terça-feira, 15 de março de 2011

Caleidoscópio XX

Enfim o sonho avança mais, e dessa vez não era sonho. A velha taquicardia pareceu aplacar-lhe o coração e de certa forma, causou um incômodo tão grande que a mulher ao seu lado levantou-se e ele inesperadamente sentou-se ao meu lado.

– Acho eu que já compreendeu que não pode alterar algo criado pela natureza ou alterar a vontade de alguma pessoa.
– Sim, entendi, mas aí começam as minhas dificuldades. Como posso alterar algo se não posso alterar a vontade de outra pessoa?

Ele se levanta e então percebo que havia chegado no meu ponto. Pensei por que ele desceria na faculdade. Seria professor? Por que ele não aparentava ser mais novo como todos os outros? Andava com um vigor descomum para a sua idade e achei que entraria no banco que ficava no campus universitário, mas ele simplesmente parou para brincar com uma criança. Se a mãe dele o conhecia, não sei, mas apostaria que ela nunca o tinha visto e ainda por cima não havia como não se deixar levar por aquele envolvente senhor.


A criança tinha uma pequena bola branca na mão que só podia ser de pingue-pongue. Aquele sorriso não saia-lhe do rosto. Ele tentava tirar a bola da criança que fazia cara feia para ele. O simpático ancião parecia se divertir com aquilo, mas a impaciência tenta interromper a aquele passatempo. 


- Como posso fazer alguém alterar a sua vontade?
- É o que estou tentando te mostrar meu jovem.
- Você está tentando pegar a bola desse menino, isso sim.
- E por qual motivo não consigo?
- Ele não quer.


Então ele leva a mão esquerda ao bolso e pega uma bola maior, colorida e os olhos da pequena criança brilham. Seus pequeninos braços se esticam tentando alcançar a nova bola, enquanto a de pingue-pongue é solta no chão. Ele então entrega a nova bola ao garoto e pega a branca, levantando-se com um sorriso no rosto. Devolve a bola para a mãe e diz para ele:


- Viu como é simples?



Ele tira uma outra bola envolta em um pedaço de papel e atira-a para o alto. Ela alcança uma velocidade impossível para alguém daquela idade e quando cai no mesmo local em que ele deveria estar, ela quica no chão vazio. Ainda sem entender ele pega a bola. Desembrulha o papel que tinha uma breve pergunta:


- Entendeu?

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