Era uma tarde chuvosa. Aquela canção produzida pela água que caia deveria conter algum sonífero e sentiu-se completamente desencorajado em deixar a cama. Viu por algum tempo os pingos de chuva na janela e os desenhos abstratos que elas proporcionavam, mas aos poucos, seus olhos cederam.
Acordou de um grande susto com uma onda brandamente tocando-lhe o corpo na beira da praia. Não que seu susto tivesse passado, mas ter uma garota ajoelhada diante de si com água de coco para ele beber era ao menos mais reconfortante do que estar ali perdido. Seus olhos verdes penetraram-lhe a alma com mistério e doçura. Ela estendia o braço com a fruta para ele sem que tirasse os olhos dele. A boca era tão sutilmente arqueada que ele não sabia se ela internamente sorria. Percebeu então que estava com a garganta ressecada. Poderia ter passado horas deitado naquele sol. Também sem tirar os olhos dela. Olhava seus cabelos pretos cortados acima dos ombros sendo embalados pela brisa do mar. Suas mechas pareciam dançar com as folhas das palmeiras que estavam cerca de 20 metros ao fundo. Uma pintinha próxima à boca conferia-lhe um charme todo especial, mas ela começou a causar um certo desconforto quando ao descer pouquíssimos centímetros encontra uma boca que parecia ter sido esculpida. No imediato milésimo de segundo em que tomou a última gota, encontra já seu braço estendido como quem já soubesse que ele havia terminado. Ele perguntou-se se haveria sido coincidência ou ela simplesmente sabia. Ela se levantou e ele simplesmente sabia que devia segui-la. De pé, notou que ela passava pouco de 1,60 m de altura. Tinha a parte superior do biquíni que mostrava um bronzeado de quem já estivesse ali por dias e uma canga lilás, com umas listras não simétricas. Terminava com uma espécie de franjinha que roçava-lhe as panturrilhas. Em silêncio ele sentia-se apenas feliz e seguro. Quando enfim chegaram debaixo de uma artesanal barraca com folhas de palmeiras, ela se virou para ele e embora ele notasse que ela parecia ter envelhecido alguns anos da beira da praia até ali, notou-a mais bela ainda e com certeza ele teve o melhor almoço de sua vida e não acha que foi pelos pratos servidos apenas, mas pela presença daquela misteriosa garota. Depois de comerem, ela andou com ele até uma rede que estava armada entre duas árvores e cochilaram juntos. ela deitada sobre seu peito com uma mão delicada sobre suas costelas e ele deliciando-se com o aroma daqueles cabelos. Ao acordar, percebeu que sua mão parecia diferente e já sem espanto e sim com serenidade e alegria por tê-la ao seu lado, percebeu que ela aparentava ter quase 30 anos. Parecia ainda mais bela. Era a mais bela de todas. Brincaram na praia, correram, rolaram na areia, nadaram juntos até que notou-a um pouco mais envelhecida, mas formosa. O sol começou a se por e voltaram para a mesma tenda. Um jantar sublime estava posto sobre a mesa e ele não conseguia tirar os olhos dela enquanto comia. Uma face serena e confiante, embora agora fosse possível notar uns cabelos brancos. A mesma rede e a mão dela agora estava em sua face e havia um pequeno lençol de seda que envolvia-lhes dando a sensação que ali dentro estava o mundo. Foi o sono mais confortável e revigorante que alguém poderia ter.
Não ficou surpreso ao notar que ela aparentava uns 70 anos. O desjejum de frutas tropicais pareceu ser feito sob medida para o vigor físico que tiveram na praia algum tempo depois. Apostaram corrida, brincaram na água, na areia ou mesmo subindo em algumas árvores. Finalmente deitaram-se na praia. Ele repousou a cabeça em sua coxa e sentiu um cansaço lhe abraçar. Ele sabia que era hora de partir. Finalmente resolve perguntar o nome dela e antes que ele abrisse a boca ela responde – Juju. Seus olhos pesaram e ele adormece.
Foto retirada da internet
O despertador toca. E ele tocava apenas para o acordar quando ele adormecia no fim da tarde e acordava no limite do horário. Não que estivesse atrasado, mas teve que levantar correndo, tomar banho e sair para a faculdade. A chuva havia na verdade apertado e como o ponto de ônibus era em frente, esperou da porta de sua casa para ficar abrigado no toldo, mas finalmente o coletivo chega e ele corre para debaixo do abrigo do ponto. Uma garota surge correndo de outra direção e não ouve como evitar uma leve colisão. Embora leve, o suficiente para derrubar os livros de ambos que se abaixam para os pegar. Sentiu uma taquicardia disparar dentro de seu peito quando viu aquele rosto, aquela cabelo, aquela pintinha sobre uma boca que sorria meio envergonhada pelo que estava acontecendo, mas pensando rápido. disse que ela devia dar sinal ao ônibus enquanto ele pegava tudo. Naquela chuva, demorar 5 segundos a mais poderia ser o suficiente para que o motorista não os visse agachados e perdessem o ônibus. Quando o transporte para, ele está dividindo os livros de um e de outro ainda. Ela os pega na hora em que pousava o primeiro pé na escada. Ele atrás entrega-lhe os livros para o mesmo sorriso. Ele então pergunta algo do qual acredita saber a resposta:
- Qual seu nome?
- Juju…
Não consegui parar de ler.
ResponderExcluirBelíssima escrita, belíssimos você e a Juju.
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