domingo, 1 de agosto de 2010

Caleidoscópio XV

Sentia-se mal. O velho processo parecia fazer com que recobrasse a consciência um pouco mais rápido. Era como se a sua mente se adaptasse ao salto. Mesmo assim, algumas poucas paradas após a faculdade de onde deveria ter ficado. Isso significava que uma andada extra de 20 minutos faria com que ele chegasse atrasado para a aula e resolveu comer numa lanchonete. Ainda que o processo fosse um pouco mais rápido agora, lembrou que estava se urinando quando saltou, mas não tinha vontade agora. Achou lógico. Aquela vontade não existia ali "naquele tempo" ainda. O que o fez pensar foi que ele se recordava agora que um dia havia perdido o ponto de descida e parado ali para comer. Na sua cabeça, ele havia cochilado dentro do ônibus. 

Comeu mais rápido do que a saúde pede e acelerou para a aula. O que o deixou confuso foi a consciência de que agora sim conhecia Luciana, ainda que virtualmente, mas nada estava claro em sua mente quanto a ela. Essa falta de consciência na verdade fez com que ele vivesse normalmente e tinha apenas a impressão de que algo com ela era importante. Dias normais, aulas normais, e inclusive uma quase normal sensação com Luciana. Pra ser sincero, não havia nada demais. Apenas a sensação de algo importante os ligava. 

Alguns dias sem saltos e se vivia ainda a euforia de um Brasil penta, não só sabia (ou começou a ter a sensação) de que o Brasil não ganhava 2006 e que passava ao menos a fase inicial da copa de 2010.

Os e-mails trocados com Luciana que havia conhecido numa sala de bate-papo começaram a inquietar-lhe, assim como a certeza que algumas memórias de sua cabeça se apagavam por completo quando se aproximava de tal data. Como não lembrar do aniversário de sua mãe na semana que vem, quando um tio que morava na Hungria estaria presente depois de 7 anos? Uma semana depois, principalmente ao ver seu primo bater violentamente a cabeça e precisar de gelo e a constatação de que havia um lapso em sua memória, mas enfim, resolveu marcar com Luciana de a encontrar e finalmente conhecer essa garota.

O inesperado no entanto fez-se presente. Era um sábado e foi ao museu para ver uma exposição que se encerrava naquele dia. Depois foi ver um jogo de seu time. Era ainda 28º do 2º tempo quando ela liga dizendo que estava nos bares da Vila Madalena, ou seja, perto de sua casa chamando-o para ir lá. De cara, ficou de ligar mais tarde apenas para dizer que não iria naquele momento, mas voltando para casa pensou que sempre se desmarcava por algum motivo. Era ir agora ou poderia perder a chance.

Foi o mais rápido que pode para casa e conseguiu o carro de seu pai emprestado, mas não contava com uma noite em que achou mal sucedida por alguns aspectos. De cara, parou em um mercado para comprar um refrigerante e ao voltar, o vidro do motorista estava quebrado.



Haviam tentado roubar algo, mas não havendo nada no carro, foram embora. Isso estressou-o. Ao chegar no local, Luciana estava com 2 amigas e ele sentiu-se deslocado. Achou que ela poderia ser um pouquinho mais baixa, afinal, com o salto, passava da altura dele. Fora pego de surpresa para um encontro onde chegou cansado depois de uma ida ao museu e um jogo, estressado com o vidro e sabendo que teria que resolver isso com o pai, desconfortável com as amigas de Luciana e apesar dos pesares, ficaram e ele ainda foi deixá-la em casa. Não havia sido a noite perfeita, mas enfim, estavam juntos.



Continua...

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