quarta-feira, 24 de julho de 2013

Preciso escrever




Preciso escrever.

Preciso nada. Precisa-se respirar, comer e dormir apenas. O resto é complemento. Entrei na internet e comprei uma passagem rumo aquela garota desconhecida. Precisava conhecer a desconhecida, mas explicar que estava indo conhecer uma amiga era modernidade demais para a cabeça da dona Laura.
– E vai fazer o que no Espírito Santo meu filho?
– Ah mãe, é uma palestra aí do Vladimir Safatle falando dessas manifestações que estão ocorrendo no Brasil e no mundo.
O jeito agora era torcer para minha mãe não procurar informações sobre o evento que inventei. Devia ter inventado um nome também de um possível filósofo. E se ela me perguntar de fotos? Se eu filmei algo? Ah não…o livro… se ela me pede para ele autografar o livro? É, a mentira tem pernas curtas…
– Quando viaja meu filho?
– Hoje à noite.
– Mas já?
– Sim, a palestra é amanhã de manhã. Daí passo o final de semana para pegar uma praia, mas domingo no final do dia já estou aqui. Segunda trabalho né?

Fez questão de se esvair o mais rápido que pudesse do local para não ter que se enrolar com mais perguntas. Na verdade tentou começar a fazer a mala, mas a presença de sua mãe rondando o quarto me fez ir ao cinema rapidamente. Isso tirava as perguntas da mãe de minha órbita, mas me esmagava contra o relógio. Ia chegar em casa com o tempo suficiente para aprontar as coisas e partir. O filme era um francês fora do esquema Hollywood bem legal do qual não vou me recordar o nome daqui alguns meses. Vou lembrar que tinha músicas do Gainsbourg e do Jacques Dutronc.
Chegou em casa e a primeira coisa que encontrou em cima da cama foi o livro. – Me ferrei – pensei.
Meu pai aparece perguntando da viagem. – Vou ver o Alfredo – não querendo me enroscar mais ainda com a palestra inventada.
– Sua mãe disse que ia ver uma palestra do Safatle.
– Vou, mas é por que como ele está morando em Vitória, eu o verei também – Realmente eu sou burro. Fujo de uma mentira com outra é aumentar a mentira…

Fingi esquecer o livro, mas a mãe fez questão de me entregar ele na saída de casa, enquanto o pai me pede para perguntar para o pai do Alfredo quando ele viria por São Paulo… era bom não inventar mais nada…
Algumas horas de viagem. Precisava escrever e estava ali. A cabeça pensando. Uma leve expectativa sobre se valeria a pena. Um pequeno desconforto ao primeiro contato visual, mas o abraço foi tão caloroso que senti que não me arrependeria. Fiz questão de não ter pressa e por isso talvez tudo tenha sido tão veloz, mas havia momentos infinitos dentro dessa vertiginosidade e pensava por que ela e não tantas outras em minha cidade. Ela era de cara um problema geográfico. Muitos outros problemas haveriam de aparecer, mas a conclusão que chegou foi bem clichê, era ela por que era ela, por que pareciam dispostos a sermo-nos. Respostas fracas demais para quem saiu de casa dizendo que ia para um encontro filosófico. Químico no máximo. Físico, ou uma nova educação física durante as horas que passaram juntos? História de uma geografia que minaria minha matemática, mas enfim, voltava para casa naquele ônibus ouvindo Gainsbourg e Dutronc. Acho que por causa do filme. O livro, diria que tinha esquecido com o pai do Alfredo que estaria em São Paulo daqui 45 dias. Missão agora era encontrar Safatle em 45 dias para que ele autografasse o livro. Sobre o pai do Alfredo, foi via internet a observação. A questão que se passava em minha cabeça era como imaginar, tendo um dia de trabalho pela frente, um roteiro de um clipe que descrevesse as novas formas de relacionamento vindo da internet?

Quando enfim chego em casa, explico tudo aos meus pais e finalmente me deito, a insônia me perturba. Não tinha de onde e como tirar o roteiro.  O desespero começou a bater por volta da meia-noite. Se levantou, fez café, deitou novamente tentando imaginar algo e 5:07h dei-me por vencido. Teria que reconhecer na reunião que não fui capaz de pensar em algo. Tudo por que fui conhecer uma garota… fui conhecer uma garota? – Meu Deus, eu fui viver o roteiro – por algum motivo, desses que só quem se arrisca na vida, dei uma pausa quando precisava escrever justamente por que não tinha o caminho, mas agora? Levantei quase de um pulo.

Preciso escrever…

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