quarta-feira, 7 de abril de 2010

Uma chuva cai

96 luas depois, ela surge. Necessárias outras tantas para que vossos corpos se aproximassem. No entanto, não era chegada a hora. Vagando pela imensidão do cosmos, houve mesmo um momento em que teve-se a certeza que não haveria um momento. Direcionaram-se cada vez mais distante e resignar-se era o que lhes restavam. Porém por 144 meses, em todas as noites no exato momento em que o hoje virava ontem, ele saia voando de seu quarto. Fizesse frio ou calor, chovesse ou nevasse. Ele simplesmente plainava pelos ares e sabia que todas as almas dançavam freneticamente naquele ritual, gerando um continuo som no universo. O som do universo.

Durante os 144 meses, esse era o ritual que havia de ser feito, mas por mais que ele desejasse, por melhor que se sentisse ao fazer, tinha um sentimento nostálgico que parecia lhe sorrir com desdém a cada solitária volta, até  que um dia eles se avistaram novamente e tudo ficou em câmera lenta.



                                                            OM


Ele percebeu que daquela forma levaria minutos para encontrar aquele corpo e pela primeira vez conseguia identificar formas e rostos dos outros vultos e permitiu-se observar por alguns minutos. Deu-se conta e buscou visualmente sua utopia. Para seu espanto, parecia em nada ter avançado. Soube que aquilo poderia durar horas e pensou em tudo o que acontecera até chegar ali e as horas foram acumulando-se uma após outras e foram se transformando em dia, em dias e ele entediou-se uma certa hora. Pensou que estava preso nessa nova dimensão por toda a eternidade e notou que os milhares de corpos celestes que vagavam à sua volta, modificavam-se e mesmo as montanhas ao longe transformavam-se em vales ou campos, fazendo-o deduzir que o frenesi para todo o restante continuava. Apenas ele e ela estavam em transe.

Não saberia precisar se foi ao terceiro ou quarto dia que se aproximaram de tal forma que houve a certeza em que se encontrariam e a ansiedade fazia-se maior. Os braços de ambos esticam-se em vão sem poderem se tocar. Som algum podia ser emitido e aguardar era o que lhes restava. Notou-a vestida apenas com uma leve roupa transparente e sentiu vergonha por ela, mas ao olhar-se viu que possuia a mesma vestimenta como uma toga romana. Igualmente transparente e não houve vergonhas ou pudores dali em diante. Uma chuva cai trazendo seus corpos ao ritmo convencional...




  

2 comentários:

  1. Texto MARAVILHOSO! Não me canso de ler! Mas isso eu já lhe disse... Rsrsrs

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  2. Ainda muitas luas de espera.
    Não seriam então 96 luas 144 meses, Me peguei a pensar sobre tal pergunta no meio de um programa de televisão, não o predileto, mas a ânsia de tê-lo por perto esquecia a realidade e as razões de não gostar de futebol e de ser impossível encontrá-lo em meio a uma nação palmeirense, mas era o que me restava diante de não saber mais findar as noites sem a sua imagem na minha tela.
    Em meio a obrigações, lembrança de um tempo em que era fácil está perto de ti, fitar teu sorriso. Difícil mesmo era saber que não poderia ser meu naquele momento.
    Enquanto naqueles dias as únicas preocupações que tinha eram os meios de me fazer perceber por você, fazer o tempo andar correndo e poder revelar ao teu olhar não mais a menina que a ti devotava muitos sorrisos e finalmente colocar-me diante de ti como a mulher que hoje o reencontra.
    Foram necessários, muitos anos, muitas buscas por seu olhar para poder esta hoje diante dele, Muitas luas, meses, anos, pessoas, decepções, e houve momentos em que este dia não parecia ser possível, Hoje as questões que me cercam são muitas, uma realidade diferente da menina de alguns anos, trabalho, filhos, novas expectativas, uma vida inteira, mas a maior questão está em; Será que te reencontrei e então me reeapaixonei? Ou será que estive apaixonada por você a vida inteira?
    Foi necessário nós perder para me encontrar, Descobrir que por onde passei eram só caminhos que precisava percorrer para chegar ao teus olhos e te mostrar as tantas razões de não ter deixado de te procurar, te provar que as expectativas mesmo que lutemos para não cultivar só aumentam e que cada minuto passado com você é único, mesmo não podendo tocar, sentir.
    Aprendi que o sentir vai bem mais além do toque, que o que espero já tenho aqui comigo, que mesmo não havendo mais palavras para falar o silêncio me faz ouvir o barulho que a tua presença faz na minha vida, mesmo quando não escuto o som da tua voz a dizer que me quer.
    A menina hoje ainda se revela ao menor sinal da tua presença, ainda explode em sensações dentro de mim, o mesmo coração disparado, a mesma troca de palavras, as mesmas borboletas ainda voam na minha barriga, ao ver teus olhos a me fitar a espera que pra ti seja revelada a mulher que permanece a esperar a fazer valer cada suspiro da menina.
    Algumas luas ainda irão nascer, muitos dias serão iluminados pelo sol, muita chuva ainda molhara meu rosto e o vento secara as lágrimas da espera por ter realizado meu eu em você, minha espera por você.

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