domingo, 26 de setembro de 2010

Setembro verde


Em um possível futuro não muito distante.



As crianças reúniram-se para o ouvir falar. Ele está sentado abaixo de uma grande estrutura de concreto e aponta para vários objetos metálicos retorcidos por todo o lado.

— Tudo começou quando esses seres caminhavam por todos os lados, inclusive lá em cima do caminho cinza. Eles eram muitos e não paravam de se multiplicar. Nessa época, poderíamos ter mudados as coisas. Achávamos que era legal ter a presença deles e por isso fazíamos mais e mais caminhos cinzas. Eles não gostavam do verde, tinham dificuldade de andar na terra e a água era capaz de danificar o seu funcionamento. Ingenuamente começamos a ajudar eles em virtude de que precisavam de nosso auxílio para nascerem. Achávamos que a natureza sempre renasceria, mas houve um momento em que notou-se que os seres metálicos, ao caminhos cinzas e tudo o que precisava de nossa ajuda para crescer, começou a tomar conta. Ainda era possível reverter as coisas, mas eles traziam status e poder para quem os ajudava e o ser humano sucumbiu frente essa armadilha.

A natureza clamava e embora mesmo quando uma folha caia no chão, voltava a fertilizar o terreno para tudo renascer, não era assim com os seres metálicos, todo o concreto e todas as outras coisas que foram surgindo como o plástico, o vidro e dezenas desses outros objetos que formavam o que eles chamavam de Lixões. Embora se assemelham com as antigas montanhas, eles eram o retrato da morte.

Ainda no começo desse século, comemoraram o Setembro Verde que era uma data onde apesar de toda a barbárie sofrida pela natureza, ela dava mostras de sua persistência. Apesar dessa força, a destruição que acompanhava os inanimados era maior e ali — apontando para um fétido e lodoso caldo escorrendo por uma vala — um dia um belo rio existiu. Havia peixes, havia vida, mas tudo foi se dizimando.

Apesar de uma luta completamente desigual, houve um momento em que tivemos a natureza como morta, As cores pareceram morrer juntas. Temos esse mundo com variações de cinza apenas. Um resquício do que era as cores resta apenas nos seres metálicos retorcidos aqui e ali, ou em algum vidro colorido que chega a ser bonito hoje frente esse mundo monocromático que habitamos.

Lentamente ele se afasta e entra em um dos espaços acinzentados que antes refugiavam os homens. As crianças aguardam paciente e ansiosamente. 

Ele resurge com a vida brotando em suas mãos. Um pequeno vaso com uma planta verde  e pequenas flores vermelhas que atrae todos os olhares. Embora as crianças continuem sentadas, seus olhinhos se arregalam e brilham. Suas colunas e cabeças parecem querer ganhar um centímetro que seja para acompanhar aquela beleza nas mãos dele. Um certo ruído de euforia incontida pode ser ouvida, mas nada tira a atenção delas. Os poucos segundos até que ele se aproxime deles e se agache na frente delas parece horas.

Crianças, apresento-vos SETEMBRO VERDE!

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