quarta-feira, 29 de outubro de 2014

LUCAS, O GATO TETRAPLÉGICO RESGATADO EM OSASCO-SP

Lucas me ensinando sobre amor, resiliência, paciência e carinho.

Essa é a conclusão de Beatriz Silva sobre o gato que resgatou dia 1 de outubro em Osasco, no Jardim Veloso, um entre tantos outros casos de resgate da região. Lucas tem sensibilidade nas patas, mas não anda, fez diversos exames e tem um quadro delicado de saúde (não há lesão medular ou na coluna). É realmente um quadro neurológico e que ainda precisa de exames para ter um diagnóstico certo, mas já trabalha-se com a hipótese de hipoplasia medular cerebral como maior suspeita de seu caso. Como só há tratamentos paliativos, faz-se o melhor para seu cuidado e conforto. Lucas se alimenta da pastinha adhills pela seringa ou recovery, mas tem fome e é animado.

Beatriz agradece os veterinários que atenderam o Lucas, e cederam suas consultas gratuitamente. "Sem exceção, foram maravilhosos com ele TODO O TEMPO com amor, atenção e carinho. Deus abençoe TODOS vocês." 

Felizmente só temos pago pelos exames e medicamentos. Agradeço também a toda força que a ASSEAMA - Associação Espírita Amigos dos Animais tem nos oferecido com amor, carinho, orações e recursos para ajudar o Lucas.
Continuamos na torcida pela sua cura. Para que os novos exames possam nos dar uma luz, um tratamento, uma chance de que ele seja curado.  Orem por ele!!! Colaborem se puder, só chamar inbox. Tim 9.8445-5314.



Nessa foto fazendo acupuntura e tomando choquinhos de estimulação.
Ele está fazendo acupuntura e fisioterapia 1 vez na semana no Rio Pequeno. O ideal seriam 2 vezes na semana. Beatriz é conhecida por proteção e causas animais na cidade de Osasco. Eu a conheço pessoalmente e posso atestar que ela é uma daquelas pessoas de coração maior do que o que lhe cabe, resgatando e tentando auxiliar todos os animais possíveis (não apenas os felinos) e isso inclui limitar inclusive seu padrão de vida pelos pequenos.


Lucas entrou com novos medicamentos essa semana para que possa melhorar sua condição. Está fazendo fisioterapia para não perder o tônus muscular e iniciou acupuntura.

Continuamos na torcida pela tratamento do Lucas. Para que os novos exames possam nos dar uma luz, um tratamento, uma chance...de que ele seja curado...ou mesmo tenha mais qualidade de vida.
Acompanhem o álbum dele no facebook ou mesmo o vídeo.

Por hora ele possui a alimentação necessária, mas toda a ajuda é bem vinda, afinal ela não sabe ainda como será seu futuro. Vai depender de como ele reagir aos tratamentos.


Bradesco ag 1382-0 e c.c 0127990-4
Banco do Brasil ag 6838-1 e c.c 25923-3

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Alt-j (∆)

Motivos incríveis para amar Alt-J (∆)  



Alt-J, também conhecida pelo símbolo delta Δ (que é a junção das teclas, se digitadas em um Mac OS) é uma banda de rock alternativo britânica. Formada em 2007, em Leeds, na Inglaterra, os integrantes se conheceram na universidade e, apesar de tanto tempo juntos, lançaram seu primeiro e por enquanto único álbum, An Awesome Wave, só em 2012.



O som da banda é incrível e bem peculiar, pois como tinham que ensaiar no quarto da universidade, não podiam fazer muito barulho. Então, eles abdicaram do baixo e do bumbo da bateria em algumas músicas, que normalmente aparecem em todas as bandas. Alt-J passa por vários estilos nas 13 faixas do CD, mas não deixa de manter o seu próprio. É o tipo de música que, se você ouvir no rádio, com certeza vai saber de quem é. No entanto, o motivo desse post e o que vai te deixar apaixonado por eles não é (só) o som, e sim as letras e todas as surpresas que elas trazem.

Quer descobrir do que eu estou falando? Dá uma olhadinha:

Para começar, vamos falar do single e da minha música preferida: “Breezeblocks” tem um clipe sensacional que vai te tirar o fôlego e fazer dar replay muitas vezes. Além disso, o grupo fez alusão ao livro infantil de Maurice Sendak, Onde Vivem os Monstros, na parte final da música.



“Please don’t go. I’ll eat you whole. I love you so. I love you so, I love you so”

No livro de Maurice, Max é um menino desobediente que, após brigar com a mãe, vai para uma terra habitada por monstros que o declaram rei. Mas com o passar do tempo, Max sente falta da família e decide voltar. É quando os monstros dizem para ele não ir embora e que o comeriam. De acordo com a banda, o tema trata de um amor obssessivo, onde você é capaz de machucar quem você gosta para ela não fugir. Tudo a ver com o clipe e com a frase!


Em “Fitzpleasure”, não só a música é forte como todo o simbolismo por trás dela. Há muita coisa envolvida. Ela foi inspirada no livro de Hubert Selby Jr., Last Exit to Brooklyn, de 1964. A obra tornou-se um clássico pelo retrato da vida no Brooklyn e pela franqueza ao abordar assuntos como drogas, violência, estupros, homossexualidade e travestismo. O livro é dividido em seis partes, cada uma com um conto diferente. A que inspirou Alt-J foi “Tralala”, onde retrata a vida de uma prostituta que leva o nome da história.

Tralala é uma jovem que vive se prostituindo e roubando em bares de marinheiros e, em uma das cenas mais marcantes do livro, Tralala acaba sendo estuprada por uma gangue, que usa uma vassoura (broom, em inglês), depois de uma noite de bebedeira.

“Tralala, in your snatch fits pleasure, broom-shaped pleasure”

O vocalista da banda, Joe Newman, disse que, apesar de ser uma cena horrível, é muito bem escrita, forte e tocante, e por isso valeria a pena usá-la em sua canção.



A música “Matilda” é basicamente baseada na personagem de Natalie Portman, quando ela tinha 12 anos, no suspense O Profissional, de Luc Besson. A trama conta a história de Mathilda, uma menina de onze anos que convence um assassino, Léon (Jean Reno), a ensiná-la suas habilidades, para que ela possa vingar a morte do irmão. No começo da música, a banda também faz uma homenagem ao cantor Johnny Flynn, em referência à música “The Wrote And The Writ”.

“Just like Johnny Flynn said, ‘the breath I’ve taken and the one I must’ to go on”

Joe Newman disse que Léon teve um grande efeito nele e que Mathilda era uma personagem excelente.



Agora, para os leitores que chegaram até o final (quase), a música que vai te fazer chorar: “Taro”!

Antes de mais nada, é importante escutar a canção e ler a letra antes. 



Já no começo da música, Alt-J nos apresenta o renomado fotógrafo de guerra Robert Capa, que cobriu diversos conflitos, inclusive a Primeira Guerra da Indochina.

“Indochina, Capa jumps Jeep, two feet creep up the road
To photo, to record meat lumps and war
They advance as does his chance, very yellow white flash
A violent wrench grips mass, rips light, tears limbs like rags”

E aqui começa um pouquinho de história: Capa, que era judeu, começou sua carreira em 1931, em Berlim. Mas em 1932, teve que fugir do país, por causa do nazismo (Robert Capa era o pseudônimo de Endre Ernő Friedmann). Após se mudar para Viena e, em seguida, para Paris, Capa conheceu sua companheira, Gerda Taro, que também era fotógrafa.


Juntos, o casal seguiu para a Espanha, em 1936, para acompanhar a Guerra Civil Espanhola, e foi então que o carro que Gerda dirigia durante o conflito foi acidentalmente atropelado por um tanque de guerra.

“Mine is a watery pit
Painless with immense distance
From medic from colleague, friend, enemy, foe
Him five yards from his leg, from you, Taro”

Mesmo depois de sua perda, Capa continuou a fotografar vários outros conflitos. Em 1954, na Guerra da Indochina, Capa pisou em uma mina e morreu, se juntando a Taro.

“3:10 pm, Capa pends death, quivers, last rattles, last chokes
All colors and cares glaze to gray, shriveled and stricken to dots
Left hand grasps what the body grasps not, le photographe est mort
3.1415 alive no longer my amour, faded for home May of ’54
Doors open like arms my love, painless with a great closeness
To Capa, to Capa, Capa dark after nothing, re-united with his leg, and with you, Taro”

Por último, de acordo com o vocalista da banda, a música retrata os dois segundos anteriores e póstumos ao acidente com Capa, narrando exatamente sua chegada, caminhada, acidente e morte.




Mesmo quem não goste do som de Alt-J deve, pelo menos, respeitá-los pelo trabalho incrível da banda, que encheu de presentes seu primeiro CD. Alguém duvida que os próximos sejam tão bons ou até melhores? Embarque em An Awesome Wave e sinta que o nome faz jus ao trabalho!



P.S.: Texto originalmente publicado em Mundo Blá! por Laura Dourado.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Chororo político



Duas observações:

1. É a dita democracia que está colocando esses políticos no poder, então, do ponto de vista democrático, não se tem muito o que fazer a não ser aceitar.

2. Se com o passar do mandato, boa parcela da população se arrepender do voto dado e não honrado, existem soluções.

Obviamente que a classe política nunca está afim de que saibamos, mas vamos lá:

 Impeachment ou impugnação de mandato é um termo do inglês que denomina o processo de cassação de mandato do chefe do poder executivo pelo congresso nacional, pelas assembléias estaduais ou pelas câmaras municipais. A denúncia válida pode ser por crime comum, crime de responsabilidade, abuso de poder, desrespeito às normas constitucionais ou violação de direitos pétreos previstos na constituição.

Para que se desencadeie o processo de impeachment, é necessário motivação, ou seja, é preciso que se suspeite da prática de um crime ou de uma conduta inadequada para o cargo.

Mas e Recall, já ouviu falar? O procedimento de revogação do mandato pode ocorrer sem nenhuma motivação específica. Ou seja, o recall é um instrumento puramente político.

No recall, é o povo que toma a iniciativa de cassar ou não o mandato.

Resumindo: no impeachment, o procedimento é geralmente desencadeado e decidido por um órgão legislativo, enquanto que, no recall, é o povo que toma diretamente a decisão de cassar ou não o mandato.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Festa garantida



Junte no mesmo dia e na mesma hora uma das melhores festas de São Paulo de resgate da cultura popular (Batbacumba), uma das casas mais badaladas da cultura musical (Puxadinho da Praça) e uma das bandas mais dançantes da atualidade (Bonjour Pará) e você pode apostar que a noite vai ser daquelas.

Batbacumba se consolida em sua 14ª edição sempre apresentando muita cultura brasileira, cores e gente bonita e sorridente afim de dançar.

Puxadinho da Praça por outro lado é uma daquelas casas que você vai para lá sem sequer saber quem está tocando acreditando que o que toca ali tem qualidade.

Bonjour Pará é uma banda onde o carimbó e a guitarrada é o ponto de partida, podendo passar por clássicos do Beto Barbosa, chegando à lambada do Kaoma. Resumindo. Você vai dançar muito.

Ainda vai ter João Laion comandando o som

A casa abre 23H com show previsto para meia-noite.
R$20,00 até meia-noite e R$ 25,00 depois de meia-noite
Se você quiser, pode antecipar seu ingresso por aqui.

O Puxadinho da Praça fica no coração da Vila Madalena na rua Bel,iro Braga, 216






Jetboat

A brincadeira, digo, o negócio começou na Nova Zelândia ainda na década de 50. Um barco movido por um jato de água ejetada na parte de trás da embarcação. Diferente de barcos ou lanchas que possuem motores com hélice. A idéia de William Hamilton era para superar o problema das hélices nas rochas dos rios rasos da Nova Zelândia.


Já na década de 70, ele passou a ser utilizado como embarcação para esportes radicais visto a alta velocidade que eles podiam alcançar e na vasta gama de manobras que poderiam ser realizados. Ele é capaz de contornar margens sinuosas de rios, fazer manobras como um serpentear, um oito na água ou círculo e pasmem, um 360º dentro da água ou ainda entrar dentro dela e sair em uma manobra que é comum de se ver nos Jet Sky's. 

Ele é todo construído em 100% de alumínio náutico e foi aperfeiçoado ao longo dos anos para manobras radicais, ou seja, prepare-se para se molhar e sentir muita adrenalina.



No passeio, piloto e co-piloto que passaram por rigorosos treinamentos na Europa vão sentindo a receptividade do grupo, ou seja, a adrenalina vai depender do grupo na embarcação e recomenda-se que se tenha pelo menos 8 anos, afinal, com tanta manobra em cerca de vinte minutos, a força G vai te cobrar um mínimo de força, mas volto a lembrar. As manobras começam bem leves e piloto e co-piloto verificam se está tudo ok e se podem aumentar a adrenalina. Diversão garantida.


Se você não conhecia essa modalidade ainda, não se sinta fora da água. A modalidade é novidade no Brasil e por enquanto a JetBoat Brasil é a única empresa que pode te levar para dentro da água. 

Eu particularmente que sou acostumado com esportes, adrenalina e novas experiências te digo que sai com as expectativas suplantadas e muito satisfeito com a experiência. Ótima pedida para você que procura por novas experiências e gosta de esportes radicais e natureza. Não está convencido ainda? Dê o play: 


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Eu sou um pandeiro




uma das coisas que se aprende ao ficar mais velho é saber que não se pode lutar contra a vontade dos outros. dos esforços, o mais inócuo. porque por mais que você lute, a vontade do outro sempre é suprema. agora, ou depois, ela prevalece. e das batalhas, essa você sempre perde. melhor bater em retirada. 

e não é covardia, é da coragem de saber que por mais munição que a vida tenha te dado, ela nunca será muita, e ela  nunca será reposta por qualquer que seja a tropa de apoio que venha ao seu encontro. e você entrincheirado, sabe que o melhor é abandonar o fuzil e esquecer a guerra. 

e não é o cinismo que nos consola quando se fica mais tempo por aqui. ficar mais velho não é só pensar que os anos é só uma das voltas que a terra dá em torno do sol, porque você sabe que as vezes você é aquele sol. e você também tem aquele girassol mais belo do campo que te encara e te segue no céu, do seu nascer ao seu poente, pra durante a noite pesar suas pétalas e chorar com o orvalho fino, e acordar e levantar o rosto e continuar a te encarar e te seguir pelo céu novamente. 

mas as vezes existem as nuvens. e por mais que você ainda seja o sol, um reator nuclear infinito em tamanho em calor em energia em poder, aquele leve vapor de água, que fluido, fofo, branco e vaporoso vai te encobrir, vai te esconder, vai te deixar por trás do esquecimento.

e você caminha sob a lua então. e caminha e caminha. e vai pensando e escrevendo isso na sua cabeça. mas não sabe mais se isso você cria ou se isso sempre esteve aqui. embolado como fios. Como o novelo caótico que são as coisas que você esconde. e por um acaso aquilo puxa o fio e traz aquele cabo desencapado que dá choque. e choque. e choque. e aquilo te repuxa os músculos e te convulsiona as coisas. e dá uma clareza, e te embola, e te anestesia. e assim você não sente aquela dor que corta, que rasga que arranca. sim, arranca. e arrancado de coisas você segue andando, acende um cigarro, sente o pé no chão doer e o cansado das pernas e o sangue subindo e circulando e pulsando em cada veia.

e as veias, que aumentam de calibre nesse momento, te mostram que sim, você ficou mais velho e saiu de mais uma batalha com todas as cicatrizes que você mereceu. as rugas que você ostenta ou esconde são cada uma delas uma historinha. e você conta como você ganhou aquela marca de batalha, e você relembra depois de um tempo e daí você nem é mais aquele covarde que parecia ter fugido como um cagão da guerra, mas talvez é o herói. ou talvez o vilão orgulhoso. ou talvez você é só você, com uma história a mais pra contar.

e a sua pele esticada é como um pandeiro tocando um chorinho daqueles bem tristes, descompassado porque as mãos estão duras, está frio, você está cansado. e tam tam tam você segue, sambando e caindo. bamba. sabendo com quantos sambas se faz um homem, com quantos compassos se bate a macumba que te faz vivo.

e vivo você vive e assim viverá até não poder mais. cada dia um dia como outro qualquer. uns melhores, outros piores, mas estatisticamente os mesmos. ou não. a matemática pouco diz dessas coisas que não se resumem à uma formula. ou quem sabe esse teorema é apenas mais um poincaré velho e esquecido que ninguém nunca resolveu. ninguém sabe, ou ninguém nunca me disse, e pra confessar, nunca fui bom com números.

mas eu olho esses números no calendário e sei que é quase meu aniversário. 

e eu envelheci de repente.


Por Raphael Nascimento






quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O dia em que larguei o emprego e comecei a gostar de São Paul

Imagem: Gustavo Soares 

Parece contraditório, eu sei. Afinal, uma das principais razões pelas quais as pessoas dizem que vale a pena viver em São Paulo e se submeter a todo trânsito, caos, etc e tal é a possibilidade de trabalhar muito, “subir na vida” e ganhar cada vez mais dinheiro, até conseguir ter o suficiente pra dar o fora daqui. Pelo menos sempre foi assim que um monte de gente que conheço pensou. E eu não fugia à regra.

Quer dizer, fugia pela parte de ter que se matar pra conseguir ir embora, já que nunca fui muito adepta desse ritmo frenético e avassalador de encarar o emprego aqui na cidade. E olha que, mesmo assim, passei três anos trabalhando em plena avenida Paulista e encarando, diariamente, o exército de roupa social armado com seu iphone, marchando em busca de uma mesa na hora do almoço ou disputando um lugar na calçada pra tomar uma cerveja depois do trabalho, com os colegas de trabalho pra falar sobre… trabalho!
Mas o caso é que, quem me conhece, sabe que sempre preguei o discurso de que São Paulo, apesar das inúmeras oportunidades, é uma cidade que suga energias, desumaniza e nos transforma em robôs capitalistas e por isso eu iria morar numa casa no campo, onde eu pudesse ficar do tamanho da paz (com a devida permissão para me apropriar do verso inspirador). E todas as manhãs quando, como de costume, eu acordava e resumia mentalmente como seria meu dia, o único pensamento que me ocorria – sobretudo nos dias mais ensolarados e de céu azul – era: “mas que diabos você está fazendo aqui, Carol?”.  Até o ponto em que essa pergunta se tornou parte da minha rotina e dos meus pensamentos matinais.
No auge da minha ansiedade por mudanças, cheguei a enviar, em menos de uma semana, cerca de 80 e-mails para fazendas orgânicas, ecovilas, Ong’s e entidades-que-atuam-o-mais-longe-possível-da-civilização, em busca de programas voluntários que iam desde limpar cocô de rinocerontes na África até observar o ciclo de acasalamento das baleias jubarte no Sul do Brasil.
Não que eu pessoalmente não ache ambos incríveis e, com certeza, ainda quero passar por essas e tantas outras experiências. Mas eu me dei conta de que minha busca estava mais para uma fuga desesperada do que um encontro com alguma vocação. E foi aí que eu decidi parar, respirar e tomar a decisão mais razoável para o momento: larguei o emprego. Assim, sem mais nem menos, sem eira nem beira nem qualquer outro jogo de palavras ou de cartas na manga pra me virar. E não, meus pais não me sustentam pra eu poder me dar ao luxo de bancar a rebelde-revolucionária e viver de mesada.

Passados dois meses na rotina de fazer freelas de conteúdo em blogs, redes sociais e eventualmente cliente oculto em clínicas de massagem (porque afinal, não tá fácil pra ninguém) e com o dinheiro já nos últimos e derradeiros suspiros, encontrei uma oportunidade para participar de um projeto com a proposta de levar cultura e diversificar o público frequentador das bibliotecas de São Paulo. E eu que adoro livros, adoro cultura e adoro o contato com pessoas, achei que meus dias de massagem tinham chegado ao fim.
Resumindo para não perder o foco que já não tenho. Estou na minha primeira semana de trabalho e já tive oportunidade de contar história para três classes de crianças de 3 a 5 anos, o que me levou a descobrir que a forma como você conta às vezes é mais importante que a história em si, já que a atenção delas se dispersa a cada 8 segundos. Que não importa se você pergunta “quem já comeu feijão” ou “quem nadou com leões marinhos míopes no verão passado”, todas elas sempre vão levantar a mão e responder em uníssono “EEEEEEEEEEEU”.
Descobri também que se dois livros contam a mesma história, porém possuem edições com capas diferentes, as crianças podem julgar que se trata de um outro enredo e isso pode eventualmente te levar a ler “Os 3 porquinhos” três vezes seguidas, repetindo inclusive o sopro do lobo tentando derrubar a casa deles. Descobri, por fim, que nada descreve a sensação de ver um grupo de vinte pessoinhas vindo correndo na sua direção e abraçando seu joelho na hora de falar tchau, assim como a fofura de ver uma delas emburrada porque não quer ir embora da biblioteca e precisa voltar pra escola.
Tenho descoberto, a cada dia, inúmeras coisas. E me surpreendido com cada descoberta. Talvez a maior delas tenha sido a de que, pela primeira vez em muito tempo, entendi o que faltava pra eu gostar de viver em São Paulo: TEMPO.
Tenho tempo pra ir de bike ou a pé trabalhar e trabalho dentro de um parque, no qual tenho tempo para passar algum tempo antes de começar o expediente. Tive tempo pra descobrir que lá do lado tem uma escola que oferece curso gratuito de libras para o qual já me inscrevi, pois faz um tempo que andei pensando que todo mundo deveria saber libras; afinal, quem não utiliza a fala como linguagem também deveria poder se comunicar sem obstáculos. Mas isso já é um outro foco e, apesar de ter tempo para falar dele, não acho que vem ao caso nesse momento.

É incrível como as coisas simples ganham sabor quando você desacelera o passo. Moro há tanto tempo no mesmo bairro e só agora descobri um clube com vários cursos gratuitos; comecei a praticar flauta e fazer slackline na praça aqui do lado quando chego do trabalho. Isso sem falar no pão de queijo recheado com requeijão divino no mercado aqui perto, que me obriga a tirar um tempinho e passar lá na volta pra casa.
“- Ah, então vamos todos abraçar árvores e viver de luz a partir de hoje”. Confesso que não acharia má ideia, mas como ainda não consegui viver de luz, preciso comer e pagar contas como qualquer pessoa. E sabe que isso não tem me parecido ser tão maçante quanto sempre foi? E sabe também que a ideia de viver em São Paulo pode não ser assim tão horrível quanto sempre pensei? Talvez eu esteja pensando em adiar meu plano desesperado de fuga por algum tempo.
Porque acho que eu descobri, finalmente, que São Paulo é um espaço como qualquer outro. Um espaço feito por pessoas. E é a nossa relação com as pessoas e com o espaço que vão definir a qualidade do tempo que passamos aqui.
Mas isso é só a opinião de quem acabou de comer um pão de queijo recheado e achou que o fato merecia uma reflexão…



Crônica de Carolina Marini originalmente publicado em Mundo Blá