domingo, 10 de outubro de 2010

Praia da esperança



Era um dia bonito. O vento fazia as folhas das palmeiras dançarem produzindo uma gostosa canção em nossos ouvidos. O sol esquentava e a as ondas refrescavam aquela dezena de pézinhos sentadas na beira do mar. Ninguém falava nada. Todos com os olhos atentos naquele que deslizava em sua prancha dentro da mar. Ele era o melhor. Suas manobras eram as melhores. Inquestionáveis. O pequeno grupo se reunia todos os dias quando ele chegava. Uma palavra ou outra. As vezes um levantava para pegar uma água de cocô, ou comentava com o garoto ao lado aquela nova manobra.

Havia dias que ele ficava menos de duas horas no mar e mesmo em dias em que beirava 5 horas, a cena não se alterava muito. Depois que ele saia do mar, tudo se transforma. Uns iam  para dentro do mar, outros jogavam bola e sempre tinha um garoto que o acompanhava ao fim. Queria conversar com ele. Na maioria das vezes, passava tanto tempo com ele que não conseguia entrar na água para arriscar suas manobras. Ele era o mais franzino do grupo e sem treinar, seus amigos realmente não acreditavam que ele pudesse ser bom.

Os anos passaram-se e nosso herói marítimo se aposentou. A maioria dos pequenos garotos haviam tornado-se já adultos. Estavam entre 18 e 21 anos e logo apareceu um outro surfista que se destacava. Embora ele fosse realmente muito bom, todos comentavam que ele não chegava perto de seu antecessor. Na frente deles no entanto, ele era realmente muito bom. O grupo não passava mais horas vendo o novo dono do mar. Estavam ali lado a lado dele e quando saiam do mar ficavam discutindo manobras. Menos ele que ia na cabana do herói.

No grupo falava-se também que se nem o novo dono do mar era capaz de vencer o herói, ninguém jamais poderia fazer isso. Mais uns anos se passaram e de fato nenhum deles conseguia chegar perto do dono do mar. O franzino rapaz acabou sendo de fato o mais magro na frente dos outros e com o passar de uns dois ou três anos, alguns começaram a desistir. Três deles pararam por total e tirando mais uns dois ou três, o restante parecia ter o seu nível cada vez mais baixo. Finalmente o franzino chamava a atenção deslizando suas ondas e todos os outros diziam que era por que todos estavam parando ou desistindo. Sobrava apenas ele. Todos riam dele. Ele também ria de seus amigos e voltava para a cabana do herói...

Final do circuito mundial de surf. Na bateria final o dono do mar e a surpresa do campeonato. Todos estavam impressionados com a surpresa, mas sabiam que a vitória seria do dono do mar. Todos, menos duas pessoas...

45 minutos depois e 3 ondas para cada um dos concorrentes e ninguém podia acreditar no que havia acontecido dentro daquele mar. As melhores ondas surfadas em todos os tempos. As notas finalmente superavam as notas do herói. Incrédulos, todos ovacionavam a surpresa do campeonato e finalmente ele chega ao pódio para receber o troféu do melhor de todos os tempos. O herói se aproxima dele com os olhos marejados de lágrimas e entrega-lhe o troféu. Com microfone em mãos pergunta-lhe:

– Conte-nos franzino indomável como conseguiu fazer isso.
– Todos os dias quando eu ia em sua cabana, você me incentivava dizendo que enquanto eu tivesse esperança, poderia chegar onde quisesse...

Enquanto se abraçam com lágrimas correndo-lhes a face, seus amigos, o dono do mar e todos os outros aplaudiam o Franzino Indomável...

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