas podem realmente te ajudar muito e você pode perceber inclusive que aquilo que funciona para a maioria das pessoas, não serve para você. Eu teria uma infinidade de coisas para falar a respeito e posso vir a entender minhas palavras sobre. Por hora me detenho no mito do paredão por volta do quilômetro 32. Bem fácil de pesquisar na net para quem desconhece o assunto, mas é uma hora que seu corpo parece não responder mais e os 10k finais se tornam infinitos e inacabáveis.

Pois bem, tenho algumas vantagens ao meu favor quando corro como aguentar o frio de uma forma que todos se surpreendem, mas talvez pela minha compleição física, com quase 1,90 de altura e assim tenho uma sobrecarga para carregar que talvez não me capacitasse inicialmente à este esporte. Resumindo, Me divirto e muito em uma meia maratona hoje em dia. Depois daí eu sofro por uns 3 quilômetros e simplesmente o meu paredão chega por volta dos 24k. Ou seja, daí para frente é um sofrimento que não em faz muito sentido ter como estilo de vida. Volto a lembrar que sofri em meus primeiros 5k, 10k, São Silvestre, 21k, mas depois todos tornaram-se prazerosos.

Daqui exatamente uma semana estarei disputando minha primeira maratona em Buenos Aires. Vamos ver como as coisas ocorrerão...

Por hora vamos ficar com a parte boa? Chegada da Run The Night noturna.





quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O lado que ninguém conta de se chegar em uma maratona II

Antes de tudo, aqui está a primeira parte caso queiram saber como tudo começou:

Uma vez que aquele primeiro desejo de correr uma São Silvestre estava realizado, pensei que pararia por aí. Não me via de forma alguma correndo meia-maratona. Que dirá uma maratona. Lembro-me perfeitamente quando ainda antes da primeira São Silvestre vi um corredor falando na Usp que fazia uma meia todo sábado por lá treinando e fiquei pensando o quão louco era um cara desses sem saber que viria a ser louco dessa forma, mas tudo começou quase sem querer com um convite/desafio de um amigo de Minas Gerais que ganhou inscrição para a Volta da Pampulha.

Com o apelo televisivo, a Volta da Pampulha era outra corrida que eu gostaria de fazeer, mas sendo em outra cidade nunca nem tinha pensado, mas ganhando a inscrição... Primeiro me dou conta que a distância era de 18k. Eu havia já corrido 15k com a São Silvestre e havia ainda uns 3 meses para eu acrescentar 3 quilômetros a mais em minha bagagem de corredor para encarar o novo desafio e assim fui para Belo Horizonte com minha primeira viagem para correr fora (teve Carapicuíba antes, mas vamos combinar que isso é quase um bairro de São Paulo né?).

A expectativa estava de volta semelhante ao dia da São Silvestre. A maior diferença é que dessa vez eu estava com esse meu amigo e um outro amigo dele corredores mais experientes e com distâncias de ultra maratona em seus históricos. A volta da Pampulha era quase treino de tiro para eles e ainda por volta do segundo ou terceiro quilômetro, deixei os caras seguirem em frente e e me encontrei com eles na chegada. 




A sensação que se passou voltando para casa com aquela medalha é que ela era-me mais importante que a São Silvestre pela distância maior alcançada. Uma semana depois, corria a Sargento Gonzaguinha que seria para mim preparativo para a São Silvestre de 2015 e já sentia alguns incômodos pelo corpo que pareceu culminar com uma dor absurda no joelho direito no dia 26 de dezembro em um treino que simulava a São Silvestre com o mesmo trajeto. Senti no meio do caminho entre os quilômetros 7 e 8 e estando o carro parado no final do trajeto, forcei a barra.

Abre-se grandiosos parênteses. Essa contusão era uma mistura de over training com falta de acompanhamento profissional ou conhecimento meu. A questão é que falei com uma fisioterapeuta e ela me disse que daquela forma eu não correria uma São Silvestre em uma semana. Eu disse para ela duas coisas. Um, eram apenas 5 dias e dois, eu correria.

Lógico que eu tinha em mente que eu poderia agravar de tal forma uma lesão que talvez não mais pudesse correr, mas paguei o preço por não ser atleta profissional. Não quero aqui de forma alguma incentivar a fazer o que eu fiz. Apenas alertar que numa dessas, você pode não correr nunca mais.

Resultado: Dois dias de cama, tensores nos joelhos, faixa sub patelar e terminei a São Silvestre decidido a cuidar de mim mesmo para poder continuar correndo. A questão é que o bicho da corrida já havia me pego e a primeira coisa que fiz ao terminar a Volta da Pampulha, foi-me inscrever para a Meia Maratona de São Paulo em fevereiro, mas obedeci esse sinal do corpo.

Comecei a fazer pilates para fortalecer musculatura e fui correr uma Eco Race no Parque ecológico do Tietê com os mesmos 18k para treinar para a meia em um sofrimento sem fim. Sofri bastante. Caminhei muito, mas ali eu percebi que realmente gostava de correr. Justo ao perceber que realmente eu poderia não mais correr. A questão é que aquela medalha de 18k estava empatando com a Volta da Pampulha em importância para mim e só quem corre para saber como cada corrida é absolutamente única.




Em fevereiro chegou a Meia maratona da cidade de São Paulo e com a ajuda do pilates, eu tinha melhoras consideráveis, mas essa prova foi sofrida pelo percurso mesmo, sem contar que na metragem de quase todo mundo dava cerca de 21k e 700 metros. Ali pela primeira vez eu corri a prova inteiro e quando já avistava a chegada no estádio do Pacaembu, eu abdiquei do ego de dizer que fiz a corrida inteira sem parar, ou "quebrar" como dissemos. Me restavam cerca de 600 metros. eu poderia e conseguiria, mas sentia meu corpo completamente quebrado e pensando no futuro, disse para mim mesmo que não precisava. Terminava assim minha primeira meia maratona andando e pronto. Depois eu mal tinha forças para ir para o carro. Aliás, não tive mesmo. A Daniela, minha mulher foi buscar para mim. Aquela medalha de meia estava valendo mais do que todas, mas a vontade de correr crescia...



sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O lado que ninguém conta de se chegar em uma maratona.

Vejo as pessoas escrevendo sob seus feitos e superações de dor inclusive para se vencer determinadas distâncias e isso as vezes me incomoda. Acho que isso é um pouco em função do nossas vidas editadas nas redes sociais, afinal de contas, mostramos apenas o quanto estamos ultra bem e felizes, afinal, é só isso que vemos de nossos amigos que podem estar na pior, mas que em suas edições, souberam se vender bem, mas voltemos então quando eu ainda era criança e essa possibilidade não existia.

Final de ano na casa dos avós e para quem é mais velho, lembra que a São Silvestre passava meia-noite com os corredores literalmente correndo para a ano novo. Dessa época, me lembro claramente do equatoriano Rolando Vera e da portuguesa Rosa Mota que ganharam inúmeras vezes a prova. Ali foi-me instigada a vontade de correr, mas embora tenha praticado esporte por toda a vida (inclusive umas corridas esporádicas), foi preciso uma partida de futebol entre alunos e professores onde eu com uns 2 minutos e uns 3 piques já estava completamente morto. Isso ali pelos idos de 2006. Finda a partida e resolvi que eu precisava alterar esse quadro e algum tempo depois comecei a dar umas corridas de uma forma completamente diferente das de hoje. Sem relógio e eu sequer sabia o quanto corria dando algumas voltas no entorno de casa.

Uma frequência consistente de corrida demorou um pouco para acontecer e eu chegava a passar alguns meses sem correr para recomeçar praticamente do zero, mas aos poucos comecei a correr com mais compromisso para comigo mesmo e a São Silvestre começou a rondar meus pensamentos de novo. Era por causa dela que eu queria correr e fui então ver as reais possibilidades. 2012 eu já estava determinado a correr a São Silvestre, mas tanto nesse ano quanto no posterior por acidentes caseiros em nada relacionado com corrida, abortei a missão. Parava mais um tempo e voltava praticamente do zero de novo.

Em 2014 eu já procurava ler coisas sobre corrida na rua e enfim me inscrevi para uma corrida de 5k. Aquilo me gerou a famosa expectativa sobre a primeira prova e acordar ainda com o dia escuro. Não me esquecerei do dia e da prova e todo aquele clima no ar. A questão é que como eu havia lido, comecei com uma prova de 5k quando já corria pouco mais de 10k, mas o que pensam que aconteceu?

Eu simplesmente "quebrei". E quebrei por falta de experiência mesmo. Uma coisa era correr só e no meu tempo, outra foi largar com as pessoas que acabaram por minha inexperiência puxando o meu ritmo muito para cima. Uma decepção comigo mesmo e a alegria pela primeira medalha.

Registro de minha primeira corrida oficial

Dessa prova e do ambiente, fiquei sabendo de uma assessoria de imprensa que sortearia acompanhamento por cerca de 3 meses visando a São Silvestre. Bastava eu terminar 10k dentro de uma hora. Quem assim o fizesse estaria apto ao sorteio e treinei para tal dia. O problema para mim, foi o calor que fazia visto que era a primeira vez que eu corria aquele horário. 9h da manhã visando exatamente a São Silvestre. Com 6k me deu uma dor de cabeça proveniente disso, mas não só terminei dentro do limite estipulado quanto fui sorteado e isso me deu uma boa rotina de treino, mais acompanhamento. Nesse intervalo, corri oficialmente meus primeiros 10k e finalmente cheguei em minha São Silvestre. Ao término dela, fiquei aguardando alguns amigos que corriam pela primeira vez também chegarem e só fui embora quando tive certeza de ver todos.

Caminhando, cheguei no carro, entrei e extremamente cansado sentei e chorei. Era um choro na verdade de alívio e alegria por ter alcançado minha meta de quem começou a correr. Mal sabia eu naquele momento que algum tempo depois eu ia querer mais.

Se quiser saber como foi minha primeira São Silvestre, clique aqui, mas algum tempo depois eu descobriria que novos desafios fariam parte de minha vida e em breve eu continuo essa história.



domingo, 4 de janeiro de 2015

Uma São Silvestre em minha vida

Cerca de meia-noite e acabo de falar com Marina, me despeço dela para dormir bem para a São Silvestre (o que no meu caso representa 4 ou 5 horas). Acordaria 5:00. Estava tudo bem dentro do meu planejamento. A última passada na cozinha, banheiro e me deito. Uma mensagem no celular e uma amiga em uma noite não muito feliz e talvez tenha levado 2 horas conversando com ela, afinal de contas, eu não era um corredor profissional e preferia ajudar uma amiga do que ter um tempo ligeiramente melhor. Meu tempo para dormir havia caído e agora estava abaixo do ideal e isso talvez tenha despertado a famigerada ansiedade. Empurrei o despertador para 5:45h mas demorei para dormir. Última vez que olhei ao relógio, ele apontava 3:50h

5:45h e o despertador toca e com 45 minutos a menos, não tinha tempo para fazer as coisas lentamente como inicialmente pensei. Comi, me vesti (havia tomado banho antes de deitar) e fui. Desço de elevador e ao chegar no carro, última vistoria de todo o apetrecho necessário que incluía desde o chip para corredores, quanto barra de cereal para comer durante a prova, passando por número do atleta (atleta? Eu? Produção?) e fones de ouvido para escutar o aplicativo que uso para correr. Havia esquecido o fone. Titubeei. Posso correr sem ele... não quis alterar o que sempre faço e perco alguns preciosos minutos indo buscar o fone.

De volta, pego o carro. Iria dirigir até o metrô Vila Madalena, mas nessas resoluções ansiosas que você não sabe se fato melhora alguma coisa, vou até a estação Sumaré e paro o carro. Desço na estação e quando passo na catraca do metrô... não passo. Não havia saldo no bilhete único e lá vai eu carregar o tal. Embora as 6:43h não houvesse fila, o bilhete único do qual uso por 11 anos teima em dar problema justo dessa vez. O que costuma levar uns 25 segundos não se concretiza em alguns minutos. A ansiedade toma cara de impaciência e desisto. Peço meu dinheiro de volta e em vez dela apenas me devolver R$10,00, ela faz questão de me dar a nota de R$20,00 dada para que eu devolva o troco que já estava solto dentro da carteira naquelas tradicionais sacolas de corredores onde você não encontra nada a não ser se praticamente virar a carteira inteira. Achei que não conseguiria chegar a tempo no ponto de apoio da 4any1 que estava marcado para 7:00h. 7:03h é atraso?

Largada seria apenas 9:00h, então estava eu ali comendo mais alguma coisa e após as últimas palavras com os treinadores Aulus e Edmilson, fui munido de uma pequena garrafa de água e duas barras de cereal para o vão libre do Masp onde me encontraria com Bruno de Almeida para instruções sobre a entrevista que daria ao vivo na corrida. A melhor parte na verdade foi ser colocado no pelotão elite b, onde encontrei para a minha surpresa Zélia Duncan.

– Hey querida, onde vai passar a virada?
– Em casa no Rio, termino a prova e vou para o aeroporto. Cansei de ficar abraçando quem nem conheço.
– Provavelmente o cara que te xingou meio-dia no trânsito né? – Risos de todos que estavam próximo.

Demétrius e Zélia

Havia gente se aquecendo por quase uma hora. Fiz o de sempre. Uns dez minutos apenas e conversando com Zélia, Vander de 65 anos que pagaria sua promessa depois de 50 anos e sua filha Janaína, que tornou-se treinadora de corridas e viabilizou o sonho do próprio pai.

Vander, o repórter Alexandre Oliveira e eu

Dada a largada e os poucos metros da elite fez diferença para eu ter uma largada correndo e não caminhando, mas logo, em questão de segundos, uma multidão já atropelava-me. Na saída da Paulista para o acesso da Dr. Arnaldo, seria impossível dizer que larguei em tal pelotão, mas eu corria e corria bem. Nem senti a primeira subida. Vi Zélia e tentei me concentrar. Exatamente enquanto pegava o primeiro trecho de subida considerada, o fone de ouvido me da o tempo (de cinco em cinco minutos), com a distância percorrida e percebi que entrei no ritmo de "estouro da boiada". Estava com o ritmo muito mais acelerado e ainda em subida. Isso poderia comprometer a minha corrida. Bendito fone.

Pequeno trecho da Dr. Arnaldo e a descida mais íngreme, o que é uma tentação de largar o pé e deixar a gravidade fazer sua parte, mas é um erro básico inicial de corredores. Dessa forma, muita gente me ultrapassa com velocidade absurda e eu tentando diminuir a velocidade segundo meu aplicativo. Foi difícil. Quando o relógio marcou dez minutos, eu havia baixado muito pouco desse tempo na verdade e então deixando já o estádio para trás sou encontrado pela equipe da Globo que tentaria uma entrevista comigo durante a corrida. Uma equipe contendo 4 pessoas da Globo correndo em minha volta e para efeito de garantia, a entrevista foi feita correndo duas vezes ao repórter Alexandre Oliveira. Dois minutos talvez tenha levado tudo? Qual o estado físico da equipe para acompanhar-me? Só sei que finalmente estava solitário na multidão e senti o quanto a entrevista quebrou minha concentração e ritmo. Senti que tinha que me concentrar para conseguir concluir.

Sim, correr é solitário e leva tanto tempo que o mundo passa por sua cabeça e muita coisa acontece ali. Na reta da Pacaembu eu serenei o coração e a alma e corri em direção a minha casa, entrei para o lado da Barra Funda e contornei o memorial da América latina. Locais que eu já havia corrido e que faz diferença para quem corre. Quando ele finalmente pega o viaduto Pacaembu, relativamente longo e pesado, ainda não senti, mas a temperatura também ia subindo e olhava a cada relógio de rua a temperatura. Tinha como estratégia não perder um só ponto de hidratação, afinal não consigo beber muito água enquanto corro. Basicamente molho a boca seca e tomo literalmente um gole. Despejo parte da água sobre o próprio corpo para diminuir a temperatura corporal e sigo em frente. Esse acabou sendo o trecho mais tranquilo, em compensação meu calvário começou no viaduto Eng. Orlando Murgel com mesmo nível de dificuldade técnica da Pacaembu.

Aquelas coisas que nunca acontecem acontecia de novo. O famoso pênis resolve se acomodar de um jeito incômodo dentro da bermuda. Correr incomodado por mais 7 km? Não, mãozona para dentro do short para reacomodar o garotão sob o risco de uma câmera registrar o corredor com a mão dentro das calças e um meme estourando logo no primeiro dia de 2015.

Agora eu entrava na avenida Rio Branco para pegar a Ipiranga e entrar na av. São João. Pô Caetano, eu pensei que alguma coisa aconteceria em meu coração, mas aconteceu no meu psicológico querendo me derrubar. Não sabia eu que o percurso forma um coração nesse trecho e que passaria pelo cruzamento de volta vendo uma multidão impressionante de corredores. Já corria por uma hora, mas o corpo sentia ter largado com velocidade acima da minha média.

Pouco mais de 12 km. Viaduto do chá. Logo mais estaria chegando na destemida av. Brigadeiro Luis Antônio e algo que nunca me aconteceu. Não fazia um calor tão forte assim visto os dias anteriores e já corri com temperaturas mais elevadas, mas sim, fazia calor e muito, mas eu, senti um calafrio rasgar minha coluna e senti frio. Um frio esquisito por cerca de 250 metros. Justo eu que não sinto frio, mas passou. Era apenas o psicológico. Eu que sou acostumado a gerenciar isso tendo que tocar em palcos por anos e anos estava agora fora da minha zona de conforto.

A Brigadeiro enfim chega. Olhar para aquela reta de 1,8 km subindo rumo a Paulista e gente gritando coisas de todos os tipos sendo para se encorajar, encorajar os outros ou sei lá o que, era visto. Também foi a hora que mais vi gente estirada no chão, gente desistindo, sentada nas calçadas, recebendo ajuda médica ou mesmo chorando. Também vi Zélia novamente e a danada me deixou para trás na Brigadeiro. Confesso que ao fim de escalar o temeroso trecho, mandei um – Chupa Brigadeiro (embora apenas mental),

Virei a direita e avistava a chegada. Voltando ao plano e já tão perto do fim, não senti mais esse final. Pelo contrário, entrei na efusão dos populares que incentivavam os corredores e correria mais 2 km fácil no plano se preciso fosse.

A medalha que tem uma representatividade muito mais simbólica do que real, estava em minhas mãos e voltei ao posto da 4any1. Só quem se aventura a correr algo do tipo sabe o quanto isso é algo de superação física e sabia que várias pessoas que havia conhecido nos últimos meses terminariam a prova. Entre eles, destaco Rita, Luiz e Viviane que sabia que terminariam a prova cada um com suas histórias, tempos e dificuldades, mas eu só iria embora depois que Flávia chegasse. A maior distância que ela havia feito até hoje era 12 km e embora nunca nem tenhamos conversado muito, vibrei internamente quando a vi chegando com a medalha e agora podia ir embora.



Entrei no carro, sentei e chorei. Não sei se foi de alegria, mas de tristeza não foi. Era um alívio e era bom. Das coisas que me propus a fazer na vida, a São Silvestre foi cumprida...

P.S.: Meu tempo foi de 1:37:33. Apesar das dificuldades, tempo ainda abaixo do que projetei.