quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Alt-j (∆)

Motivos incríveis para amar Alt-J (∆)  



Alt-J, também conhecida pelo símbolo delta Δ (que é a junção das teclas, se digitadas em um Mac OS) é uma banda de rock alternativo britânica. Formada em 2007, em Leeds, na Inglaterra, os integrantes se conheceram na universidade e, apesar de tanto tempo juntos, lançaram seu primeiro e por enquanto único álbum, An Awesome Wave, só em 2012.



O som da banda é incrível e bem peculiar, pois como tinham que ensaiar no quarto da universidade, não podiam fazer muito barulho. Então, eles abdicaram do baixo e do bumbo da bateria em algumas músicas, que normalmente aparecem em todas as bandas. Alt-J passa por vários estilos nas 13 faixas do CD, mas não deixa de manter o seu próprio. É o tipo de música que, se você ouvir no rádio, com certeza vai saber de quem é. No entanto, o motivo desse post e o que vai te deixar apaixonado por eles não é (só) o som, e sim as letras e todas as surpresas que elas trazem.

Quer descobrir do que eu estou falando? Dá uma olhadinha:

Para começar, vamos falar do single e da minha música preferida: “Breezeblocks” tem um clipe sensacional que vai te tirar o fôlego e fazer dar replay muitas vezes. Além disso, o grupo fez alusão ao livro infantil de Maurice Sendak, Onde Vivem os Monstros, na parte final da música.



“Please don’t go. I’ll eat you whole. I love you so. I love you so, I love you so”

No livro de Maurice, Max é um menino desobediente que, após brigar com a mãe, vai para uma terra habitada por monstros que o declaram rei. Mas com o passar do tempo, Max sente falta da família e decide voltar. É quando os monstros dizem para ele não ir embora e que o comeriam. De acordo com a banda, o tema trata de um amor obssessivo, onde você é capaz de machucar quem você gosta para ela não fugir. Tudo a ver com o clipe e com a frase!


Em “Fitzpleasure”, não só a música é forte como todo o simbolismo por trás dela. Há muita coisa envolvida. Ela foi inspirada no livro de Hubert Selby Jr., Last Exit to Brooklyn, de 1964. A obra tornou-se um clássico pelo retrato da vida no Brooklyn e pela franqueza ao abordar assuntos como drogas, violência, estupros, homossexualidade e travestismo. O livro é dividido em seis partes, cada uma com um conto diferente. A que inspirou Alt-J foi “Tralala”, onde retrata a vida de uma prostituta que leva o nome da história.

Tralala é uma jovem que vive se prostituindo e roubando em bares de marinheiros e, em uma das cenas mais marcantes do livro, Tralala acaba sendo estuprada por uma gangue, que usa uma vassoura (broom, em inglês), depois de uma noite de bebedeira.

“Tralala, in your snatch fits pleasure, broom-shaped pleasure”

O vocalista da banda, Joe Newman, disse que, apesar de ser uma cena horrível, é muito bem escrita, forte e tocante, e por isso valeria a pena usá-la em sua canção.



A música “Matilda” é basicamente baseada na personagem de Natalie Portman, quando ela tinha 12 anos, no suspense O Profissional, de Luc Besson. A trama conta a história de Mathilda, uma menina de onze anos que convence um assassino, Léon (Jean Reno), a ensiná-la suas habilidades, para que ela possa vingar a morte do irmão. No começo da música, a banda também faz uma homenagem ao cantor Johnny Flynn, em referência à música “The Wrote And The Writ”.

“Just like Johnny Flynn said, ‘the breath I’ve taken and the one I must’ to go on”

Joe Newman disse que Léon teve um grande efeito nele e que Mathilda era uma personagem excelente.



Agora, para os leitores que chegaram até o final (quase), a música que vai te fazer chorar: “Taro”!

Antes de mais nada, é importante escutar a canção e ler a letra antes. 



Já no começo da música, Alt-J nos apresenta o renomado fotógrafo de guerra Robert Capa, que cobriu diversos conflitos, inclusive a Primeira Guerra da Indochina.

“Indochina, Capa jumps Jeep, two feet creep up the road
To photo, to record meat lumps and war
They advance as does his chance, very yellow white flash
A violent wrench grips mass, rips light, tears limbs like rags”

E aqui começa um pouquinho de história: Capa, que era judeu, começou sua carreira em 1931, em Berlim. Mas em 1932, teve que fugir do país, por causa do nazismo (Robert Capa era o pseudônimo de Endre Ernő Friedmann). Após se mudar para Viena e, em seguida, para Paris, Capa conheceu sua companheira, Gerda Taro, que também era fotógrafa.


Juntos, o casal seguiu para a Espanha, em 1936, para acompanhar a Guerra Civil Espanhola, e foi então que o carro que Gerda dirigia durante o conflito foi acidentalmente atropelado por um tanque de guerra.

“Mine is a watery pit
Painless with immense distance
From medic from colleague, friend, enemy, foe
Him five yards from his leg, from you, Taro”

Mesmo depois de sua perda, Capa continuou a fotografar vários outros conflitos. Em 1954, na Guerra da Indochina, Capa pisou em uma mina e morreu, se juntando a Taro.

“3:10 pm, Capa pends death, quivers, last rattles, last chokes
All colors and cares glaze to gray, shriveled and stricken to dots
Left hand grasps what the body grasps not, le photographe est mort
3.1415 alive no longer my amour, faded for home May of ’54
Doors open like arms my love, painless with a great closeness
To Capa, to Capa, Capa dark after nothing, re-united with his leg, and with you, Taro”

Por último, de acordo com o vocalista da banda, a música retrata os dois segundos anteriores e póstumos ao acidente com Capa, narrando exatamente sua chegada, caminhada, acidente e morte.




Mesmo quem não goste do som de Alt-J deve, pelo menos, respeitá-los pelo trabalho incrível da banda, que encheu de presentes seu primeiro CD. Alguém duvida que os próximos sejam tão bons ou até melhores? Embarque em An Awesome Wave e sinta que o nome faz jus ao trabalho!



P.S.: Texto originalmente publicado em Mundo Blá! por Laura Dourado.

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