Crédito: exit 1979/Flckr Commons
Quando certa manhã Michael Schumacher acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num torcedor fervoroso. O médico cutucou a enfermeira e percebeu as primeiras tremulações das pálpebras. Com a garganta dolorida, Schumacher não mirou ninguém, mas ouviu-se a sua voz: “A Copa já começou?”. A enfermeira abriu um sorriso e deixou uma lágrima escorrer. O médico ordenou que ligassem para os familiares imediatamente. Um repórter na frente do hospital percebeu o corre-corre e concluiu que algo de novo enfim acontecera. Uma movimentação intensa se formou na porta do quarto, como os minutos que antecedem a abertura das catracas. A enfermeira não arredou pé e contou a Schumacher que a Alemanha estreava justamente naquela segunda-feira. “Contra os portugueses, Michael”. “Venci lá em 1993. Com a Benetton”, lembrou. Alguém ligou a TV e buscava um canal que passasse os gols da Copa. “Michael, você acordou na hora certa. Essa Copa está incrível”, disse outro neurologista sem qualquer ligação com o paciente, mas que se sentiu na obrigação de estar lá. Surgiram os gols, a vitória do Brasil, a façanha da Costa Rica, o duelo clássico entre Itália e Inglaterra, a festa da torcida argentina no Maracanã. A enfermeira puxou um iPad e mostrou Schweinsteiger e Neuer cantando o hino do Bahia. Schumacher já se remexia na cama, incomodado, como se estivesse num cockpit fora do seu tamanho. A família chegou e começaram os preparativos para deixar o hospital em Grenoble. Schumacher pediu para rever o vídeo dos jogadores com a torcida baiana. Gargalhou, dessa vez. A garganta não doía mais. A enfermeira avisou que já estava tudo pronto para a partida. Quase seis meses depois, o campeão da Fórmula 1 estava novamente acordado. O médico, ainda com um semblante atônito, se aproximou da beira da cama e perguntou a Michael Schumacher o que ele estava sentindo. “Sinto que venceremos”. E assim começou a jornada da Alemanha na Copa do Mundo.
Esse é um texto de ficção, após a informação oficial de que o ex-piloto Michael Schumacher havia deixado o coma.
P.S.: Havia acabado de postar que não sou fã de Schumacher como desportista, mas que do ponto de vista do ser humano, sua saída do coma era a melhor notícia do dia e me aparece Fábio Chiorino com esta maravilha em cima do fato exatamente no dia em que Michael Schumacher sai do coma e a Alemanha estrearia na copa do mundo. Pitadas Kafkanianas e aí está. Fábio Chiorino é jornalista esportivo.
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