domingo, 23 de maio de 2010

Caleidoscópio II

Por Demétrius Carvalho

Desacelerando o ritmo e buscando controlar a respiração, parou em um quiosque que vendia sorvete e pediu um. Sentou-se e ficava se perguntando o que havia acontecido. Não tinha como ter imaginado. Havia conversado com o senhor, a atendente não teria ficado de olho nele, mas depois pensou como ele mesmo não encontrou o tal senhor quando tornou a olhar para onde ele estava? Resignado entendeu que havia sim imaginado algo que sonhou por tanto tempo.

Lentamente pagou o ticket do estacionamento e dirigiu-se ao seu carro. Sentou-se e deu uma respirada funda fechando os olhos, mas seu braço direito sentiu algo no bolso do casaco que inicialmente pensou tratar-se de seu celular, mas ao perceber que o formato era completamente diferente, sentiu uma certeza que não saberia dizer se foi milésimos de segundos antes ou depois da taquicardia que o atacou. Ali estava o caleidoscópio que era a certeza que tudo havia acontecido e então lembrou do papel que o senhor havia lhe dado. Procurou-o mas não o encontrou e voltou pelo caminho que veio e nem sinal do pergaminho. Na sorveteria ou na livraria, não houve resultado e a jovem atendente disse que ali tinha uns para vender. Ele pediu para olhar, mas nem de longe parecia com o que havia recebido e transtornado voltou mais acelerado que pode ao carro para não estrapolar o tempo do estacionamento pago e assim deixou o shopping ofegante e tão transtornado pela perda, que nem se lembrou do caleidoscópio que repousava no banco do passageiro no bolso do casaco.

Outra taquicardia. Lembrou do caleidoscópio e teve que conter-se até ficar em um semáforo vermelho. Pegou-o e instintivamente levou-o aos olhos acreditando que veria um caleidoscópio normal, mas viu-se em uma cena que nunca aconteceu. Girou um pouco mais e viu-se em outra cena, outra e mais outra. Nunca havia vivido nenhuma daquelas cenas e as buzinas atrás de si o trouxeram novamente para a realidade. Isso repetiu-se por mais 4 semáforos, mas nos 2 últimos ele ficava atento para não levar outra saraivada de buzinadas, mas enfim quando parou em sua garagem, teve muito tempo e nenhuma buzina na sua cola. Sempre uma nova cena que nunca houve e por fim, resolveu subir.

No elevador olhava novamente, mas lembrou-se do pergaminho. Sentiu que não faria falta. Tinha apenas um artefato que lhe dava cenas nunca vividas. Desceu do elevador, deu os passos necessários para chegar a sua porta e ao entrar em casa, viu no sofá da sala uma cena improvável: o pergaminho.





Continua...

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