Foto: Ivan Silva
O evento? Copa do mundo. Ibope garantido. O jogo? Irã x Bósnia-Herzegovina. Certamente um jogo que não será lembrado já no final do ano. Última rodada começando com a Argentina com 6 pontos, Nigéria 2 e os dois times em questão com apenas 1. Ambos empataram com a Nigéria que decepcionou no mundial.
– O Josimar está realmente interessado nesse jogo.
– Eu diria que mais do que os do Brasil.
– Mas que interesse se pode ter nesse jogo? Ambos já estão eliminados. Estão apenas cumprindo tabela.
– Lembra do Josué? O filho dele?
– Sim, claro. Fazia Ed. física.
– Pois é, ele é um dos bandeirinhas do jogo.
– Que légal isso. Ele deve estar muito orgulhoso.
– Acho que deve sim estar, mas está 1 x 0 para a Bósnia com um gol ligeiramente impedido não assinalado por ele.
– Hum… entendi…
Fim do primeiro tempo e Josimar sente-se aliviado por que todos os comentaristas falam que foi por poucos centímetros e muito rápido o lance. Um erro completamente normal. A questão que atormentava Josimar era como classificar erros "completamente normais" para os "completamente anormais". Haveria os só "normais"? "Minimamente normais"? " Erroneamente normais"? Ele por hora sentia apenas "aflitivamente anormal se passando por normal". Restava-lhe torcer pela virada do Irã para que ficasse "despercebidamente normal".
Pressão do Irã desde o começo da segunda etapa. O goleiro bósnio já havia feito duas defesas consideráveis no segundo tempo quando aos 18 minutos acontece a penalidade para os iranianos. Josimar já não disfarça mais sua torcida pelo Irã e vai se levantando praticamente junto com o cobrador do pênalti. Se sua torcida não era mais disfarçada, menos ainda a frustração quando vê a bola raspar a trave direita do goleiro que sequer chegou perto. Numa tentativa de adivinhar onde o cobrador colocaria, ele escolhe o outro lado. Não sairia nem na foto. A questão é que o jogo era bem morno. Dois países sem a menor tradição no futebol, jogando distantes de suas torcidas. Parecia que o público dali estava muito mais pelo evento em si do que pelo jogo. Para Josimar não. Era um jogo importantíssimo. O mais importante que ele já havia visto na vida na verdade. Fez questão de saber do outro jogo. 1 x 0 Nigéria e assim, ela fazia 5 pontos. Não alterava em nada o resultado do jogo. Passariam Argentina e Nigéria e o erro seria esquecido.
Jogo esquenta. Mesmo com um jogador expulso, os asiáticos pressionam os europeus. O goleiro continua pegando tudo. O Irã desperdiça chance atrás de chance. O centro-avante iraniano perde um gol feito dentro da pequena área. Duas bolas mandadas na trave, mas Josimar começa a relaxar com o todo. Ninguém sequer comenta o erro de Josué. A Nigéria que não ganhou de ninguém até agora aprontando uma zebra para cima da Argentina e minimizando o erro de seu filho. Com tanta pressão e um jogador a menos, começam a sentir o cansaço e o jogo fica meio morno. A Bósnia-Herzegovina até começa a sair para o jogo. Já são 5 minutos em que não sofrem mais pressão. Pelo contrário, passam a imprimir pressão pelo vigor físico e um homem a mais.
42 minutos do segundo tempo. Não parece mais um jogo de futebol e sim uma batalha medieval quando o centro-avante se redime do erro e recebe uma bola em lançamento em um contra-ataque. Ele que de bate pronto afunda para dentro das redes recebeu um lançamento em profundidade e embora tivesse cerca de um metro e meio de desvantagem do zagueiro, chegou na frente e empurrou para o fundo. O estádio inteiro comemora o gol pelo fator Davi-Golias. Josimar então, gritou como se fosse um gol seu, mas algo em campo aconteceu. Jogadores Iranianos se revoltam. Confusão, cercam juiz, depois correm para cima do bandeirinha. Aquele mesmo batizado Josué. O erro foi tão bisonho que ninguém entendia direito. O técnico do time persa, assim como outros dois jogadores fora expulsos. Agora eram 11 contra 8 e o replay mostrava claramente que o centro-avante tinha cerca de metro e meio de desvantagem quando o lançamento foi feito. Erro grotesco diziam os comentaristas. Os amigos de Josimar preferiram ficar calados.
Fim de jogo e a tv passa a transmitir o fim de Argentina 0 x 1 Nigéria.
– Meu Deus, meu filho errou nos dois gol, sendo que esse foi inacreditável. Irã deveria sair de campo vencedor.
– Cara, isso não muda nada. Argentina 6 pontos, Nigéria 5, Bósnia 4 e Irã 1….
Relógio de aproximando de 49 do segundo tempo. Falta na entrada da área. Messi. Sempre ele para decidir o jogo bate uma falta com perfeição. O goleiro nigeriano feito uma águia voa e coloca para escanteio. O jogador mais próximo vai cobrar. Meio minuto basta para a Nigéria se classificar. A bola é alçada na área e Agüero afunda de cabeça para desespero dos africanos que voltam a levar um empate. Terminam a primeira fase da copa com 3 pontos. A tv volta ao estádio da Fonte Nova na Bahia. Bósnia com 4 pontos se classifica, os jogadores comemoram como se fossem campeões do mundo enquanto vários iranianos são mostrados desolados ao chão. Josimar faz as contas. Aquelas que todos devem ter feito mas que ninguém teve coragem de comentar. Sem os dois erros de Josué, Irã 1 x 0 Bósnia-Herzegovina…